domingo, 30 de janeiro de 2011

Regicídio de Luís XVI

Livrai-nos senhor dos regimes opressores. Ámen!

A Revolução Francesa renovou a perseguição cristã no Ocidente, no qual a última remontava para o tempo do Império Romano. De facto o livro no qual retirei o texto que se segue, e no qual ainda postarei outros, revela uma face negra de uma revolução que saiu limpa da história, o memorícidio termo que o autor usa e defende como crime contra a humanidade, descreve factos que são poucos conhecidos da dita revolução, e estão em origem directa com os genocídios que seriam cometidos pelos totalitarismo do século XX, em Auschwitz ou o Holodomor, também pouco conhecido.

O texto que segue fala do significado da monarquia Francesa e o regicídio.

O regicídio revolucionário não se reduz à exclusiva morte de um homem, mas ataca também a família, a família real, e, através deles, um regime, a monarquia de direito divino, um tipo de sociedade, a França Católica e monárquica do século XVIII, uma civilização, a civilização cristã de estilo Constantino e, em última análise, um princípio, a realeza sacerdotal de Cristo como pedra angular do edifício social e religioso do Ancien Régime. ... Donde procede, pois o regicídio? É necessário notar que a dinâmica não poderá reduzir-se a causas puramente materiais, socio-lógicas ou económicas. De facto, as condição de vida na França de 1789 são melhores que no passado, e quase idênticas às dos franceses sob a Restauração. Se aqui e acolá há crises e fome, elas por si sós não podem motivar mais do que revoltas, mas não revoluções - de tal modo o regime nessa época é sentido como legítimo. Conclui-se daí que é necessária uma dimensão espiritual e ideológica para catalizar o descontentamento e as ambições insatisfeitas e empurrar para uma mudança de regime e de civilização que, à partida não é desejada por ninguém. Pode-se assim opor, como o fizeram numerosos autores por exemplo Michelet, o espírito da Revolução ao espírito do Cristianismo, que se combatem numa nova guerra de religião - o espírito da Revolução, mantendo-se apesar das aparências tão religioso quanto o espírito do Cristianismo.. Neste contexto, a morte de Luís XVI já não aparece como um acontecimento histórico isolado, mas como um fenómeno emblemático da oposição de dois espíritos: um homem encarnando um determinado princípio é condenado e morto a fim de que este princípio não possa mais influenciar o desenrolar das questões humanas. É este princípio que importa agora descrever.
Na teologia política cristã tradicional, datando da época de constantiniana, qualquer soberania e qualquer legitimidade política vêm de Deus, e mais precisamente de Jesus Cristo, ao mesmo tempo rei e sacerdote, rei enquanto representando o seu povo junto do Pai, e sacerdote enquanto ofertando ao Pai o sei sacrifício perfeito, porque divino, em reparação dos pecados da humanidade decaída. Ora, os cristãos, pelo sacramento do baptismo, graças ao qual eles se «revestem» de Cristo (Gal 3,29), participam assim da realeza sacerdotal de Cristo; passa-se o mesmo, de maneira plena, com os sacerdotes e os bispos, por efeito de um sacramento especial, mas também com o reis e, muito particularmente, com o rei de França, que beneficiava, desde a sagração de Clóvis em Reims, de um unção que lembrava a dos antigos reis de Israel e fazia da França a filha primogénita da Igreja. Esta função fazia o rei o representante de Cristo sobre a Terra, pelo menos no que concernia aos assuntos temporais. Nesta qualidade, o rei era teoricamente independente em relação às leis, em virtude da máxima de Ulpiano: princeps legibus solutus est; mas mantinha-se ao mesmo tempo ligado às leis e aos costumes do reino, que a tradição jurídica designava por «constituição francesa», assim como à lei natural. A contradição era geralmente resolvida lembrando o exemplo de submissão voluntária de Cristo à lei, e fazendo do rei (ou do imperador) uma «lei viva» (lex animata). Além disso a monarquia francesa tinha igualmente a obrigação de respeitar costumes e privilégios..
Fazendo eco à cristologia Paulina, onde Cristo é o esposo e a cabeça da Igreja, a teologia e o direito consideravam o rei como o esposo da nação, o marido da República, já que esta era tradicionalmente simbolizada por uma figura feminina. Esta relação esponsal, concebida juridicamente como um contrato sinalagmático, impunha ao rei e à nação um determinado número de obrigações. De um modo mais geral, a relação entre o rei e os seus vassalos era concebida sobre um modelo familiar que o próprio Luís XVI reclamava para si mesmo, afirmando que «tudo o que o pai deve ao seus filhos, o irmão aos seus irmãos, o amigo ao seu amigo, o príncipe deve-o aos seus vassalos»; ou ainda: «o Rei, o pastor, o pai, é uma só e mesma coisa.» O rei devia-se aos seus vassalos e os vassalos deviam-se ao rei. Luís XVI escrevi assim: «Como nada os [meus povos] pode dispensar, quando eu for injusto ou tirano, de me serem submissos, se por seu lado todos eles violassem os seus deveres para comigo, nada me poderia subtrair à obrigação de cumprir os meus para com eles». Para o rei, isso podia ir precisamente até ao sacríficio. Assim, como escreveu um jurista da Idade Média, Aeneas Silvius:«O próprio príncipe, cabeça do corpo místico da respublica, é obrigado a sacrificar a sua vida cada vez que o bem comum o exige.» Do mesmo modo, Luís XVI, ás delegações dos guardas nacionais, em 13 de Julho de 1790, falando dos franceses:«Dizei-lhes que, se não posso deslocar-me convosco aos seus asilos, quero aí estar pela minha afeição e pelas leis protectoras do fraco velar por eles, viver para eles, morrer, se for preciso, por eles.» Luís XVI era, aliás dotado de um carácter profundamente bom, que infelizmente foi assemelhado à fraqueza; esse carácter tinha chamado especialmente a atenção de Benjamin Franklin quando conviveu com ele: «nenhum soberano que algum dia reinou teve, inegavelmente, mais bondade no seu coração nem possuiu em maior grau o leite da ternura humana que Luís XVI.» Esta qualidade parece de resto ter sido o apanágio da sua linhagem, pois lemos numa carta de John Adams a Thomas Jefferson em 1814: «O leite da ternura humana dos Bourbons confere mais segurança à humanidade do que a ambição desmedida de Napoleão.»
De uma maneira geral, o rei de França era a pedra angular de toda a ordem jurídica e social; era também obrigado, pela sua sagração, a ser o protector da Igreja. neste contexto, o regicídio - no sentido da destruição do princípio real - visava destruir o ele entre o rei e a república, e, por conseguinte entre Cristo - ou Igreja - e a França e, consequentemente, destruir toda uma civilização que a pouco e pouco desabrochara e se tinha expandido na Europa ocidental, até mesmo o próprio cristianismo. É, evidentemente, ao espírito da Revolução que se deve imputar o regicídio- Este espírito consiste numa visão do mundo profundamente secularizada, colocando como fundamento da soberania a natureza, em vez de uma divindade revelada. Ele inclui as Luzes newtonianas, mistura curiosa de cientismo e de esoterismo que se encontra na franco-maçonaria, as luzes francesas, que não são senão uma adaptação superficial destas últimas ao grande público francês, enxertando-as no jusnaturalismo descristianizado da oposição parlamentar da oposição parlamentar, prevalecente à época nos meios intelectuais.


Fonte: O Livro Negro da revolução Francesa DIR. Renaud Escande

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O Jacobismo entre a Liberdade e a Igualdade

Virai o vosso olhar para nós Senhor, Ámen!

A história da revolução cedeu sob o peso da sua própria história e o historiador «deve anunciar as suas cores». A análise liberal não foi retomada senão contra a análise social. Devemos nós ter de escolher entre liberdade e igualdade, entre Estado e sociedade: a confusão igualitária que se fundamenta sobre o paradoxo de uma dissolução da sociedade através da sua abstracção estadística (dentro do Estado) e a sua inscrição partidária (dentro dos partidos políticos); e a confusao liberal que se fundamenta sobre o paradoxo utilitarista de uma dissolução do estado através da particularização dos interesses sociais e a sua inscrição corporativista (com a produção de novos corpos intermediários privilegiados). Este duplo paradoxo, esta dupla confusão, constitui a mesma matriz jacobina de uma quantidade de tendências. Estrutura a sociedade em sindicatos e partidos e o debate público em programa e em reivindicação, em promessas e decepções. O jacobinismo é o mesmo plano de imanência que se constitui, portanto, em pluralismo ilusório. Aqueles que se defrontam ou debatem são as espécies de um mesmo género de jacobino fundado sobre a dissolução da diferença Estado-sociedade na inversão do conceito político na passagem do Bem comum (que é um fim) ao interesse geral (que é um meio), na instrumentalização do político pelo ideológico.
A revolução «jacobina» foi o mito de uma igualdade que se acreditou que, por meio da virtude generalizada, produziria a liberdade e sociedade e, ao querer uma realidade que as produziria a todas (as liberdades individuais e colectivas), ela celebrou o seu divórcio. O Comunismo considera que a felicidade social legitima uma tirania «de transição» e acaba por preferir a sua tirania à própria felicidade que se acredita que ela edifique; o liberalismo, pelo contrário, julga que a felicidade é mediatizada por uma liberdade de indiferença e também ele acaba por preferir o meio ao fim. Poderíamos dispensar um e outro, de costas uma para o outro, quando afinal eles só estiveram na história contemporânea face a face, e foi mesmo este face a face cínico que determinou os dois séculos que nos precedem. A Revolução estabeleceu as referências desta oposição que é a sua polaridade, o seu movimento dialéctico, a sua coincidentia oppositorum.
A liberdade do liberal é totalmente psicológica , não é historicamente mais do que uma vontade de poder e a sua desregulação esconde de facto a supressão de um direito protector dos mais fracos, é a sobrevivência de uma oligarquia adaptada ao jargão democrático. A sociedade comunista não é mais concreta, uma vez que ela se resume historicamente à instalação de um sistema carcerário generalizado. Entre a prisão e o direito do mais forte , o contemporâneo é esmagado: a tirania ou a oligarquia, ainda que ambas revestidas com o nome de democracia que elas conjuntamente reivindicam (liberal ou popular), são perigosíssimas regressões políticas, como se o homem, seguro da sua longa experiência, não tivesse sabido produzir mais do que regimes, certamente sofisticados quanto ao funcionamento, mas terrivelmente primitivos quanto ao principio.

Fonte: O Livro Negro da revolução Francesa DIR. Renaud Escande

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Os cortesão são cegos

Pela conversão dos Pecadores, Ámen!

Por João César das Neves


Vivemos numa sociedade oficialmente livre-pensadora, sem tabus, preconceitos ou dogmas. Estão criadas as condições para os tabus mais acéfalos, preconceitos mais avassaladores, dogmas mais totalitários, por não existir sequer a disposição para reconhecer essa possibilidade.

Um dos contos mais geniais da literatura revela onde pode chegar a cegueira ideológica. Publicado na colectânea medieval espanhola 'El Conde de Lucanor de 1335 (Enxemplo XXXII - de lo que contesció a un Rey con los burladores que ficieron el paño)', foi vulgarizado por Hans Christian Andersen como 'As Roupas Novas do Imperador (Kejserens nye Klæder)' em 1837. Os cortesãos, a quem foi dito que o tecido do traje do imperador é invisível a quem não é filho de seu pai, estão dispostos a exaltar a beleza das vestes, sem conseguirem admitir que o rei vai nu. Sintomaticamente, na versão de Andersen, quem não vê as roupas é estúpido ou incompetente, mas na Idade Média interessava mais a família que a competência.

Não faltam exemplos desta cegueira. Há anos assistiu-se à derrocada do glorioso paraíso colectivista da União Soviética que tantos louvaram acefalamente durante décadas. Antes desfizera-se o mito da supremacia da raça ariana. Mas a sociedade sem tabus tinha de ter uma obsessão ainda mais infantil. O nosso dogma é a equivalência entre os estilos de vida.

Todas as civilizações e culturas sempre souberam que a família, onde as gerações se unem e sucedem, amando-se, educando-se, sustentando-se, perdoando-se, constitui a base da sociedade. Sempre houve alternativas, avaliadas de forma diferente nas várias culturas, mas nenhuma as viu como semelhantes à célula vital. A cultura ocidental contemporânea é a primeira que tenta negar a evidência.

Começa logo por não ser possível sequer falar de família. Agora é "família tradicional", porque alegadamente há várias. E aqui o adjectivo é pejorativo. Depois um portentoso aparato mediático, filmes, televisão, revistas, livros, jornais, lança-se numa campanha de propaganda massiva a favor das alternativas, adultério, divórcio, promiscuidade, concubinato, perversão, deboche, etc. É tudo excelente.

A origem desta tese aberrante é compreensível. As gerações anteriores, defendendo ferozmente a família, costumavam desprezar quem vivia nessas alternativas. Isso é inaceitável, porque todos devem ser respeitados, qualquer que seja a sua opção. Mas uma coisa é respeitar as pessoas, outra é respeitar as opções. Aí surgiu o erro que gerou o actual tabu. Todos respeitamos e cuidamos dos doentes, mas ninguém acha que a doença é igual à saúde. Aliás, precisamente por estarem a sofrer, os doentes são ainda mais acarinhados que os demais, por viverem pior. As disfunções familiares são doenças sociais. Sem desprezar ou censurar os que as sofrem, deveriam ser acudidos e respeitados, trazendo-os à condição saudável.

Em vez disso assistimos a um delírio de argumentação que, partindo de um conceito distorcido de autonomia pessoal, exalta aquilo que traz infelicidade, miséria, desgraça. Porque, vale a pena lembrar, até em termos agregados são já visíveis os resultados desta atitude. Todos reconhecem que, naturalmente, a sociedade ocidental se encontra em decadência demográfica, política, social e moral. Porque defender a família é considerado conservador, e o contrário de conservador é destruidor.

Apesar disso as luminárias contemporâneas estão dispostos aos maiores malabarismos para sustentar o axioma de equivalência contra qualquer evidência. Trata--se de um tabu absoluto e indiscutível: cada um vive como quer e ninguém tem nada com isso. Hoje, discute-se e critica-se tudo, a todos os níveis, menos aquilo que na nossa vida é mais influente sobre todos.

Quando surgem as tragédias, inevitáveis em estilos de vida desviantes, aparecem logo alcateias de comentadores para assegurar que o sucedido nada tem a ver com a perversão ou a opção de género, porque coisas dessas acontecem em todo o lado. Como os cortesãos de Andersen, nem se dão conta do seu ridículo.

naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

sábado, 8 de janeiro de 2011

Oração para cada dia

Pelo o ano que passou, graça vos damos Senhor. Ámen

Concede-me, Deus misericordioso, que deseje com ardor o que aprovas, o procure com prudência, o reconheça na verdade, o realize na perfeição, para louvor e glória do teu nome.

Põe ordem na minha vida e que eu faça o que queres; concede-me que o conheça e o realize como é preciso e como é útil para a salvação da minha alma.

Que eu vá em direcção a Ti, Senhor, por um caminho seguro, direito, agradável que me leve até ao fim; que eu não me desvie entre as prosperidades e as adversidades, de modo que te dê graças nas coisas prósperas e que, nas adversas, eu seja paciente, não me deixando envaidecer com as primeiras, nem abater com as segundas.

Que nada me alegre, nem me entristeça, fora do que me conduz a Ti ou me afaste de Ti. Que eu não tema agradar ou desagradar a ninguém, a não ser a Ti. Que tudo o que passa se torne vil aos meus olhos por causa de Ti, Senhor, e que tudo o que a Ti se refira me seja querido, mas Tu, meu Deus, mais que tudo o resto.

Que, sem Ti, toda a alegria me canse e fora de Ti nada deseje. Que todo o trabalho, Senhor, me seja agradável se for para Ti e todo o repouso, insuportável sem Ti. Concede-me que, frequentemente, dirija o meu coração para Ti e, quando fraquejar, eu me arrependa da minha falta com dor, com um firme propósito de me corrigir.

Torna-me, Senhor meu Deus, obediente sem contradição, pobre sem defecção, casto sem corrupção, paciente sem protesto, humilde sem fingimento, alegre sem dissipação, contido sem rigidez, activo sem leviandade, animado pelo teu temor sem desencorajamento, sincero sem duplicidade, fazedor do bem sem presunção, abeirando-me do próximo sem altivez, edificando-o com a palavra e o exemplo sem falsas aparências.

Dá-me, Senhor Deus, um coração vigilante, que nenhum pensamento leviano arraste para longe de Ti; um coração nobre que nenhuma intenção equívoca desvie; um coração firme que nenhuma adversidade quebre; um coração livre que nenhuma paixão violenta subjugue.

Concede-me, Senhor meu Deus, uma inteligência que te conheça, uma solicitude que te procure, uma sabedoria que te encontre, uma vida que te agrade, uma perseverança que te espere com confiança e uma confiança que, por fim, te possua. Concede-me que seja afligido com as tuas penas pela penitência, que nesta caminhada use as tuas benemerências pela graça, que goze as tuas alegrias, sobretudo na pátria [celeste], pela glória. Tu que, sendo Deus, vives e reinas pelos séculos dos séculos. Ámen.

Tomás de Aquino