domingo, 20 de março de 2011

A Tomada de consciência e o memorícidio III

Senhor, lavai as nossas feridas, Ámen!

A partir desta altura, tudo se joga entre meados de Outubro e finais de Dezembro de 1799. A primeira tarefa dos cônsules consiste no restabelecimento da paz religiosa: é a famosa proclamação de 7 Nivoso, ano VIII (288 de Dezembro de 1799), cujo conteúdo marca uma ruptura em relação à política do Directório. Depois de ter condenado a acção «dos traidores vendeanos ao Inglês [...], homens a quem o governo não deve nem consideração nem declaração de princípios» , os cônsules dirigem-se aos «cidadãos caros à pátria, que foram seduzidos pelos artifícios deles e a quem são devidas as Luzes e a verdade». Recordam em poucas palavras os abusos arbitrários dos governos precedentes: «Foram promulgadas e executadas leis injustas, actos arbitrários alarmaram a segurança dos cidadãos e a liberdade de consciência; por todo o lado, inscrições arriscadas sobre listas de emigrados afectaram cidadãos que nunca tinham abandonado nem a sua pátria nem sequer os seus lares; finalmente, foram violados grandes princípios de ordem social.»
Segundo o texto, não apenas o governo actual não continuou esta política, mas, pelo contrário, denuncia-a; melhor ainda: «trabalha sem descanso, preparando a reforma das más leis e uma combinação mais acertada das contribuições públicas. Cada dia é, e será, marcado por actos de justiça [...]. O governo perdoará e reconhecerá o arrependimento.» Recusa, amnistia, sem dúvida, mas também, e sobretudo, liberdade total do culto católico. «Os cônsules declaram ainda que a liberdade dos cultos é garantida pela Constituição, que nenhum magistrado pode desrespeitar; que nenhum homem pode dizer a outro homem: tu exercerás um só culto, tu não o exercerás senão um dia.» Esta frase, impressa em caracteres especiais, é decisiva: ela diminui ou suprime reivindicações religiosas. Já no tratado de la jaunaye celebrado entre os vendeanos e a República, em 17 de Fevereiro de 1795, por uma habilidade dos representantes Morisson e Gaudin, tinha proclamado a liberdade do culto, mas esta depressa fora posta novamente em questão.
Esta proclamação, muito acertada no seu enunciado, faz coincidir, pela primeira vez, a legitimidade do clero refractário com uma certa legalidade. Reconhece-lhe, com efeito, e confere-lhe mesmo um papel de intermediário que lhe tinha sido recusado até então: «Todos conhecerão um só sentimento: o amor da pátria. Os ministros de um Deus de paz serão os primeiros motores da reconciliação e da concórdia: que vão a esses templos, que eles mesmos reabriram, oferecer com os seus concidadãos o sacrifício que expiará os crimes da guerra e o sangue vertido.» A palavra «sacrifício» não foi escolhida por acaso: é uma definição católica fundamental e não um deísmo ou mesmo um cristianismo de tipo protestante ou modernista. Bonaparte, mediterrânico, está muito a par da sensibilidade católica. O clero não se enganou. A proclamação é seguida de todos os decretos que anulam as restrições e vexames anteriores. Proclamam o direito de chamar para as funções públicas os ci-devant nobres ou parentes de emigrados considerados dignos de confiança. O juramento constitucional é substituído por uma promessa de respeitar a Constituição consular que não interfere no âmbito do espiritual. Esta declaração é considerada pelos vendeanos como uma vitória. Justifica de maneira clamorosa o seu combate.
Em 18808, o imperador, convidado pelo seu amigo o barão Dupin, prefeito de Deux-Sèvres e marido da viúva de Danton quando do seu regresso de Espanha, atravessa a Vendeia. Estupefacto perante o estado de desolação geral, vai ainda mais longe e decide estimular a reconstrução pela concessão de indemnizações às populações sinistradas. É publicado imediatamente um decreto, em 8 de Agosto, para a Vendeia, seguido de dois outros em 1811, para Deux-Sèvres e o Loire-Inferior: entre outros benefícios, os vendeanos, são isentos de contribuições durante 15 anos e são concedidos prémios. Luís XVIII e Carlos X, apesar dos discursos oficiais, que partem do princípio de que o «rei não sabe de nada, o rei esqueceu tudo? a fim de não excitar as paixões, prosseguem nesta política e amplificam-na: pensões, indemnizações, doações, honras, trabalho, são distribuídos espontaneamente ou em deferimento de solicitações. Os sobreviventes, estimulados pelas autoridades, começam também a contar os acontecimentos tal como os viveram. Escritores, jornalistas dão igualmente o seu testemunho. Em 1819, o próprio Victor Hugo consagra à Vendeia uma das mais belas odes, intitulada «Vendée». Com o reinado de Luís-Felipe começa a revisão da história e o trabalho de manipulação da memória em nome do superior interesse da nação e dos princípios «fundadores» da revolução, como bem o explicou o grande historiador do século XIX, Hippolyte Taine, na introdução da sua obra Les Origines de La France Comtemporaine, publicado em 1884: «Este volume tal como os precedentes», afirma ele, «é escrito apenas para os amadores de zoologia moral, para os naturalistas do espírito, para os investigadores de verdades, de textos e de provas, para eles somente e não para o público que, sobre a revolução, tem o seu parti pris, a sua opinião feita. Esta opinião começou a formar-se em 1825-1830, após a retirada ou a morte das testemunhas oculares: desaparecidas estas, pôde-se persuadir o bom público de que os crocodilos eram filantropos, de que vários de entre eles eram dotados de génio, de que eles nunca tinham comido senãos os culpados e que, se por vezes, os comeram em excesso, foi por ignorãncia, sem o desejarem ou por dedicação, sacrifício deles próprios ao bem comum.»

Fonte: O Livro Negro da revolução Francesa DIR. Renaud Escande

domingo, 13 de março de 2011

A Tomada de consciência e o memorícidio II

Senhor, não olheis para as nossas faltas, mas para a nossa Fé, Ámen!

O general Turreau, que segue os acontecimentos da prisão, compreendeu esta evolução e, ainda depois do 13 Vindemiário, exige ser julgado: sabe que nao só não arrisca nada como, mais ainda, pode recuperar a sua honra. Absolvido, não tem sequer um olhar de compaixão para com Chapelain, o depurado republicano da Vendeia, apupado pelo público por ter denunciado os horrores cometidos. Desesperado, enojado com a situação, este último, tentará mesmo acabar com os seus dias, pois está ciente de que a Nação fez uma opção definitiva: os argumentos suceder-se-ão, lógicos, cruéis, injustos, desonestos. A unidade nacional, consciente e inconsciente, cristalizou-se contra os vendeanos: nada mais poderá tornar a pôr essa escolha em questão e ai daquele que ouse relembrar a realidade dos acontecimentos!
Sós, os generais vendeanos, por causa da sua envergadura, do respeito que suscitavam, do seu conhecimento exacto dos acontecimentos, teriam podido, eventualmente, quebrar esta lógica nascente. Infelizmente, todos estavam mortos: Cathelineau, Bonchamps, Lescure, mortos por balas anónimas, d'Elbée, Charette, Stofflet, fuzilados; o príncipe de Talmont, guilhotinado, etc.
Resta o problema da memória, ou, mais exactamente, das memórias, porque se impõe fazer a distinção entre a memória nacional e a memória local.
Bonaparte é o primeiro agente da memória nacional. Quando toma o poder em 1799, uma das suas primeira preocupações é o restabelecimento da paz na Vendeia. Além da evidente finalidade política, o general tem também um reflexo humanitário. Está, e di-lo-á repetidamente, escandalizado pelo que tinha sido feito: «Ah! Eis aí a guerra civil e o seu pavoroso cortejo: eis os seus resultados inevitáveis; os seus frutos garantidos! Se alguns chefes fizeram fortuna e se livraram de responsabilidades , a poeira da população é sempre calcada aos pés; nenhum dos males lhe escapa!» Aliás, ele tinha-se recusado deslocar-se à Vendeia no quadro da repressão. Os Vendeanos não se enganam quando no 15 Brumário, ano VIII, gritam a plenos pulmões: «Viva o rei, viva Bonaparte!»
O sectarismo do Directório e as perseguições que se lhe seguiam resultaram, por conseguinte, numa formidável extensão da guerra no Oeste, em 1799. Numerosos contemporâneos assinalaram as graves consequências que daí podiam advir, tal como foi apresentado em dois relatórios anónimos (assinados X) de 23 e 26 de Ventoso, ano VI, expedidos de Nantes para o ministro. O primeiro texto assinala o ressurgir das críticas contra o regime, mesmo por parte de pessoas aparentemente alinhadas com a República: as paixões animam-se; os agentes são vítimas de ameaças; os descontentes elevam a voz. Os culpados, segundo as testemunhas, são indiscutivelmente os padres que «se agitam e abusam mais do que nunca da sua pérfida influência para doutrinar os fracos no momento das festas da Páscoa que se aproximam.» Realizam-se todas as noites, um pouco por todo o lado, reuniões populares para a recitação do terço: «Os habitantes são convocados para os locais, indicados por toque de corneta.» O segundo relatório menciona «manobras subversivas» e queixa-se ainda de padres que «pregam a rebelião» e anunciam o fim próximo do governo. A administração, face a estes acontecimentos, adopta, numa primeira fase, uma atitude com nuances, depois alinha-se francamente com os vendeanos. Proíbe que se toque músicas patrióticas no início dos espectáculos e reage vivamente, em Setembro de 1798, à decisão do Directório de proceder a um novo recrutamento de homens. Esta reacção leva ao fracasso da lei designada por Lei Jourdan. O Directório, furioso, decide então sancionar os pretensos culpados e faz reocupar militarmente a região, o que dá lugar à multiplicação das manifestações de cólera, tanto mais violentas quanto o clero é de novo perseguido e a prática religiosa proibida.

Fonte: O Livro Negro da revolução Francesa DIR. Renaud Escande

sábado, 5 de março de 2011

A Tomada de consciência e o memorícidio I

Que o desespero e apostasia, não entrem nos nossos corações, ante as vitórias do mal, Ámen!

Continuação

Vai ser necessário aguardar a queda de Robespierre para que a opinião pública local, nacional e internacional tome consciência da «enormidade do acto» cometido na Vendeia. À estupefacção geral, segue-se muito em breve a cólera. Exigem-se culpados e aplicação de penas: os testemunhos afluem, publicam-se escritos, revelam-se documentos. O processo Carrier só se compreende neste contexto: o homem é visto simultaneamente como «um grande criminoso contra os direitos fundamentais dos homens» e o bode expiatório que deve pagar por todos os outros. Uma vez este desaparecido, espera-se que o esquecimento faça tábua rasa deste crime que mancha, sabemo-lo já, de maneira indelével, a Revolução. o seu processo é de uma modernidade espantosa e, no fundo, muito próximo do de Nuremberga. São formuladas cinco grandes questões: Quem é culpado? Quem é responsável? Como deve ser sancionado este crime contra a humanidade? Como registar na memória este crime de Estado? Como classificá-lo? Esta última questão está a ser objecto de longos debates em razão da especificidade primordial desta política de aniquilamento e de extermínio. À falta de uma palavra que o defina, Gracchus Babeuf vai recorrer a um neologismo: o populicídio. De facto, o horror é de tal ordem que as consequências políticas se impõem a todos: para além dos homens, é o regime político que é condenado. Inicia-se então uma corrida contra o relógio, estando em jogo a própria sobrevivência da Revolução e dos revolucionários.
Tudo se joga entre o processo Carrier de Dezembro de 1794 e o de Turreau em Dezembro de 1795. O contexto era o da reconciliação e do esquecimento: os vendeanos, pelos tratados de la Jaunaye (17 de Fevereiro de 1795) e de Saint-Florent-le-Vieil (de Maio de 1795) e os chouans da bretanha, pelo de la Mabilais (20 de Abril de 1795) prestam-se ao jogo tanto mais facilmente quanto lhes prometem secretamente a restituição do delfim rei Luís XVII, para o qual construíram uma casa em Belleville, e a restauração da monarquia que surge como o único sistema capaz de garantir a liberdade e a segurança geral. Além disso, esta paraece inevitável e as eleições legislativas estão próximas: os republicanos encontram-se divididos, a miséria do país é real, a opinião pública sente-se ultrajada.
Os convencionais, desesperados e amedrontados, decidem forçar o destino: uma carta escrita por sete deles (Tallien, Treillard, SIeyès, Doulcet, Rabaut, Marec, Camvacérès) e expedida a Guezno, o representante do povo, explica a estratégia a reter: «É impossível, caro colega, que a República se possa manter, se a Vendeia não for for inteiramente subjugada. Não podemos por nós próprios acreditar na nossa segurança senão quando os bandidos que infestam o Oeste desde há dois anos forem colocados em posição de não nos poderem prejudicar e contrariar os nossos projectos, quer dizer, quando foram exterminados. Já representa um sacrifício demasiado vergonhoso termos sido reduzidos a tratar da paz com rebeldes, ou melhor, com celerados cuja grande maioria mereceu o cadafalso. Convence-te de que eles nos destruirão se não os destruirmos nós primeiro. Eles não puseram mais boa fé do que nós no tratado assinado, que não lhes deve inspirar nenhuma confiança nas promessas do governo. As duas partes transigiram, sabendo bem que se enganavam. É por causa da impossibilidade em que nos encontramos de esperar que possamos abusar durante mais tempo dos vendeanos, impossibilidade igualmente demonstrada a todos os membros dos três comités, que será necessário procurar os meios de prevenir homens dotados de tanta audácia e actividade como nós. É necessário não adormecer, pois o vento ainda não agita os ramos mais fortes, mas está muito perto de soprar com violência. Aproxima-se o momento em que, segundo o artigo II do tratado secreto, é preciso apresentar-lhes uma espécie de monarquia, e mostrar-lhes essa criança pela qual eles se batem. Seria demasiado perigoso dar uma tal passo; perder-nos-ia para sempre. Os comités apenas encontraram um meio dos bandidos reside no fanatismo que os seus chefes lhes inspiram; importa prendê-los e dissolver assim de um só golpe esta associação monárquica que acabará connosco se não nos apressarmos em evitá-lo. Mas é necessário não perdermos de vista, caro colega, que a opinião cada dia se torna para nós ainda mais necessária do que a força; é preciso tudo sacrificar para colocar a opinião do nosso lado. É necessário fazer supor que os chefes insurrectos quiseram romper o tratado, tornarem-se príncipes dos departamentos que ocupam; que estes chefes têm relações secretas com os Ingleses; que querem oferecer-lhes a costa, pilhar a cidade de Nantes e embarcarem com o fruto das suas rapinas. Faz interceptar correios portadores de cartas deste género, clama contra perfídia e usa sobretudo, neste primeiro momento, de uma grande aparência de moderação a fim que o povo veja claramente que a boa fé e a justiça estão do nosso lado. Repetimos-to, caro colega, a Vendeia destruirá a Convenção, se a Convenção não destruir a Vendeia. Se puderes ter na mão os onze chefes, o rebanho dispersar-se-á. Concerta-te no local com os administradores de Ille-et-Vilaine. Comunica a presente carta imediatamente após a sua recepção aos quatro representantes do bairro. É necessário aproveitar a surpresa e o desânimo que deve causar a falta dos chefes para operar o desarmamento dos vendeanos e do chouans. É preciso que eles se submetam ao regime geral da República ou então que pereçam; nada de meios-termos; nada de meias medidas, elas estragam tudo quando se trata de revolução. É imperativo, se for necessário, empregar o ferro e o fogo, mas tornando os vendeanos culpados aos olhes da nação pelo mal que nós lhe fazemos. Aproveita, caro colega, nós to repetimos, as primeiras aparências que se apresentaram para dar o grande golpe, porque os acontecimentos pressionam de todos os lados [...].»
Por um acaso inaudito, esta carta caiu nas mãos dos chouans em Châteaugiron, em 10 de Junho, quer dizer, dois meses depois da intercepção de um comboio de veneno nos arredores de Ancenis, na quinta de Volfrèse, pelo visconde de Scepeaux: é a estupefacção e a cólera. Em 22 de Junho, por uma proclamação solene aos habitantes do Poitou, de Anjou, do Maine, da Bretanha, da Normandia e de todas as províncias de França, os principais chefes bretões e vendeanos protestam contra o uso de tais métodos e gritam traição. É tarde de mais: os convencionais tinham já trabalhado em profundidade: o desembarque de Quiberon, em 27 de Junho, o golpe de Estado de 13 de Vindemiário (5 de Outubro) farão o resto: a opinião pública nacional passará a considerar para todo sempre os vendeanos e os chouans como homens perjuros.

Fonte: O Livro Negro da revolução Francesa DIR. Renaud Escande

quarta-feira, 2 de março de 2011

Algumas frases do livro Jesus de Nazaré Vol II

Sobre o novo livro do Papa Bento XVI, noticia retirada do Publico.

O genoma humano ajuda a perceber a “grandiosa matemática da criação” mas não diz tudo sobre toda a “linguagem de Deus”, escreve o Papa Bento XVI no segundo tomo da sua obra Jesus de Nazaré, que será posta à venda no próximo dia 11, num excerto a que o Público teve acesso. “A verdade funcional acerca do homem tornou-se visível; mas a verdade sobre ele mesmo – o que é, donde vem, para que existe, que é o bem ou o mal – esta verdade, infelizmente, não pode ser lida do mesmo modo.


A afirmação faz parte de Jesus de Nazaré – Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição. O primeiro volume da obra foi publicado por Joseph Ratzinger/Bento XVI no final de 2007. Este segundo tomo será apresentado no próximo dia 10, quinta-feira, no Vaticano, e está destinado a ser mais um "best-seller" – basta pensar que o último livro do Papa, a entrevista Luz do Mundo, conduzida pelo jornalista Peter Seewald – ultrapassou já em muito os 600 mil exemplares.

Nesta primeira fase, o livro será editado em sete línguas: alemão, italiano, inglês, espanhol, francês, português e polaco. O Vaticano libertou esta manhã três excertos da obra, que estão a ser publicados por vários meios de comunicação em todo o mundo – entre os quais o PÚBLICO.

Nos excertos agora divulgados, Joseph Ratzinger fala sobre a traição de Judas, o episódio que levou à prisão de Jesus, sobre a polémica da datação da Última Ceia de Cristo e sobre o interrogatório a que o governador romano, Pôncio Pilatos, submeteu Jesus antes de este ser condenado à morte.

É neste último capítulo que Ratzinger fala do genoma, a propósito da redenção do mundo trazida por Jesus. No mesmo capítulo, ele descarta a ideia de que tenham sido os judeus como povo a acusar Jesus – uma tese que levou ao ódio de séculos em relação aos seguidores do judaísmo. “O referido termo [os judeus] tem um significado específico e rigorosamente limitado: designa a aristocracia do templo”, escreve o teólogo alemão, que se tornou Papa em 2005, sucedendo a João Paulo II.

A propósito da pergunta “Que é a verdade?”, que Pilatos faz a Jesus, o Papa fala da questão da verdade nos estados contemporâneos: “A mesma pergunta é colocada também pela moderna doutrina do Estado: pode a política assumir a verdade como categoria para a sua estrutura? Ou deve deixar a verdade, enquanto dimensão inacessível, á subjectividade e, pelo contrário, esforçar-se por conseguir estabelecer a paz e a justiça com instrumentos disponíveis no âmbito do poder?”

Sem responder de forma assertiva à pergunta, Bento XVI deixa entender aquilo que tem defendido em outras ocasiões: os Estados não podem eximir-se do critério moral na regulação social. Quando conclui, no texto, que Pilatos preferiu a manutenção da paz social à justiça – ou seja, segurar eventuais revoltas condenando Jesus –, o Papa acrescenta: “O facto de, em última análise, a paz não poder ser estabelecida contra a verdade haveria de manifestar-se mais tarde.”

Tal como no volume precedente, o Papa entende que esta sua obra sobre Jesus não pretende ser mais uma biografia, género que já considera bem tratado por diversos exegetas bíblicos. Nem sequer quer fazer uma “cristologia”, um tratado teológico acerca de Cristo, defendia o Papa já a propósito do seu primeiro livro. O que Ratzinger/Bento XVI propõe é, antes, uma reflexão – que não deixa de ser feita por um dos mais importantes teólogos contemporâneos – sobre “a figura e a mensagem de Jesus”.

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