Senhor, não olheis para as nossas faltas, mas para a nossa Fé, Ámen!
O general Turreau, que segue os acontecimentos da prisão, compreendeu esta evolução e, ainda depois do 13 Vindemiário, exige ser julgado: sabe que nao só não arrisca nada como, mais ainda, pode recuperar a sua honra. Absolvido, não tem sequer um olhar de compaixão para com Chapelain, o depurado republicano da Vendeia, apupado pelo público por ter denunciado os horrores cometidos. Desesperado, enojado com a situação, este último, tentará mesmo acabar com os seus dias, pois está ciente de que a Nação fez uma opção definitiva: os argumentos suceder-se-ão, lógicos, cruéis, injustos, desonestos. A unidade nacional, consciente e inconsciente, cristalizou-se contra os vendeanos: nada mais poderá tornar a pôr essa escolha em questão e ai daquele que ouse relembrar a realidade dos acontecimentos!
Sós, os generais vendeanos, por causa da sua envergadura, do respeito que suscitavam, do seu conhecimento exacto dos acontecimentos, teriam podido, eventualmente, quebrar esta lógica nascente. Infelizmente, todos estavam mortos: Cathelineau, Bonchamps, Lescure, mortos por balas anónimas, d'Elbée, Charette, Stofflet, fuzilados; o príncipe de Talmont, guilhotinado, etc.
Resta o problema da memória, ou, mais exactamente, das memórias, porque se impõe fazer a distinção entre a memória nacional e a memória local.
Bonaparte é o primeiro agente da memória nacional. Quando toma o poder em 1799, uma das suas primeira preocupações é o restabelecimento da paz na Vendeia. Além da evidente finalidade política, o general tem também um reflexo humanitário. Está, e di-lo-á repetidamente, escandalizado pelo que tinha sido feito: «Ah! Eis aí a guerra civil e o seu pavoroso cortejo: eis os seus resultados inevitáveis; os seus frutos garantidos! Se alguns chefes fizeram fortuna e se livraram de responsabilidades , a poeira da população é sempre calcada aos pés; nenhum dos males lhe escapa!» Aliás, ele tinha-se recusado deslocar-se à Vendeia no quadro da repressão. Os Vendeanos não se enganam quando no 15 Brumário, ano VIII, gritam a plenos pulmões: «Viva o rei, viva Bonaparte!»
O sectarismo do Directório e as perseguições que se lhe seguiam resultaram, por conseguinte, numa formidável extensão da guerra no Oeste, em 1799. Numerosos contemporâneos assinalaram as graves consequências que daí podiam advir, tal como foi apresentado em dois relatórios anónimos (assinados X) de 23 e 26 de Ventoso, ano VI, expedidos de Nantes para o ministro. O primeiro texto assinala o ressurgir das críticas contra o regime, mesmo por parte de pessoas aparentemente alinhadas com a República: as paixões animam-se; os agentes são vítimas de ameaças; os descontentes elevam a voz. Os culpados, segundo as testemunhas, são indiscutivelmente os padres que «se agitam e abusam mais do que nunca da sua pérfida influência para doutrinar os fracos no momento das festas da Páscoa que se aproximam.» Realizam-se todas as noites, um pouco por todo o lado, reuniões populares para a recitação do terço: «Os habitantes são convocados para os locais, indicados por toque de corneta.» O segundo relatório menciona «manobras subversivas» e queixa-se ainda de padres que «pregam a rebelião» e anunciam o fim próximo do governo. A administração, face a estes acontecimentos, adopta, numa primeira fase, uma atitude com nuances, depois alinha-se francamente com os vendeanos. Proíbe que se toque músicas patrióticas no início dos espectáculos e reage vivamente, em Setembro de 1798, à decisão do Directório de proceder a um novo recrutamento de homens. Esta reacção leva ao fracasso da lei designada por Lei Jourdan. O Directório, furioso, decide então sancionar os pretensos culpados e faz reocupar militarmente a região, o que dá lugar à multiplicação das manifestações de cólera, tanto mais violentas quanto o clero é de novo perseguido e a prática religiosa proibida.
Fonte: O Livro Negro da revolução Francesa DIR. Renaud Escande
domingo, 13 de março de 2011
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