Senhor aumentai os frutos do nosso trabalho, Ámen!
Não consegui deixar de postar mais alguns textos do «Livro Negro da Revolução Francesa», porque são de facto tentativas de análises profundas que têm em conta as estruturas mentais históricas que foram criadas ou existem ao longo dos séculos e evoluem de forma muito lenta e ao contrário das análises superficiais, entendem a importância destas estrutura para o próprio sustentação de qualquer conjuntura política, e especialmente são o fundamento de uma civilização..
Bom vamos ao texto..
Algo na Revolução Francesa encontra a sua fonte no espírito cristão. A fraternidade - «Todo aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão» (Mc 3, 35) -, a liberdade - «A verdade vos libertará» (Jo 8, 32) -, a igualdade - «já não há escravo nem homem livre» (Gal 3, 28) fazem parte, desde há séculos, da tradição cristã até ao ponto de esta Revolução, antes da viragem do Terror, suscitar o entusiasmo de numerosos eclesiásticos. O irmão dominicano Henri-Dominique Lacordaire, alguns anos depois dela, defendida ainda a compatibilidade entre a divisa republicana francesa e o espírito cristão até que se deu conta da utilização perversa das palavras cristãs pela República. É assim que ele, o arauto dos católicos liberais, o reconciliador da Igreja e do século, recorda em 1848 aos defensores do liberalismo que «entre o forte e o fraco, entre o rico e o pobre, entre o patrão e o escravo, é a liberdade que oprime e a lei que liberta.»
E, de facto, duzentos anos mais tarde, o balanço político da divisa republicana não é bom: é falso no que respeita à liberdade, catastrófico quanto à igualdade e enganoso para a fraternidade. O que é que se passou então? Teria havido somente atraso na aplicação deste programa, como sublinham os republicanos que parece estarem de boa-fé? Ou então, a perversão dos valores cristãos ter-se-ia revelado inerente à antropologia dos revolucionários.
Enquanto se reclamavam dos valores evangélicos, os revolucionários, ao expulsarem Deus, separaram-se da fonte sem a qual não se podem reconhecer os frutos. Por isso, uma liberdade que não é outorgada por um Pai é um movimento incoerente; uma igualdade que não reconhece a escolha preferencial de uma amor é enganosa e uma fraternidade que se auto-proclame sem referência a uma origem comum é, muito simplesmente, falsa.
Querer matar o Pai pretendendo ao mesmo tempo guardar os valores legados por ele, é impossível.
A França esperava da celebração do bicentenário da Revolução um verdadeiro balanço político; não tivemos senão uma auto-celebração que escondia mal a recusa de olhar a realidade política de frente. Portanto, impõe-se hoje tentar compreender os fundamentos antropológicos da monarquia e da república, a fim de fazer um honesto inventário da situação política em França. Do lado da monarquia, há duas maneiras de militar: a primeira por pura nostalgia (é esta muitas vezes a postura de uma aristocracia que, pela sua atitude irresponsável, tem alguma coisa a ver com o fracasso da monarquia); a segunda consiste em recordar que há, na prática da filiação monárquica, um princípio de que o político não pode prescindir, correndo o risco de conduzir o mundo às portas do caos. Quanto ao republicanos, sem nos dizerem qual é o homem em que acreditam e a que aspiram, não podem fazer compreender o que se sinta por trás destas três palavras sésamo (liberdade, igualdade, fraternidade) que se pretende abrirem a porta à felicidade.
Começaremos este estudo pela igualdade, porque nela reside o pecado original de toda a divisa. O desconhecimento da liberdade e da fraternidade encontra a sua fonte nessa falsa concepção da igualdade.
Fonte: O Livro Negro da revolução Francesa DIR. Renaud Escande
Presépio
Há 1 dia
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