sábado, 5 de fevereiro de 2011

O genocídio Vendeano (1793-1794) parte I

Senhor, ajudai-nos a perdoar, Ámen!

Um pequeno resumo sobre o destino dos que se levantaram contra a Revolução Francesa.

-A Gerra Civil propriamente dita, que vai de Março de 1793 a dezembro do mesmo ano e que termina com a derrota de Savenay: é uma guerra civil, certamente atroz, mas guerra civil antes demais;
-A enunciação, a concepção, a planificação e a realização de um sistema de aniquilamento e de despovoamento, de um «poppulicídio» como lhe chama os revolucionários, da Vendeia e dos Vendeanos, que nós, contemporâneos, assimilamos a um genocídio segundo a definição de Nuremberg, que começa em Abril de 1793 e termina com a queda de Robespieerre.

O advogado Villenave, a 15 de Dezembro de 1794, por ocasião do processo Carrier, testemunha em termos muito precisos sobre o contexto: «Depois das batalhas de Mans e de Savenay, a Vendeia foi aniquilada. Não restavam senão alguns pelotões rebeldes que Charettem Stoffflet e la Rochejaquelein se esforçavam por engrossar. As comunas entravam de novo na ordem. iriam ficar inteiramente submetidas: apenas a clemência , a brandura, a amnistia podiam fazer regressar a paz a estas infelizes regiões...»
Mas a convenção decidiu de modo diferente, Hentz e Francastel, comissários da Rpública, explicam-se a este respeito no quadro de um longo relatório de 38 páginas redigidas para a Convenção no Vindemiário, ano II: A ideia de uma amnistia era odiosa e a dignidade nacional rejeitava-a [...] apesar de a guerra da Vendeia estar politicamente terminada» daí o «sistema», prosseguiam eles, «proposto pela Convenção de que não haveria outro meio de fazer regressar a calma a esta região senão fazer sair dela todos os que não eram culpados e obstinados, exterminando o resto e repovoando-o o mais rapidamente possível com republicanos que defenderiam os seus lares...»
A ideia de exterminar a população vendeana é formulada pela primeira vez em 4 de Abril de 1793 por alguns políticos e oficiais superiores... No dia 1 de Agosto, a Convenção vota a destruição da Vendeia: florestas, bosques, matas devem ser abatidos, o gado apreendido, as habitações confiscadas, as colheitas apanhadas. Segue-se, no dia 1 de Outubro do mesmo ano, a lei de exterminação: « Soldados da liberdade, é preciso que os bandidos da Vendeia sejam exterminados antes do fim do mês de Outubro: a salvação da pátria assim o exige; a impaciência do povo francês o ordena; a sua coragem deve pô-lo em prática. O reconhecimento nacional aguarda nesta altura todos aqueles cujo valor e patriotismo terão consolidado para sempre a liberdade e a república.» .. «A Vendeia», exclama Turreau, general-em-chefe do Exército do Oeste, deve ser um cemitério nacional..» Os relatórios políticos e militares são de uma precisão eloquente; é necessário prioritariamente eliminara as mulheres «sulcos reprodutores» e as crianças «porque virão a ser elas os futuros bandidos». Desaparece igualmente o risco das represálias e da vingança. Criam mesmo campos de extermínio que lhes são reservados, como em Noirmoutier. Em Bourgneuf e Nantes, organizam afogamentos especiais para as crianças.
Os Vendeanos não devem mais reproduzir-se, daí o recurso a um simbolismo macabro que consiste em cortar sexos masculinos para fazer deles, entre outras coisas, brincos ou para os pendurar à cintura como outros tantos troféus, ou ainda fazer explodir cartuchos no aparelho genital das mulheres. Ai daquele que proteja «esses lobas e esse lobachos.» O carrasco Lamberty sofrerá por causa disso a terrível experiência: «Por ter roubado alguns ao afogamento», é preso e condenado à morte. É certo que algumas crianças são «confiscadas» por habitantes de Nantes, mas não podem conservá-las consigo, a não ser que prometam garantir a sua «regeneração.» A questão dos Vendeanos azuis é repetidamente abordad. Não há dúvida, são republicanos e provaram-nos, mas são também Vendeanos, o que por si só constitui o maior dos crimes. Decide-se, portanto, eliminá-los também: «A morte de um patriota é pouca coisa quando se trata da salvação pública», explica o general Grignon. Carrir é definitvo: «Aliás», pontifica ele, não pode haver mais vendeanos. Posso afirmar-vos que não ficou um único patriota na Vendeia. Todos os habitantes desta região tomaram parte mais ou menos activa nesta guerra.» Os representantes Hentz, Garreau e Francastel são também categóricos: «Todos os habitantes agora residentes na Vendeia são rebeldes, todos encarniçados [...]. Chegados a este ponto, a guerra não poderá estar completamente terminada senão quando já não existir um só habitante na Vendeia.» Esta vontade declarada de extermínio total deixa estupefactos os republicanos que não estão ao corrente das ordens emitidas. Alguns deles, como o maire de Fontenay-le-Comte, Mariteau, manifestam por escrito a sua surpresa e indignação perante esta violência: «Em 12 [Nivoso ano II] o horror do cenário aumenta, o general Amey parte com a sua coluna e incendeia todas as granjas desde La Rochelle até Herbiers. Numa distância de 3 léguas, nada foi poupado. OS homens, as mulheres, mesmo as crianças de peito, as mulheres grávidas, todos pereceram às mãos da sua coluna. Em vão alguns infelizes patriotas, com os certificados de civismo na mão, intercederam pelas suas vidas a esses possessos; não foram escutados; degolaram-nos. Para acabar de descrever as perversidades deste dia, é necessário dizer que os fenos foram queimados nas granjas, os cereais nos celeiros, os animais nos estábulos e, quando alguns desgraçados agricultore, bem conhecidos pelo seu civismo, tiveram a infelicidade de serem encontrados a desamarrar os seus bois, não foi preciso mais nada para serem fuzilados....
Em 7 de Novembro, a Convenção, por ocasião de uma sessão solene, vai ainda mais longe e risca do mapa da França a Vendeia para passar a designá-la por departamento «Vengé». O seu raciocínio é lógico: como um homem não pode revoltar-se contra a República, o vendeano não pode, pois, ser considerado como tal e visto que os não-homens não podem possuir bens, portanto um território, este território não pode continuar a ter nome: por conseguinte é «desbaptizada». Como é necessário regenerar esta terra, entre outras medidas com o repovoamento com bons republicanos, dá-se-lhe um novo nome: o departamento «Vengé».

Fonte: O Livro Negro da revolução Francesa DIR. Renaud Escande

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