quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O genocídio Vendeano (1793-1794) parte III

Senhor, ajudai-nos a ser mais do que as nossas forças nos permitem, Ámen!

Nota: O Cristianismo foi a base no qual a civilização Europeia e Ocidental nasceu, no entanto hoje a Europa continua o seu percurso de auto-destruição, com algumas excepções..

Durante muito tempo, acreditou-se que estes afogamentos se limitavam unicamente à cidade de Nantes (23 pelo menos estão aí recenseados, um dos quais de pelo menos 1200 pessoas). De facto, não foi assim e encontramo-los um pouco por todo o lado: em Angers, Ponts-de-Cé, Pellerin, etc.
Conforme os casos, estes afogamentos são individuais, por casal ou em conjunto. Os afogamentos por casal, designados por «casamentos republicanos», divertiram e marcaram particularmente os organizadores e as testemunhas por motivos do seu carácter: trata-se de unir nus (o vestuário é confiscado e vendido pelos carrascos) em posições obscenas um homem e uma freira, etc., antes de os lançar à agua. Para os afogamentos em conjunto, o procedimento é mais longo: amontoam «o carregamento humano»numa galeota munida de escotilhas: uma vez ao largo, partem as pranchas em bocados a golpes de machado; a água esguicha por todos os lados e em poucos instantes o barco vai ao fundo e os prisioneiros morrem afogados: se assim não acontece, os sobreviventes são imediatamente passados a sabre, aí advindo a expressão de «sabrade» inventada por Grandmaison. A fim de dissimular os gritos, «os afogadores fingem cantar em altas vozes». Wailly, testemunha de um desses afogamentos, relata de maneira muito precisa o que viu : «Duas barcaças, carregadas de indivíduos, pararam num local denominado La prairie aux Ducs. Aí, eu e os meus camaradas presenciámos a carnificina mais horrível que alguma vez possa ser vista; mais de 800 indivíduos de todas as idades e de todos os sexos foram desumanamente afogados e cortados em bocados. Ouço Fourquet e os seus ajudantes repreender alguns de entre eles por não saberem dar golpes de sabre e mostravam-lhes com o seu exemplo como se devia proceder. As barcaças não iam ao fundo suficientemente depressa; disparavam tiros de espingarda sobre os que estavam por cima. Os gritos horríveis dessas desgraçadas vítimas ainda animavam mais os seus carrascos. Observei que todos os indivíduos que afogaram nessa noite foram previamente despojados, nus como a palma da mão. Em vão as mulheres imploravam que lhes deixassem as camisas; tudo lhes foi recusado e pereceram. As suas roupas, as suas jóias, os seus assignats constituíram a presa destes antropófagos e o que custa a acreditar é que aqueles que os tinham assim despojado vendiam na manhã do dia seguinte estes despojos a quem mais oferecesse.» São numerosos os testemunhos desta natureza, de que faz eco o advogado Tronson-Ducoudray, por ocasião do processo Carrier. Para além das meras alegações, compreende-se o que o homem viu e ouviu: «Vedes estas mulheres, estas desgraçadas mães precipitadas nas ondas com os seus filhos. A infância, a amável infância [--] tornada objecto da raiva mais inacreditável. Um crime, que os furores da guerra mal tornam credível, foi cometido em Nantes, armada para a pátria. Crianças de dez, de cinco, de dois anos, crianças de peito são massacradas ou afogadas. Vejo estes desgraçados estendendo os braços inocentes para os seus carrascos, sorrindo ao colo de quem lhes pega e de que um braço feroz os arranca. Vejo-os debaterem-se ante os gritos das suas mães que chamam ainda por eles [..]. Vejo o rio trazer para as margens uma mulher segurando ainda ao peito o filho morto, uma rapariga abraçada a sua mãe [..]. Passo pela praça em que se encontra o instrumento de suplício. Vejo um jovem de 13 anos sobre o cadafalso; diz ao executor esta expressão lancinante: "Vais-me fazer doer muito?" Está amarrado à prancha cuja proporção indica a estes bárbaros que a justiça não amarra ali crianças. O seu corpo mal chega à linha correspondente à direcção do cutelo.. Em outros lados [..] são homens, mulheres ou crianças que fuzilam ou despedaçam a golpes de sabre e de baionetes..»
Os convencionais, com uma preocupação de economia (uma embarcação afundada custa 200 libras) tentaram a asfixia a partir de barcos hermeticamente fechados. Este meio, entretanto, deixou de ser utilizado em resultado de uma queixa à municipalidade: «O estertor dos moribundos incomoda os moradores...»
Segue-se, logicamente, a terceira fase. O fracasso é notório pela falta de um plano conjunto. A convenção pede a Turreau, general-em-chefe do exército do Oeste, de o conceber, o que ele fez em termos muito precisos. Para levar a bom porto a sua missão, apoia-se em 3 estruturas: as colunas infernais, ou «retaguardas de Robespierre», que se põem a caminho em 21 de Janeiro de 1794, a flotilha no Loire e a Comissão de Subsistência. Prudente solicita o aval do Comité de Salvação Pública que lhe é concedido em 8 de Fevereiro por intermédio de Carnot: «Queixas-te, cidadão general, de não teres recebido do Comité uma aprovação formal para as tuas medidas. Elas parecem-lhe boas e puras mas, afastado do teatro de operações, aguarda os resultados para se pronunciar: extermina os bandidos até ao último, eis o teu dever...» Turreau fica tranquilizado, tanto mais que já tinha dado as suas orientações, em 17 de Janeiro, quatro dias antes de pôr em marcha as suas tropas: «Camaradas, entramos num país insurrecto. Dou-vos ordem de pegar fogo a tudo o que seja susceptível de ser queimado e de passar a fio de baioneta todos os habitantes que encontrardes. Sei que devem existir alguns patriotas nesta região, tanto faz, devemos sacrificá-los todos.» Em 24 de Janeiro, ou seja, três dias depois do começo dos «passeios», relembra as instruções e a finalidade da operação: «Se as minhas intenções forem bem secundadas, dentro de quinze dias deixarão de existir na Vendeia casas, alimentos, armas e habitantes. É preciso que o que haja de madeira, de floresta na Vendeia seja abatido..»
Toda a ordem dada subentende relatórios e os generais e outros responsáveis encarregados das operações, como bons militares, desempenham-se escrupulosamente da missão. Estes relatórios, redigidos em duas vias, segundo a vontade dos políticos que desconfiam dos militares, encontram-se presentemente depositados, entre outros locais, nos arquivos militares do forte deVincennes. o relatório do general Caffin, de 27 de Janeiro, resume-os: «Eu tinha ordenado que passassem a fio de baioneta todos os celerados que pudessem encontrar e que queimassem as granjas e as aldeias vizinhas de Jallais; as minhas ordens foram pontualmente executadas e, neste momento 40 granjas iluminam o campos..» Do lado dos vendeanos, as descrições feitas revelam a atrocidade da situação, como foi a de Peigné, de Saint-Julien-de-Concelles: «Mulheres grávidos eram estendidas e esmagadas debaixo de prensas de lagares. Uma pobre mulher, que se encontrava nesta situação, foi esventrada viva em Bois-Chapelet, próximo de Maillon. Um homem, de nome Jean lainé, de La Croix-de-Beauchêne, foi queimado vivo no seu leito, onde estava retido por doença [..] . membros sangrentos e crianças de peito eram levados em triunfo na ponta de baionetas. Uma jovem de La Chapelle foi apanhada pelos carrascos que, depois de a terem violado, a penduraram num carvalho. Cada uma das pernas foi atada separadamente a um ramo e afastada o mais possível uma da outra. Foi nesta posição que a fenderam de alto a baixo com o sabre, até à cabeça, e a dividiram em dois...» Os registos clandestinos, como os do reitor Pierre-Marie Robin, pároco de la Chapelle-Basse-Mer, nas suas frias descrições, fazem-se eco de «esta carnificina», expressão empregada por Napoleão, referindo-se à Vendeia.

Fonte: O Livro Negro da revolução Francesa DIR. Renaud Escande

Sem comentários:

Enviar um comentário