quinta-feira, 21 de junho de 2012

Nem se deve recear que a consciência da fraternidade universal, fomentada pela doutrina cristã, e o sentimento que ela inspira, estejam em contraste com o amor às tradições e glórias da própria pátria, ou impeçam que se promovam a prosperidade e os interesses legítimos, porquanto essa mesma doutrina ensina que existe uma ordem estabelecida por Deus no exercício da caridade, segundo a qual se deve amar mais intensamente e auxiliar de preferência os que estão a nós unidos com vínculos especiais. E o divino Mestre deu também exemplo dessa preferência pela sua pátria, chorando sobre as ruínas da Cidade Santa. Mas o legítimo e justo amor à própria pátria não deve excluir a universalidade da caridade cristã que faz considerar também aos outros e a sua prosperidade, na luz pacificadora do amor.

S.S. Papa Pio XII in Encíclica Summi Pontificatus.

O Aristocrata

O Aristocrata pertence a uma classe, a uma raça, de servidores. Os seus privilégios, as suas garantias, vinham apenas da certeza de que cada homem-bom procurasse, acima de tudo, o bem do seu Rei e das instituições do seu Reino, das leis que o regiam e, acima de tudo, da Santa Igreja. Não usa esta mesma a sua própria aristocracia, escolhida entre o seu seio, para a reger? Não foi Jesus Cristo, o Ungido, nascido no seio da nobre Casa de David, escolhida por Deus para reger os destinos de Israel? É esta a fonte do dever do aristocrata. Servir. Obedecer, obedecer cegamente sem nunca desguarnecer o coração. É esta a beleza do nosso ideal. E relativizar este ideal à mera pureza de sangue, como se já tentou, é o maior crime contra esta instituição. Diferentemente de muitos nobres e brazonados da Causa Legitimista, o chefe do estado-maior do nosso último rei legítimo, Dom Miguel I, e seu fiel amigo, era um plebeu, que nunca faltou à lealdade perante o seu legítimo soberano. O Nobre, acima de tudo, não serve dois senhores, muito menos essa hidra de mil cabeças que é a República Democrática Portuguesa. Entre os nobilitados não se encontram apenas gerações de duzentos anos, mas também homens que se revelaram por serviços à sua pátria, pela sua lealdade e pela bondade com que praticaram suas acções. A destruição do ideal aristocrata deu-se a partir do momento em que a Aristocracia passou a ser sinónimo de progresso material. Nada obriga o aristocrata a ser rico, nem a riqueza é um critério sagrado para a reverência social (de acordo com o Catolicismo). Antes, o descendente de um homem valoroso recebia, dependendo dos actos deste e do julgamento da Monarquia, a recompensa devida, a mais bondosa herança - a sua posição social, o sagrado símbolo da Família. Hoje, a única coisa que se herda dos pais é o vil metal, e uma palmada nas costas, ou pior, uma medalha. Pobres dos que não se entregam à redutora procura do dinheiro, pois ganham o Céu, mas deixam os filhos na miséria, e com a pergunta na boca - não teria valido mais a pena colocar de lado os meus princípios, e deixar aos meus filhos aquilo que os outros deixam aos seus, para seu conforto e felicidade? 

 O Homem Nobre é o Homem Bom, que ama os que sofrem e não participa dos festejos dos vencedores. A história da Igreja é uma história de derrotas - os Miguelistas, os Carlistas, o Sonderbund, os Habsburgos, a destruição do Catolicismo no Norte da Europa, etc. No entanto, derrotados em vida, foram os vencedores, na mesma maneira d'Aquele que venceu na Morte. Antes como agora e sempre, a ressurreição da Igreja depende dos seus fiéis, dos que a servem e lhe são vassalos.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

RICK e DICK HOYT - A história de AMOR


Ao contrário daquilo que alguns filósofos têm vindo a pregar aos 4 ventos sobre a felicidade - que só se obtém através da negação de todas as regras morais e físicas (como se fosse possível), que o homem, para ser feliz, tem de voltar às suas origens, tem de deixar brilhar a sua natureza intrínseca e, como o Sr. Darwin um dia viu que nós somos macacos capazes de fazer foguetões, então o homem para ser feliz tem que se assemelhar o mais possível a um macaco - outros filósofos, ou outros homens com ideias, têm tentado explicar que para sermos felizes temos que fazer felizes os outros. Para sermos ricos temos que ter pouco. Para amarmos verdadeiramente alguém temos que sofrer. Este paradoxo aborrecido que, à primeira vista, contraria os nossos conceitos de felicidade, riqueza ou amor - pelos menos os conceitos egoístas - é, para qualquer pessoa, difícil de compreender. Por isso, como acredito que uma imagem/exemplo vale mais que um coro de filósofos na cátedra, junto a este pequeno texto um vídeo que não é mais que um testemunho. Não vou falar sobre o vídeo, porque também não sei mais sobre ele do que é possível visualizar. Vou só sugerir que aproveitem este exemplo e o apliquem a algum problema de saúde, financeiro, familiar ou profissional que tenham. Muitas vezes a solução não é fecharmo-nos e passar o dia a pensar no assunto e a lamentar-nos. O melhor, ainda que pareça, lá está, paradoxo, é sairmos de nós mesmos. Dar-nos aos outros, perdoar, levar um sorriso quando nos apetece estrangular alguém, viver com menos dinheiro e com mais alegria (é possível). E, quando pensarmos que somos uns heróis, então pensemos neste exemplo, e tenhamos vergonha da nossa soberba. Aproveitem!




quinta-feira, 7 de junho de 2012

A Escolástica e a Unidade da Fé

Mais importante é a posição dos nominalistas, já que foi deles que os reformadores do século XVI colheram a inspiração. Foi com o nominalismo que se pôs com toda a acuidade o chamado «problema dos universais». Para os escolásticos, ditos por isso «realistas», o universal é uma realidade em si, distinta dos indivíduos que concretamente o compõem: o Homem existe, ainda que tão somente em potência, para além de Sócrates, de Platão ou de qualquer outro homem individualmente considerado. Para Ockham apenas existem os indivíduos concretos; o termo universal que, por conveniência, os designa coletivamente é um mero sinal da pluralidade das coisas singulares, um puro nome – de onde a designação de nominalista dada à sua escola. Se não existem os universais, torna-se impossível conceber Deus como Sumo Bem, Suma Jus tiça, etc., já que tais termos mais não são que puros nomes; a teo logia racional torna-se na prática impossível e, como para os averroístas, a existência de Deus passa a ser objeto de mera fé: «não se pode saber com evidência que Deus é. Para os nominalistas (que assim, sem o saberem, reeditam o pensamento da escola muçulmana axarita, oficial entre os sunitas desde o época abácida), Deus aparece essencialmente como omnipotência e como vontade soberanamente livre. Na expressão ousada de Ockham, teria sido possível a Deus – que encarnou num homem, mas poderia ter encarnado num burro – criar um mundo em que o roubo, o adultério e o ódio fossem as virtudes, e seu inverso o pecado. Não existindo a priori nem Bem, nem Justiça, nem qualquer outra virtude, a vontade de Deus apenas pode ser conhecida através da Escritura, pela qual, no uso da sua omnipotência, se revelou. Assim se justifica filosoficamente ante litteram a teoria luterana da sola scriptura, que, em tempos mais recentes, seitas protestantes fundamentalistas – como as Testemunhas de Jeová – haviam de levar às últimas consequências, proscrevendo tudo quanto lhes parecia reminiscência pagã no seio do Cristianismo.

in Catolicismo e Multiculturalismo, Luís F. R. Thomaz, pag 411