Virai o vosso olhar para nós Senhor, Ámen!
A história da revolução cedeu sob o peso da sua própria história e o historiador «deve anunciar as suas cores». A análise liberal não foi retomada senão contra a análise social. Devemos nós ter de escolher entre liberdade e igualdade, entre Estado e sociedade: a confusão igualitária que se fundamenta sobre o paradoxo de uma dissolução da sociedade através da sua abstracção estadística (dentro do Estado) e a sua inscrição partidária (dentro dos partidos políticos); e a confusao liberal que se fundamenta sobre o paradoxo utilitarista de uma dissolução do estado através da particularização dos interesses sociais e a sua inscrição corporativista (com a produção de novos corpos intermediários privilegiados). Este duplo paradoxo, esta dupla confusão, constitui a mesma matriz jacobina de uma quantidade de tendências. Estrutura a sociedade em sindicatos e partidos e o debate público em programa e em reivindicação, em promessas e decepções. O jacobinismo é o mesmo plano de imanência que se constitui, portanto, em pluralismo ilusório. Aqueles que se defrontam ou debatem são as espécies de um mesmo género de jacobino fundado sobre a dissolução da diferença Estado-sociedade na inversão do conceito político na passagem do Bem comum (que é um fim) ao interesse geral (que é um meio), na instrumentalização do político pelo ideológico.
A revolução «jacobina» foi o mito de uma igualdade que se acreditou que, por meio da virtude generalizada, produziria a liberdade e sociedade e, ao querer uma realidade que as produziria a todas (as liberdades individuais e colectivas), ela celebrou o seu divórcio. O Comunismo considera que a felicidade social legitima uma tirania «de transição» e acaba por preferir a sua tirania à própria felicidade que se acredita que ela edifique; o liberalismo, pelo contrário, julga que a felicidade é mediatizada por uma liberdade de indiferença e também ele acaba por preferir o meio ao fim. Poderíamos dispensar um e outro, de costas uma para o outro, quando afinal eles só estiveram na história contemporânea face a face, e foi mesmo este face a face cínico que determinou os dois séculos que nos precedem. A Revolução estabeleceu as referências desta oposição que é a sua polaridade, o seu movimento dialéctico, a sua coincidentia oppositorum.
A liberdade do liberal é totalmente psicológica , não é historicamente mais do que uma vontade de poder e a sua desregulação esconde de facto a supressão de um direito protector dos mais fracos, é a sobrevivência de uma oligarquia adaptada ao jargão democrático. A sociedade comunista não é mais concreta, uma vez que ela se resume historicamente à instalação de um sistema carcerário generalizado. Entre a prisão e o direito do mais forte , o contemporâneo é esmagado: a tirania ou a oligarquia, ainda que ambas revestidas com o nome de democracia que elas conjuntamente reivindicam (liberal ou popular), são perigosíssimas regressões políticas, como se o homem, seguro da sua longa experiência, não tivesse sabido produzir mais do que regimes, certamente sofisticados quanto ao funcionamento, mas terrivelmente primitivos quanto ao principio.
Fonte: O Livro Negro da revolução Francesa DIR. Renaud Escande
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
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