quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ordem do Templo, São Bernardo e os Cistercienses na Fundação de Portugal I

Hughes de Paynes, natural de Champanha, regressou à Europa no ano de 1126, depois de uma estada em Jerusalém. Veio à procura de homens, de dinheiro e da bênção do Papa para a fundação de uma nova ordem militar. Com Godofredo de Sain-Aunmer, outro cavaleiro cristão, tinha tido a ideia de criar a Ordem do Templo, com o objectivo de guardar a Igreja construída em Jerusalém, no local onde se diz ter existido o Templo de Salomão, e, simultaneamente, proteger os peregrinos que ali acorriam.
Só uma geração mais tarde é que os templários se começaram a empenhar nestes objectivos. Durante os primeiros anos da existência da ordem, os seus cavaleiros dedicaram-se, antes, à criação de um novo protótipo de estado cristão, que viria a ser Portugal. De tal modo que, muito tempo depois de a ordem ter sido perseguida e extinta, não apenas em França mas em todo o mundo, ela prosperou aqui, ainda que dissimuladamente até ao século XIX1. As histórias dos templários e de Portugal estão, de facto, intimamente ligadas e são interdependentes.
A ordem transformou-se na mais rica instituição do mundo ocidental, mais abastada do que qualquer monarquia, ou do que a própria Igreja, a quem, teoricamente, devia fidelidade. Contudo, na altura da sua criação, os fundadores eram tão pobres que o seu emblema era constituído por dois cavaleiros - presumivelmente, Hugues e Godofredo - montados num único cavalo.
Hugues viajou até à Borgonha, que, na altura, era a mais florescente região ocidental, constituindo a principal encruzilhada comercial e intelectual da Europa, para, de acordo com as crónicas cistercienses, pedir ajuda a um monge: Bernardo, abade de Claraval. Bernardo era, na altura, considerado um homem de enorme prestígio, capaz de influenciar a eleição dos Papas e de exercer sobre eles um poder efectivo... Desconhece-se quem pela primeira vez teve a ideia de fundar Portugal e desviar os templários para essa tarefa. Com base nas crónicas monásticas da Borgonha e na abalizada biografia de São Bernardo, da autoria do irmão Irénée Vallert-Radot, não se sabe ao certo se a intenção original era a de criar uma nova Nação modelar Cristã no flanco ocidental do Islão, que se estenderia do rio Minho, a norte da Ibéria, até Sul, que é agora Agadir, em Marrocos setentrional, imediatamente acima do deserto do Sara...
Desde finais do século XI que a família de São Bernardo tinha mostrado um interesse activo na Ibéria. O seu tio, o conde D. Henrique de Borgonha, ali se deslocou, com o seu exército, para ajudar D. Afonso, rei de Leão e Castela(..) na guerra contra os árabes. Como recompensa, recebeu em casamento a mão de D. Teresa, segunda filha de D. Afonso, que também lhes deu, como dote, a faixa de terras situada na costa atlântica entre os rios Minho e Douro, conhecida pelo nome de Portucale.
Ao chegar à maioridade, D. Afonso Henriques (filho de D. Henrique e D. Teresa) ... casou com uma prima do conde da Borgonha, D. Mafalda, filha do conde de Mouriana e Sabóia, Amadeu III. Depois proclamou-se a si mesmo rei por direito próprio. A este propósito, continuam, no entanto, por responder questões sobre o quando, o onde e o modo como tudo aconteceu. Ainda que a sua crónica oficial diga que os soldados o fizeram de forma espontânea, após grande vitória sobre os árabes e os berberes, na batalha de Ourique... A constituição da Ordem do Templo foi anunciada pelo Papa na cidade de Troyes, em Janeiro de 1128. Afonso Henriques enviou à Abadia de São Bernardo, em Clairvaux, o penhor da sua fidelidade e da sua nação. Seis semanas mais tarde, em meados de Março, Hugues de Paynes e um grupo de cavaleiros que tinham acabado de ser empossados chegaram a Portucale. Há quem, a propósito, comente a celeridade com que tudo aconteceu, partindo do princípio de que a viagem foi feita a cavalo. Só que também não se pode ignorar que a Borgonha era o eixo de um complexo de vias marítimas, que se espraiavam pelos quatro pontos da bússola. Para consultar São Bernardo no casebre onde vivia, nos terrenos do mosteiro, o Papa foi até Claraval de barco, subindo a costa mediterrânica de Itália e, depois, pelo rio Ródano, em Marselha. Hugues e os outros cavaleiros seguiram a rota contrária, descendo até ao Atlântico, tendo sido ajudados pelas correntes e pelos ventos alísios em direcção a sul. No estuário do Lis, perto onde se ergue hoje a cidade de Leiria, conquistaram um castelo aos berberes e aí fixaram residência...
Para festejar o quadragésimo aniversário do rei D. Afonso Henriques, em 1147, foi lançada uma nova iniciativa que, com origem da Borgonha, pretendia acabar com o impasse existente entre cristãos e muçulmanos. Em quase todos os países da cristandade, a moral andava muito em baixo. A partir do mar Negro, os muçulmanos tinham avançado significativamente em direcção a leste. Simultaneamente, existia a ameaça do mundo eslavo. São Bernardo e o Papa Eugénio III, seu ex-noviço, lançaram um apelo visando um Segunda Cruzada. Ainda existe hoje uma carta escrita por São Bernardo a seu primo D. Afonso Henriques, que, tratando-o por «ilustre rei de Portugal», se refere de modo bastante elogioso aos cavaleiros que levaram a missiva. Mal eles chegaram a Portugal, Afonso Henriques e Hugues de Paynes conduziram-nos a Santarém, cidade que ocupava uma posição estratégica em relação ao rio Tejo. Aí chegados, os cavaleiros enviaram um mensageiro ao governado muçulmano, informando-o de que dispunha de apenas três dias para se render, caso contrário, avançariam sobre a cidade. Só que, como eram poucos, o governador ignorou-os...
Todos tinham, entretanto, jurado, perante São Bernardo, que renunciariam ao ganho pessoal, já que combateriam apenas por Cristo. .. No Mosteiro de Alcobaça pode ver-se um painel de azulejos representando o rei, após a tomada de Santarém, a escrever uma carta de agradecimento a São Bernardo pelo auxílio dado. Animados por este sucesso, os borgonheses lançaram uma campanha com o objectivo de recrutar novos cavaleiros. A iniciativa alastrou-se à França, Alemanha, Países Baixos e Inglaterra, país que havia sido ocupado pelos normandos, após duas tentativas fracassadas de dominarem Portugal. Alistaram-se, ao todo, 3000 homens, que transportados numa frota de 164 navios, atravessaram o Reno e o Sena, desceram os rios de Inglaterra e, percorrida a sua costa sul, se reencontraram no porto de Dartmouth, em Devon.
Ao escreverem sobre a dívida histórica de Portugal à Grã-Bretanha, vários historiadores locais consideram que esta foi essencialmente uma expedição inglesa, apoiada por alguns continentais. Hoje, poucos parecem pôr em causa o facto de que o propósito inicial da expedição era uma cruzada à Terra Santa, só que a armada, obrigada a enfrentar uma violenta tempestade no golfo da Biscaia, teve de ancorar na cidade do Porto para proceder Às reparações dos navios e de os reabastecer de água e alimentos.. Ao que consta, os cavaleiros terão sido ali brindados com uma lauto repasto, oferecido pelo bispo local, que, através de intérpretes, leu um apelo de D. Afonso Henriques, solicitando-lhes que apenas prosseguissem viagem depois do ajudarem a conquistar Lisboa.
Contrária, no entanto, é a opinião expressa nas crónicas da Borgonha, segundo a qual desde o início da expedição era Portugal. Ainda de acordo com esses textos, o reencontro dos barcos em Dartmouth teve apenas a ver com o facto de, desde os tempos do Antigo Testamento, aquele porto ser considerado como o melhor local de onde se podia partir para atravessar o golfo da Biscaia. Era, aliás, uma rota que continuaria a ser utilizada por navios de diferentes nacionalidades norte-europeias ao longo de várias centenas de anos. Esta conquista (de Lisboa) constitui, na prática, o único êxito da Segunda Cruzada, que, fora isso, redundou num autêntico fracasso para São Bernardo e para o Papa, seu protegido.

1 - Extinta, por pressão do rei de França, em 1312, pelo Papa Clemente V, os bens dos templários, em Portugal, passaram para a nova Ordem de Cristo, confirmada por bula Papal a 14 de Março de 1319.

Texto retirado do livro "A Primeira Aldeia Global - Como Portugal mudou o mundo"
Autor: Martin Page - 6º edição Casadasletras

terça-feira, 29 de junho de 2010

Igreja em cacos I

É inegável que hoje os ventos e a maré nunca foram tão contrários à Igreja Católica, o mais irónico é que a Igreja nunca gozou de tanta liberdade no mundo.. A acção dos poderes temporais na Igreja começou com Constantino na convocação do Concílio de Niceia e depois na proclamação do símbolo dos Apóstolos ou Credo de Niceia cujo o principal mérito foi determinar a consubstanciação do Filho em relação ao Pai... mas com a queda do poder político e desfragmentação das autoridades, com a senhorilização e feudalização do mundo ocidental a Igreja como principal detentora de terras, acabou por ser abarcada pelo fenómeno para se auto-proteger e assegurar a sua liberdade! No entanto o que sucedeu foi o contrário, e viu-se assaltada pelos homens mundanos dentro do seu próprio corpo, que levou a crises morais e espirituais, que nem o próprio Papa escapou, submetido à aristocracia romana! Situação que levou à Reforma Gregoriana, um dos principais marcos da História Ocidental, cujo o principal mérito foi separar o poder temporal do poder espiritual, condenando a investidura secular ou seja nenhum laico podia nomear alguém para um cargo religioso, e transformando o Papa como o único senhor da Igreja, nomeando todos os Bispos em Roma pela investidura do Palio! Também a teoria do empunhar do gládio espiritual e a delegação do gládio temporal por parte do Papa foi começando a ser definida junto com a teocracia Papal. Além de renovar a condenação de várias heresias que grassavam a Igreja, quando esta se via preenchida por muitos homens seculares, que não tinham nenhuma vocação religiosa, e apenas ocupavam os cargos religiosos pelo prestígio e riquezas, fenómeno que foi aumentando à medida que os senhores apropriavam-se dos cargos religiosos nas suas terras, e por isso vendiam cargos, heresia chamada de simonismo, o nicolaísmo quando os religiosos concubinavam com mulheres, ou nepotismo que é atribuição de cargos a pessoas próximas e da família! Todas estas heresias foram mais uma vez condenadas, cuja a principal causa era a imiscuição do mundo temporal no mundo religioso! Todo este movimento que durou 2 séculos, com a instituição da ordem de Clunny no séc X até à concordata de Worms no séc XII, a que hoje chama-se reforma Gregoriana do nome Gregório VII(1073-1085) que sintetizou todas ests ideias num manifesto chamado Didactus Papae, foi pela liberdade da Igreja! Podemos discutir qual foi o papel do poder temporal nesta reforma, se por um lado a mistura destas duas esferas de poder trouxe muitos males à Igreja num tempo em que a autoridade pública não existe. Mas também temos que relembrar que com a criação do sacro Império Romano Germano com a coroação de Carlos Magno no ano 800, durante este breve renascimento civilizacional, o poder temporal de Carlos Magno foi a principal força de restauração da Igreja, principalmente na àrea da cultura e politica restaurando e centralizando o poder! No entanto foi um renascimento de pouca duração e logo a Igreja viu-se outra vez obrigada a continuar a sua senhorilização para se proteger das lutas privadas provocadas pela decadência do poder da dinastia caroligena!
Hoje as liberdades estão asseguradas por um direito muito desenvolvido no Ocidente, ainda que eu considere a confessionalidade do estado um dever do estado maioritariamente Católico, defendendo sempre o principio de separação de poderes, pois como já vimos, a mistura das duas esferas do poder temporal e religioso, só prejudica a liberdade da Igreja.
Mas ainda que os povos Católicos, vivem em estados laicos, a Igreja pode agir, pelo menos no Ocidente, com total liberdade, sabendo que o pecado, as heresias, os seus inimigos como os laicistas.. também a têm como nunca a tiveram no tempo passado. Por isso resta-nos saber o que a Igreja faz com essa liberdade, e o que vemos é um estado desolador da Fé Católica, com avanços na agenda marxista, os Católicos só são de nome, como podemos ver nestas estatísticas - 54,6% dos Católicos defendem a despenalização do aborto, 95,4% defendem o uso de contraceptivos, apenas 57,3% discordam do casamento homossexual! A Eutanásia é aceite por 55,4% dos Católicos! Definitivamente ignoram a doutrina Católica, pois certamente não se diriam Católicos. Outras notícias que deixam-me muito triste é a possibilidade do Papa ter que depor nos Estados Unidos devido aos casos de abusos sexuais, numa tentativa de humilhação, e a maneira como os escândalos continuam aglomerar-se.
A Igreja no seu corpo teve sempre pecadores, e como já vimos pode ser devido a várias causas, mas a crise de hoje é mais profunda, é de apostasia, só assim se pode explicar que com a liberdade que hoje a Igreja têm, os frutos são cada vez mais amargos. A liberdade da Igreja, só deve ter um objectivo, iluminar o mundo com a Luz de Cristo, e onde está essa Luz? hoje quando o Papa diz que o homem tem “uma fome mais profunda” de Deus! Por isso deixo as palavra do Padre António Vieira a todos os luzeiros avariados da Igreja, eles que têm a maior responsabilidade perante Deus, e por isso têm as suas almas em maior risco de serem condenadas ao fogo do Inferno - "
O que se há-de fazer ao sal que não salga, Cristo o disse logo: Quod si sal evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur foras et conculcetur ab hominibus. 'Se o sal perder a substância e a virtude, e o pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe há-de fazer, é lançá-lo fora como inútil para que seja pisado de todos.' Quem se atrevera a dizer tal cousa, se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assim como não há quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a cabeça que o pregador que ensina e faz o que deve, assim é merecedor de todo o desprezo e de ser metido debaixo dos pés, o que com a palavra ou com a vida prega o contrário. Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga."1

1- Sermão de Santo António
Pe. António Vieira
Pregado em S. Luís do Maranhão, três dias antes de se embarcar ocultamente para o Reino
Vos estis sal terrae. S. Mateus, V, l3.

domingo, 27 de junho de 2010

Aborto

Matar seres humanos, tornou-se o último contraceptivo legal em Portugal, já faz 3 anos.. legalizado pelos marxistas, que avançam no seu intento de matar Portugal, enchem os rios de Portugal com o sangue dos seus próprios filhos, e por isso antevejo, um futuro obscuro perante o totalitarismo imponente, num País sem vida!

"há mulheres que fazem dois e três abortos num ano"

Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

José Saramago por Vasco Pulido Valente

O problema com o furor que provocaram os comentários de Saramago sobre a Bíblia (mais precisamente sobre o Antigo Testamento) é que não devia ter existido furor algum. Saramago não disse mais do que se dizia nas folhas anticlericais do século XIX ou nas tabernas republicanas no tempo de Afonso Costa. São ideias de trolha ou de tipógrafo semianalfabeto, zangado com os padres por razões de política e de inveja. Já não vêm a propósito. Claro que Saramago tem 80 e tal anos, coisa que não costuma acompanhar uma cabeça clara, e que, ainda por cima, não estudou o que devia estudar, muito provavelmente contra a vontade dele. Mas, se há desculpa para Saramago, não há desculpa para o país, que se resolveu escandalizar inutilmente com meia dúzia de patetices.

Claro que Saramago ganhou o Prémio Nobel, como vários "camaradas" que não valiam nada, e vendeu milhões de livros, como muita gente acéfala e feliz que não sabia, ou sabe, distinguir a mão esquerda da mão direita. E claro que o saloiice portuguesa delirou com a façanha. Só que daí não se segue que seja obrigatório levar a criatura a sério. Não assiste a Saramago a mais remota autoridade para dar a sua opinião sobre a Bíblia ou sobre qualquer outro assunto, excepto sobre os produtos que ele fabrica, à maneira latino-americana, de acordo com o tradição epigonal indígena. Depois do que fez no PREC, Saramago está mesmo entre as pessoas que nenhum indivíduo inteligente em princípio ouve.

O regime de liberdade, aliás relativa, em que vivemos permite ao primeiro transeunte evacuar o espírito de toda a espécie de tralha. É um privilégio que devemos intransigentemente defender. O Estado autoriza Saramago a contribuir para o dislate nacional, mas não encomendou a ninguém - principalmente a dignatários da Igreja como o bispo do Porto - a tarefa de honrar o dislate com a sua preocupação e a sua crítica. Nem por caridade cristã. D. Manuel Clemente conhece com certeza a dificuldade de explicar a mediocridade a um medíocre e a impossibilidade prática de suprir, sobre o tarde, certos dotes de nascença e de educação. O que, finalmente, espanta neste ridículo episódio não é Saramago, de quem - suponho - não se esperava melhor. É a extraordinária importância que lhe deram criaturas com bom senso e a escolaridade obrigatória.

Fonte: oInimputável

sábado, 19 de junho de 2010

O declínio da Europa

por Anselmo Borges

Não faz falta o pessimismo para sentir perplexidade e desalento face ao futuro da Europa. Jorge Semprún, por exemplo, esse grande espírito europeu, não sabe se o euro vai desaparecer, mas diz que é possível que desapareçam várias aquisições e teme o pior, pois precisamente "o pior é possível, incluindo a desarticulação europeia". E proclama: depois do esgotamento da luta contra o passado nazi e fascista, de um lado, e contra o totalitarismo Estalinista, do outro, "a Europa precisa de um novo motor ideológico e moral".

Donde vem a crise? Já em 1918, Oswald Spengler escreveu a obra polemicamente célebre: A decadência do Ocidente. De modo agudo, o eminente filósofo Edmund Husserl pronunciou, em Maio de 1935, em Viena, uma conferência famosa, subordinada ao tema A crise da humanidade europeia e a filosofia. A crise, segundo ele, deriva do positivismo, portanto, da redução das ciências ao puro conhecimento dos factos, esquecendo a subjectividade. Esta crise das ciências exprime a crise ético-política, dos valores e do sentido. A ciência positivista nada tem para dizer-nos: "As questões que ela exclui por princípio são precisamente as questões mais escaldantes na nossa época desgraçada para uma humanidade abandonada aos sobressaltos do destino: são as questões que dizem respeito ao sentido ou ausência de sentido de toda esta existência humana."

Claro que a nossa crise europeia tem a ver com a crise económico-financeira mundial, com a chegada ao palco da história dos países emergentes, como a China, a Índia, a Rússia, o Brasil, a África do Sul, com problemas globais que só poderão encontrar solução no quadro de uma governança global. Mas o que tem feito a União Europeia para se tornar uma real União, com um projecto sólido económico-político, e não simples consórcio de negócios? Sobretudo, onde está a alma da Europa e os valores capazes de a cimentarem?

Como escreveu Theodor Dal- rymple, em Março passado, em The American Conservative, "num certo sentido, a Europa nunca esteve tão bem. Os progressos em termos de saúde e de riqueza foram prodigiosos. Apesar destes êxitos, há como que uma atmosfera de declínio. Os europeus, que nunca foram tão prósperos, olham para o futuro com temor, como se tivessem uma doença oculta que ainda se não tivesse manifestado mas devorasse já os seus órgãos vitais. Deus morreu na Europa e a sua ressurreição é pouco provável, excepto talvez na sequência de uma catástrofe. No entanto, nem tudo foi perdido na atitude religiosa. Cada indivíduo vê-se sempre como um ser único na sua importância, mas já não tem esse contrapeso da humildade própria de quem se sente um dever para com o seu Criador. Acima de tudo, a maior parte dos europeus já não crê num grande projecto político. Este miserabilismo leva a uma mistura de indiferença e de ódio face ao passado." E, depois de se interrogar sobre se os americanos terão algo a aprender com tudo isto, o autor conclui: "Uma sociedade moderna sã deve saber tanto manter-se como mudar, tanto conservar como reformar. A Europa mudou sem saber conservar: essa é a sua tragédia."

Com a morte de Deus, criou-se um vazio. Os europeus instalaram-se no ter e no prazer. Sem Deus, onde está o sentido que dá unidade? Não se pode esquecer o que já Nietzsche anteviu. O louco, em A Gaia Ciência, proclama "a grandiosidade do acto" de matar Deus, mas também pergunta: "Para onde vamos nós? Para longe de todos os sóis? Será que ainda existe um em cima de um em baixo? Não andaremos errantes através de um nada infinito? Não estará a ser noite para todo o sempre, e cada vez mais noite?" E Nietzsche, ele mesmo, sete anos antes de se afundar na noite da loucura, escreveu a Ida, mulher do seu amigo Overbeck, advertindo-a para que não abandonasse a ideia de Deus: "Eu abandonei-a, quero criar algo de novo, e não posso nem quero voltar atrás. Desmorono-me continuamente, mas não me importa". Sem Deus nem eternidade, na ditadura do presentismo consumista, hedonista, individualista, apenas restam instantes que se devoram na voragem do efémero.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Bento XVI e Fátima

Jean-Marie Guénois, vaticanista do jornal francês ‘Le Figaro’: “Algo aconteceu em Portugal e em Fátima, em particular” 30 Mai. 2010

Duas semanas depois da visita de Bento XVI a Portugal, a VOZ DA VERDADE quis saber como o mundo viu a viagem apostólica do Santo Padre ao nosso país. Numa entrevista por e-mail, o vaticanista Jean-Marie Guénois, do jornal francês ‘Le Figaro’, acredita que a viagem vai ficar na história do papado como um ponto de viragem do pontificado e garante que “algo aconteceu em Portugal e em Fátima, em particular”.

Que balanço faz da visita de Bento XVI a Portugal?

Vejo esta viagem apostólica como um resumo do seu Papado e da Igreja! Na prática, esta viagem marca uma recuperação no pontificado de Bento XVI. Mas não é uma recuperação artificial nem técnica, tal como a recuperação dos preços das acções, mas uma recuperação baseada na verdade. A verdade da grandeza da dimensão da Igreja. Ela não pode ser resumida num escândalo de padres pedófilos. A Igreja é um povo, e os portugueses demonstraram-no muito bem. Um povo liderado por padres, bispos e pelo Papa, que são fundamentalmente os servidores do povo. E isso foi visível durante esses quatro dias. E todos são animados pela fé, esperança e caridade nessa ocasião. Os portugueses trouxeram o Papa e Bento XVI foi trazido pelos portugueses. Foi a Igreja! No fundo, Bento XVI deu nos seus discursos um resumo do seu pensamento e do seu pontificado: o cristianismo atraído pelo exemplo, e não pelos discursos; proposto e não imposto; em que os cristãos são missionários de Cristo e não de uma ideologia; por isso devemos deixar as ideologias e conciliar a fé e a razão.

Qual o momento que definiria como o mais marcante desta viagem e porquê?

Penso numa imagem, para mim a mais forte de toda a viagem: quando Bento XVI ofereceu uma rosa a Nossa Senhora de Fátima. Isto pode parecer ridículo e infantil, mas foi em Fátima que a mais bela espiritualidade da Igreja apareceu, em plena luz do dia. A espiritualidade da criança que sabe que deve tudo a Deus. Escolhi este exemplo porque tive o privilégio de estar a poucos metros do Papa e fiquei impressionado – tocado até – com a simplicidade da sua meditação. Parecia uma criança que trouxe um presente para a sua mãe. Nada existia à sua volta, nem câmaras de televisão, nem a multidão, nem mesmo o estatuto de Papa. Ali, era um grande cristão, humilde, que parecia falar com ‘alguém’ que estava realmente presente. Estas são coisas que normalmente não descrevemos no nosso trabalho como jornalistas, mas, desta vez, o mistério foi ‘palpável’. Nesse sentido, essa imagem resume toda a viagem: o poder da fé, a força de Fátima e a simplicidade humana que fala mais que palavras, porque a fé fala directamente ao coração. É realmente a mensagem chave, fundamental para a fé cristã.

Surpreendeu-o a recepção, e mesmo o carinho, dado pelos portugueses ao Santo Padre?

Não, de todo, porque estávamos num país maioritariamente de cultura católica. Mas o que me surpreendeu foi ver a densidade do afecto dos portugueses para com o Papa. Nós [vaticanistas] sentimos que esse afecto era sólido. E chama-se fidelidade, acredito eu, contra todas as probabilidades, sem grandes discursos, mas através de actos concretos. Que lição e que dignidade!

Qual terá sido a importância deste acolhimento para o pontificado de Bento XVI? Vários especialistas internacionais consideram mesmo que a peregrinação a Portugal abriu uma nova etapa neste pontificado…

Longe de mim querer ‘reduzir’ a viagem à crise de pedofilia na Igreja. Mas o facto é que esta viagem a Portugal – graças à mobilização dos portugueses –, marca uma ruptura na história dessa triste polémica mundial. Não terá sido no avião que o levou para Lisboa – onde Bento XVI convidou a Igreja a assumir a sua própria responsabilidade e nem sempre a culpar o mundo exterior – mas especialmente na missa de 13 de Maio, em Fátima, onde estiveram meio milhão de fiéis e a diferença foi feita. Eles ‘votaram com os pés’, como se diz em França, para dizer que a Igreja não era a crise de pedofilia e que o Papa estava longe de estar isolado. Isso impressionou em França e mudou a imagem do Papa. De facto, escrevi um artigo intitulado ‘Le rebond de Benoît XVI’ (‘A recuperação de Bento XVI’). Mas confesso que não foi percebido dessa forma se não fosse a mobilização do povo português.
Parece-me que esta viagem vai ficar na história do papado como um ponto de viragem. Ela não marca o fim da crise dos padres pedófilos, mas o fim da dúvida. E fez voltar a Igreja Católica ao essencial, que é composto principalmente pelos fiéis e pelos seus sacerdotes e bispos. Uma Igreja que não pode ser reduzida a alguns sacerdotes desviantes.

A mensagem do Papa em Portugal teve impacto mundial? Quais foram os ecos desta visita na imprensa internacional?

O impacto foi mundial, sem dúvida, precisamente por causa do contexto e da capacidade de resposta do povo português. Não podemos dizer que a multidão não foi ao encontro em Fátima! No fundo, o apelo à missão dos cristãos na sociedade lançado por Bento XVI em Portugal parece-me algo completamente inédito na sua intensidade. Não é como um retorno ao passado, mas como uma redescoberta da alegria dos primórdios do cristianismo. Não surge como uma imposição, mas como uma proposta. Não é uma luta sem inteligência contra as forças da razão, mas uma reconciliação com as forças da razão. É assim o pontificado de Bento XVI. Quase que se poderia dizer que a mensagem desta viagem é uma versão condensada do seu pontificado. E o impacto global da mensagem é que se está a fazer justiça para com o seu pontificado, na sua verdadeira dimensão, e não na sua caricatura.

Acredita que mudou a imagem que o mundo tem de Bento XVI depois da visita a Portugal?

Sim, a imagem mudou para o público em geral, mesmo que ainda existam pessoas que não ‘querem’ ver o óbvio. Mas o que é mais impressionante é, mais uma vez, ver que a força da imagem de Bento XVI é precisamente não ‘fabricar’ uma imagem artificial. Se olharmos atentamente para as coisas como elas são produzidas, vemos um Papa humilde, simples, verdadeiro e inteligente, que cativou Portugal. Esta não é uma imagem. É ele, como ele é. E, pela primeira vez – mas acho que isso só foi possível porque se sentiu ‘tocado’ pela mobilização dos portugueses –, foi a sua verdadeira imagem que passou. Sem a mobilização dos fiéis nas ruas, a caricatura do Papa teria ficado. A mobilização tem aberto as portas para o público global, que foram fechadas com a crise dos padres pedófilos. Basicamente, este lado revelou a verdadeira face da Igreja e, portanto, o verdadeiro rosto do Papa. Obrigado Portugal! Não o digo por demagogia barata, mas como algo muito pessoal. Quando trabalhamos há meses sobre esta notícia sórdida da pedofilia e depois vemos a força do testemunho do povo português, isso também nos faz bem a nível profissional. Esta não é uma concessão, mas uma observação subjectiva de um jornalista objectivo: algo aconteceu em Portugal e em Fátima, em particular.

João Carita

Fonte: http://www.servitasdefatima.org/News/entrevistajeanmarieguenois.aspx

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Direito por linhas tortas

Por João César das Neves

Vivemos estes dias um dos fenómenos mediáticos mais inesperados, atrevidos e provocadores da nossa era. Terminou na passada sexta-feira, festa do Sagrado Coração de Jesus, o ano sacerdotal iniciado pelo Papa Bento XVI a 19 de Julho de 2009. Isto, que parecia pacífico, mostrou-se revolucionário.

A função sacerdotal, vasta e profunda na Igreja, tem na pessoa do padre o seu ponto central, como indica a referência aos 150 anos da morte de S. João Maria Vianney, humilde cura de aldeia. Organizar um ano de celebrações à volta dessa figura é, na nossa sociedade, um dos maiores atrevimentos culturais.

Não só o cristianismo é a única ideologia que hoje se pode atacar sem violar a tolerância, mas nele o padre é o aspecto mais desprezado. No Ocidente, a Igreja, mesmo se marginal, não goza do estatuto protector de minoria. Qualquer bizarria está mais defendida de críticas que ela. Tendo sido cultura dominante durante séculos, a crítica ao catolicismo é, no actual quadro de rebeldia adolescente, emblema de modernidade e progressismo, mesmo entre católicos. Aquilo que seria intolerável contra outros grupos sociais é comum com a Igreja em geral, e os padres em particular. Eles são, pode dizer-se, a menos respeitada de todas as profissões aceitáveis. Admira-se este ou aquele clérigo, mas o conjunto não presta. Assim, a surpreendente decisão de Bento XVI inclui uma serena mas contundente provocação à opinião dominante, levando os fiéis a meditarem sobre tudo o que a comunidade recebe das mãos e ministério dos sacerdotes.

Só que aquilo que devia ser um período de reflexão, gratidão e celebração transformou-se num momento de terrível pressão mediática. Os escândalos de pedofilia centraram as atenções nos padres, mas pelas piores razões. Chega-se a duvidar se, afinal, será profissão aceitável.

Este contraste entre propósitos e resultados chega para marcar este na longa história dos anos comemorativos. Não haverá outro em que o desvio seja maior. Isto não se deve a uma coincidência, porque realmente não aconteceu nada. Os factos que suscitam as acusações são antigos, alguns muito antigos, a ponto de nem permitirem investigações policiais. As notícias não são novidades. O único motivo está no interesse dos jornalistas, que decidem concentrá-las agora. Também é difícil sustentar a tese de cabala organizada, sendo impossível orquestrar uma campanha de tal dimensão.

O mais surpreendente no episódio é, assim, ele parecer genuinamente fortuito. Claro que o quadro cultural ajuda. Se os jornais procurassem casos de pedofilia de professores, médicos ou outros (que os poucos estudos sérios indicam serem bastante mais frequentes), ninguém se lembraria de deduzir daí consequências sobre a respectiva classe profissional. Aliás, se o fizessem, imediatamente apareceriam as competentes organizações sindicais a criticar abespinhadamente tais insinuações. Mas os padres não se defendem. Chocados com o comportamento dos colegas, batem no peito e baixam a cabeça. São os únicos profissionais que sofrem vergonha e responsabilidade por actos de outros.

Deste modo, o caso concede autorização aos inimigos da Igreja para insultar alegremente todo o clero, e até a instituição, sem temer resposta. Pior, se alguém disser que assim se conspurca uma multidão de inocentes por causa de um punhado de criminosos, logo se acusa de insensibilidade ao horrível sofrimento das crianças. É espantoso, mas existe mesmo muita gente capaz de retirar consequências para a doutrina e a hierarquia católicas destes poucos e velhos comportamentos aberrantes. Será que também duvidam da educação e medicina por existirem profissionais perversos?

Noutro sector isto não passaria de uma falhada operação de relações públicas. A Igreja, também nisto, é diferente. Que os nossos padres, totalmente inocentes, tenham sofrido terrível vitupério simplesmente por serem o que são, logo no ano que lhes era dedicado, é um mistério espantoso. Afinal, na perspectiva cristã, centrada na cruz, o ano sacerdotal correu mesmo bem.

domingo, 13 de junho de 2010

P. António Vieira

quinta-feira, 10 de junho de 2010

De noite há sempre Estrelas

A Igreja Católica perdeu um dos seus grandes cruzados, que combateu o bom combate, o grande luzeiro que ardera no site da Montfort, apagou-se.. abrasou e acendeu milhares de corações que hoje fazem brilhar a Fé que ganharam e fortaleceram.. pequenas luzes que são a esperança da Igreja no futuro! Como Jesus disse "Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto." João 12:24 Que aqui em Portugal, também sejam muitos os seus frutos, pois o mar que a Montfort navega, é um mar que não tem distancias, que Deus aos nossos dias concedeu! Que a chama de Ourique que Portugal herdou desde a sua fundação, possa hoje revigorar-se com todas as pequenas chamas que o Prof. Orlando acendeu nas terras lusitanas ao longo da sua vida, com a esperança de que num futuro próximo possa haver também aqui grupos católicos tradicionais que combatem o bom combate, e desde já alisto-me neles!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Orlando Fedeli

Faleceu o Prof. Orlando Fedeli!
Que todos os que lerem esta mensagem possam rezar por sua alma, que tantas Catedrais construiu nas almas dos seus leitores e tanto combateu os inimigos da Igreja Católica! Que sua alma descanse em Paz..

Bento XVI

Excerto de entrevista, traduzida pelo site Montfort!

III- Sobre o Motu Proprio Summorum Pontificum:

Padre Aulagnier: “Esse Motu Proprio talvez produzirá lentamente todos os seus frutos. Talvez serão necessárias várias gerações, mas o movimento foi lançado, e ele é inelutável. Não se voltará atrás. Quando ouço o Papa denunciar, discurso atrás de discurso, o relativismo do pensamento moderno, e afirmar contra isso que a inteligência foi feita para a verdade e que o verdadeiro – Deus é a verdade – é a única fonte do equilíbrio moral, quando ouço o Papa conclamar que se volte ao estudo do ser, que é a nobreza da razão e fonte do realismo que só ele permite de fugir do subjectivismo e do pensamento cartesiano, assim como quando ele fez seu discurso em Ratisbona, eu me alegro.

Quando, nesse mesmo discurso, eu ouço o Papa dizer, na cara de todos os agnósticos presentes ou ausentes que «uma razão surda ao divino e que repele as religiões ao domínio das sub-culturas, é inapto ao diálogo das culturas», eu me alegro com isso. Não condenou ele assim todo o laicismo contemporâneo que inspira tão fortemente nossos políticos? Esse é um aspecto essencial da Modernidade. Não condenou ele também por suas palavras esta edificação da Europa cujos responsáveis recusam colocar Deus e a religião cristã, tão essencial à Europa, no coração da constituição europeia? Quando vejo que todas essas ideias têm um eco tão forte na igreja ortodoxa de Moscovo e que as relações estão melhorando a ponto que se ouve dizer que haverá um provável encontro, e mesmo iminente entre Bento XVI e o Patriarca de Moscovo, eu me alegro. Compreendo quanto as críticas de Hans Küng contra Bento XVI são injustas e miseráveis. O próximo encontro de Roma e Moscovo mostrará quão pouco fundamento tinha a sua crítica. Ele se desonra. Quando ouço o Papa tão corajosamente condenar qualquer aborto e falar tão altamente em favor da vida desde o nascimento até a morte natural, eu me alegro. Tudo isso me faz compreender porque o «mundo « se desencadeia em ódio contra Bento XVI. Como dizia recentemente um pensador:compreendo essa oposição, porque Bento XVI é talvez o único « contestador» da «Modernidade», não do progresso material, mas do relativismo contemporâneo.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

We con the World

Não tenho uma posição sobre o conflito actual, que põe em confronto o direito à defesa do estado de Israel e a tentativa de ajuda humanitária à Gaza, nem a postagem deste vídeo pretende ser uma reivindicação de uma posição. Simplesmente não consegui resistir a postar este vídeo!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Sobre a Fé!

Jesus Cristo, a última palavra de Deus, "para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna."João 3:15 Podemos perguntar-nos como o homem chega à Fé em Jesus Cristo? que é o ponto fulcral da frase acima citada. Se podemos dizer que a Fé, é antes demais um dom de Deus, isto porque, só quem vem do Alto "dá testemunho daquilo que viu e ouviu" João 3:32 para isso Cristo encarnou para nos revelar a Verdade que Salva, e o próprio Pai pois "Quem me vê a mim vê o Pai" João 14:9 foi assim que nu na Cruz mostrou o amor que Deus tem por nós.
E para que muitos homens fossem salvos, constitui os seus discípulos fundadores da sua Igreja imperecível, que é o seu corpo, e já reina gloriosa no Céu. Simples, humildes e verdadeiras testemunhas enviados pelo Próprio para que anunciassem o evangelho da salvação a todo o homem, de toda a condição! Para que todo aquele que ouvisse e crê-se não pereça!
Todo o homem que houve a verdade é livre de crer ou não crer, consoante as suas razões, mas o fruto da recta razão é a Fé, pois reconhece o seu justo limite e a necessidade e o Bem da Fé, mas a Fé para florescer tem que ser semeada em terreno bom, como diz a parábola do semeador "O semeador saiu para semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram À beira do caminho e vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra: e logo brotaram, porque a terra era pouco profunda; mas, logo que o sol se ergueu, foram queimadas e, como não tinham raízes, secaram. Outras caíram entre espinhos e os espinhos cresceram e sufocaram-nas. Outras caíram em terra boa e deram furto: umas, cem, outras sessenta, e outras trinta." (Mt 13 3:8)
Assim semeada a semente da Fé pela pregação, nós passamos a conhecer o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, e o julgamento que fazemos dele e não apenas de uma parte que conhecemos ou a que mais nos convêm, e racionalmente definirmos como Bom, então temos Fé, recebemos o baptismo e tornamos-nos Católicos!
Por exemplo, os materialistas e liberais que fomentam o egoísmo, o hedonismo, o orgulho, só podem julgar Cristo como Louco, ainda que mutilam o Evangelho citando-o uma e outra vez, quando mais lhe convêm, mas ignoram e repugnam o corpo coerente da doutrina, que Cristo anunciou com a autoridade do Pai!
Os Judeus vêm Cristo como blasfemo quando este afirmava ser "Filho de Deus", outros vêm-no como um Profeta como os Islâmicos, ou iluminado como os Budistas, os Romanos julgaram-no como Criminoso!
Hoje os Agnósticos afirmam que não sabem, porque não o podem, e depois afirmam que não têm Fé porque Deus nã lhes iluminou com um conhecimento intuitivo e sentimental da Fé. Como se a Fé fosse um conhecimento interior e intuitivo que Deus dá aos homens, ou que este mesmo conhecimento fosse o que temos de divino em nós.. Daqui concluem que todas as religiões são boas e verdadeiras, pois de outro modo não se explicava porque no mundo árabe 99% das pessoas são islâmicas, na Índia são hinduístas, será que Deus esqueceu-se de dar lhes o conhecimento intuitivo e interior da Fé Católica nos homens desse território? é óbvio que não.
A Fé advêm da nossa vontade de Crer ou não de crer, depois de conhecermos e definirmos racionalmente dentro do limite da razão o Bem desta, e depois, coerentemente abraçarmos os mistérios inerentes à Fé, que sustentam de cima todo o edifício Bom, cujas as bases são a razão que o homem precisa, para chegar ao topo do edifício, conhecendo desde já as realidades de cima pela fé que sustenta, que é proclamando por milhões de testemunhas e mártires, que ouviram dos primeiros Apóstolos e que formam a Igreja Católica!
Assim nós Católicos, afirmámos que Jesus Cristo é filho de Deus, que encarnou para a remissão dos nossos pecados, (é só seguir o credo) , e é o fim de todas as coisas e para Ele todas as coisas são feitas! Assim no final da história a sociedade dos homens tornar-se-á o Reino de Deus no Céu! Cristo foi na história Amor e Luz tal como na Eternidade É e o homem deve ser!
Cristo foi na história Justo e Verdadeiro tal como na Eternidade É e o homem deve ser!
Cristo foi na história Grande e Humilde tal como na Eternidade É e o homem deve ser!
A todos homens bons que não têm Fé, é porque não ouvistes falar de Cristo, e aos agnósticos que não procuram a verdade, pois afirmam a incapacidade do homem em a conhece-la, e também afirmam que não têm Fé, porque Deus não lhes deu, podem esperar interminavelmente pelo conhecimento da verdade (vós preferis viver sem ela) e da Fé, pois Deus não se dá a conhecer intuitivamente, quando deu ao homem um espírito racional para conhecer o que é Bom e o que é mau, o que é Verdadeiro e que é errado, o que é Belo e o que é feio. Por isso "Deus é Amor"1 João 4:8, pois é a Dom mais Boa, mais Verdadeira e mais Bela.

Presidenciais

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Catequese do Papa: São Tomás de Aquino

Caros irmãos e irmãs, depois de algumas catequeses sobre o sacerdócio e de minhas últimas viagens, retornamos hoje ao nosso tema principal, isto é, à meditação sobre alguns dos grandes pensadores da Idade Média. Havíamos visto, na última vez, a grande figura de São Boaventura, franciscano, e hoje desejo falar daquele que a Igreja chama Doctor communis: isto é, Santo Tomás de Aquino. O meu venerado Predecessor, o Papa João Paulo II, na sua Encíclica Fides et ratio, recordou que Santo Tomás “foi sempre proposto pela Igreja como mestre de pensamento e modelo quanto ao reto modo de fazer teologia” (n. 43). Não surpreende que, depois de Santo Agostinho, entre os escritores eclesiásticos mencionados no Catecismo da Igreja Católica, Santo Tomás venha citado mais que qualquer outro, precisamente sessenta e uma vezes! Ele foi chamado também Doctor Angelicus, provavelmente por suas virtudes, em particular a sublimidade do pensamento e a pureza de vida.

Tomás nasceu entre 1224 e 1225 no castelo que a sua família, nobre e abastada, possuía em Roccasecca, nas proximidades de Aquino, vizinho à célebre abadia de Montecassino, aonde foi enviado pelos pais a fim de receber os primeiros elementos de sua instrução. Alguns anos depois se transferiu para a capital do Reino da Sicília, Nápoles, onde Frederico II fundara uma prestigiosa universidade. Ali era ensinado, sem as limitações vigentes alhures, o pensamento do filósofo grego Aristóteles, no qual o jovem Tomás foi introduzido, e cujo grande valor subitamente intuiu. Mas sobretudo, naqueles anos transcorridos em Nápoles, nasceu a sua vocação dominicana. Tomás foi, na verdade, atraído pelo ideal da Ordem fundada poucos anos antes por São Domingos. Todavia, quando revestiu o hábito dominicano, a sua família se opôs a esta escolha e ele foi constrangido a deixar o convento e a passar algum tempo com a família.

Em 1245, já maior de idade, pode retomar o seu caminho de resposta ao chamado de Deus. Foi enviado a Paris para estudar teologia sob a direcção de um outro santo, Alberto Magno, sobre o qual falei recentemente. Alberto e Tomás cultivaram uma verdadeira e profunda amizade e aprenderam a estimar-se e a se querer bem, a ponto de Santo Alberto querer que seu discípulo o seguisse a Colónia, aonde o próprio Alberto fora enviado pelos Superiores da Ordem a fundar uma escola de teologia. Tomás teve então contacto com todas as obras de Aristóteles e de seus comentadores árabes, que Alberto esclarecia e explicava.

Naquele período, a cultura do mundo latino fora profundamente estimulada pelo encontro com as obras de Aristóteles, que permaneceram desconhecidas por muito tempo. Tratava-se de escritos sobre a natureza do conhecimento, sobre ciências naturais, sobre metafísica, sobre a alma e sobre a ética, ricos de informações e de intuições que pareciam válidas e convincentes. Era toda uma visão completa do mundo desenvolvida sem Cristo e antes d’Ele, somente com a razão, e parecia impor-se à razão como “a” própria visão; despertava, pois, um incrível fascínio nos jovens ver e conhecer esta filosofia. Muitos acolheram com entusiasmo, até mesmo com entusiasmo acrítico, esta enorme bagagem do saber antigo, que parecia poder renovar vantajosamente a cultura, abrir totalmente novos horizontes. Outros, porém, temiam que o pensamento pagão de Aristóteles estivesse em oposição à fé cristã e se recusavam a estudá-lo. Encontraram-se duas culturas: a cultura pré-cristã de Aristóteles, com sua radical racionalidade, e a clássica cultura cristã. Certos ambientes foram levados à rejeição de Aristóteles também pela apresentação que de tal filósofo fora feita pelos comentadores árabes Avicena e Averróis. De fato, foram eles que transmitiram ao mundo latino a filosofia aristotélica. Por exemplo, estes comentadores haviam ensinado que os homens não dispõem de uma inteligência pessoal, mas que neles há um único intelecto universal, uma substância espiritual comum a todos, que opera em todos como “única”: portanto uma despersonalização do homem. Um outro ponto discutível veiculado pelos comentadores árabes era aquele segundo o qual o mundo é eterno como Deus. Compreensivelmente surgiram, no mundo universitário e no eclesiástico, disputas sem fim. A filosofia aristotélica estava sendo difundida inclusive entre o povo simples.

Tomás de Aquino, na escola de Alberto Magno, desenvolveu uma operação de fundamental importância para a história da filosofia e da teologia, eu diria, para a história da cultura:estudou a fundo Aristóteles e os seus intérpretes, buscando novas traduções latinas dos textos originais gregos. Assim não se apoiava mais somente nos comentadores árabes, mas podia ler pessoalmente os textos originais, e comentou grande parte das obras aristotélicas, distinguindo nelas o que era válido daquilo que era dúbio ou que devesse ser recusado totalmente, mostrando a consonância com os dados da Revelação cristã e utilizando ampla e agudamente o pensamento aristotélico na exposição dos escritos teológicos que compôs. Em definitivo, Tomás de Aquino mostrou que entre a fé cristã e a razão existe uma natural harmonia. E esta foi a grande obra de Tomás, que naquele momento de conflito entre duas culturas – momento no qual parecia que a fé devia dobrar-se diante da razão – mostrou que ambas caminham juntas, que quando aparecia uma razão não compatível com a fé não era razão, e quando aparecia uma fé não era fé, enquanto oposta a uma verdadeira racionalidade; assim ele criou uma nova síntese que formou a cultura dos séculos seguintes.

Por seus excelentes dotes intelectuais, Tomás foi chamado a Paris como professor de teologia na cátedra dominicana. Ali também deu início a sua produção literária, que prosseguiu até a morte, e que há algo de prodigioso:comentários à Sagrada Escritura, porque o professor de teologia era sobretudo intérprete da Escritura, comentários aos escritos de Aristóteles, obras sistemáticas poderosas, entre as quais se destaca a Summa Theologiae, tratados e discursos sobre vários temas. Para a composição de seus escritos era coadjuvado por alguns secretários, entre os quais o confrade Reginaldo de Piperno, que o seguiu fielmente e ao qual se ligou por uma profunda e sincera amizade, caracterizada por uma grande familiaridade e confiança. Esta é uma característica dos santos: cultivam a amizade, porque ela é uma das manifestações mais nobres do coração humano e que tem em si algo de divino, como o próprio Tomás explicou em algumas quaestiones da Summa Theologiae, na qual escreve: “A caridade é a amizade do homem com Deus principalmente, e com os seres que a Ele pertencem” (II, q. 23, a. 1).

Não permanece muito tempo e estavelmente em Paris. Em 1259 participou do Capítulo Geral dos Dominicanos em Valenciennes, onde foi membro de uma comissão que estabeleceu o programa de estudos na Ordem. Depois, de 1261 a 1265, Tomás estava em Orvieto. O Papa Urbano IV, que nutria por ele uma grande estima, lhe confiou a composição dos textos litúrgicos para a festa de Corpus Christi, que celebramos amanhã, instituída em seguida ao milagre eucarístico de Bolsena. Tomás teve uma alma autenticamente eucarística. Os belíssimos hinos que a liturgia da Igreja canta para celebrar o mistério da presença rela do Corpo e do Sangue do Senhor na Eucaristia são atribuídos à sua fé e à sua sabedoria teológica. De 1265 até 1268 Tomás residiu em Roma, onde, provavelmente, dirigia um Studium, isto é, uma Casa de estudos da Ordem, e onde começou a escrever a sua Summa Theologiae (cf. Jean-Pierre Torrell, Tommaso d’Aquino. L’uomo e il teologo, Casale Monf., 1994, pp. 118-184).

Em 1269 foi novamente chamado a Paris para um segundo ciclo de magistério. Os estudantes – compreende-se bem – eram entusiastas de suas aulas. Um ex-aluno seu declarou que uma grande multidão de estudantes seguia os cursos de Tomás, tanto que as salas mal podiam comportá-los e acrescentava, com uma anotação pessoal, que “escutá-lo era para ele uma felicidade profunda”. A interpretação de Aristóteles dada por Tomás não era aceita por todos, mas mesmo os seus adversários no campo académico, como Godofredo de Fontaines, por exemplo, admitiam que a doutrina de frei Tomás fosse superior às outras por utilidade e valor e servia como correctivo às de todos os outros doutores. Talvez também a fim de subtraí-lo às intensas discussões em curso, os Superiores o enviaram uma vez mais a Nápoles, à disposição do rei Carlos I, que pretendia reorganizar os estudos universitários.

Além do estudo e do ensino, Tomás se dedicou também à pregação ao povo. E também o povo, de boa vontade, ia escutá-lo. Eu diria que é verdadeiramente uma grande graça quando os teólogos sabem falar com simplicidade e fervor aos fiéis. O ministério da pregação, por outro lado, ajuda os próprios estudiosos de teologia com um saudável realismo pastoral, e enriquece de vivos estímulos suas pesquisas.

Os últimos meses de vida terrena de Tomás permanecem circundados por uma atmosfera particular, diria até misteriosa. Em Dezembro de 1273 chamou o seu amigo e secretário Reginaldo para comunicar-lhe a decisão de interromper todo trabalho, porque, durante a celebração da Missa, havia compreendido, em seguida a uma revelação sobrenatural, que tudo quanto havia escrito até então era somente “um monte de palha”. É um episódio misterioso que nos ajuda a compreender não somente a humildade pessoal de Tomás, mas também o fato de que tudo aquilo que conseguimos pensar e dizer sobre a fé, não obstante elevado e puro, é infinitamente superado pela grandeza e pela beleza de Deus, que nos será revelada em plenitude no Paraíso. Alguns meses depois, sempre mais absorvido em uma profunda meditação, Tomás morreu enquanto viajava para Lyon, para onde se dirigia a fim de tomar parte no Concílio Ecuménico convocado pelo Papa Gregório X. Expirou na Abadia cisterciense de Fossanova, depois de ter recebido o Viático com sentimentos de grande piedade.

A vida e a doutrina de Santo Tomás de Aquino se poderia resumir em um episódio transmitido pelos antigos biógrafos. Enquanto o Santo, como seu costume, estava em oração diante do Crucifixo, logo pela manhã na Capela de São Nicolau, em Nápoles, Domingos de Caserta, o sacristão da igreja, ouviu desenvolver-se um diálogo. Tomás perguntava, preocupado, se tudo o que havia escrito sobre os mistérios da fé cristã estava correto. E o Crucifixo responde: “Tu falaste bem de mim, Tomás. Qual será a tua recompensa?”. E a resposta que Tomás deu é aquela que também nós, amigos e discípulos de Jesus, queremos sempre dar-lhe: “Nada além de Ti, Senhor!” (Ibid., p. 320).

BENEDICTUS PP. XVI

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