sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Pormenores

Nos últimos dias a imprensa tem-se ocupado com uma notícia que não nos podia passar despercebida. Trata-se do empreendimento de uma senhora de 81 anos, no Santuário de Nossa Senhora de Borja. Já devem saber do que falo. A senhora, movida de boas intenções, arriscou restaurar, por conta própria, uma imagem do Ecce Homo. Na primeira vez que vi a notícia, a senhora dizia que "restaurou" a obra no santuário, com muitas pessoas a ver. Passaram poucos dias e a notícia de hoje falava de uma senhora fechada em casa com crise de ansiedade e de uma onde de peregrinações ao santuário porque "ninguém quer deixar de ver a obra com os próprios olhos". Não venho, de maneira nenhuma, criticar a senhora. Quando vi, hoje, a notícia e os peregrinos em tom jocoso perante uma obra que deveria transmitir sofrimento, comecei a pensar: muitas vezes ouvimos perguntar sobre inovações litúrgicas que negligenciam e questionam porque é que a liturgia é assim e não de outra maneira, porque é que as igrejas estão adornadas com mais ou menos ouro, porque é que as vestes do sacerdote são mais ou menos esplendorosas, porque é que os fiéis se ajoelham...? Penso que esta situação veio responder a estas perguntas! Aqui está o resultado, caso não se obedeçam às normas litúrgicas da Igreja e se não se mantêm alguns gestos, alguns símbolos, algum cuidado (que será sempre mínimo, tendo em conta para quem é dirigido), então em pouco tempo tudo se transformaria num circo e motivo de chacota por parte dos não crentes, que veriam o rosto de Deus desfigurado pelos caprichos humanos. Se todos nós arrogássemos ser donos do culto a Deus e nos oferecêssemos para restaurar a liturgia ou algum gesto, a espera seria curta para vermos a Igreja Católica transformada num motivo de chacota.
Outra coisa em que pensei foi nos "restauros" que vemos tantas vezes e que não merecem peregrinações. As genuflexões ao entrar e sair da igreja que mais parecem espasmos parkinsónicos... entre outros. Penso que estas são boas ocasiões para rectificar a nossa conduta, porque a Igreja Católica somos nós. É de nós que se riem estes peregrinos, porque somos nós que transformamos os Ecce Homo em pinturas hilariantes quando não cuidamos da forma como tratamos Nosso Senhor. Sejamos bons pintores!

Sem comentários:

Enviar um comentário