segunda-feira, 29 de junho de 2009

Paganismo

Como já vimos na anterior postagem, o Homem é um ser Religioso, porque é um Animal Racional, assim o Paganismo foi mais uma manifestação da religiosidade natural inerente ao homem no mundo antigo, este ajuda-nos a entender um pouco sobre o fenómeno religioso, a busca do infinito por parte do homem finito, que revelam as suas persistentes fraquezas, e por isso, lança luzes sobre a necessidade de redenção por parte deste! E por isso vamos conhecer um pouco do Paganismo, que revela a incapacidade da força Humana de subir até Deus!

Este texto foi retirado do meu outro blog e este retirado do livro "History of the Christian Church" de Philip Schaff.

O Paganismo é uma religião que cresceu no solo da natureza caída dos Humanos, um escurecimento da consciênçia original de Deus, uma divinização da criatura racional e irracional, e com uma contínua corrupção do sentido moral, dando a permissão da Religião aos víçios naturais e anti-naturais63.
Mesmo a Religião Grega, que, como um produto de imaginação de um artista, foi dominada justamente como a religião da beleza, foi deformada pela a moral distorcida. Falta-lhe a verdadeira concepção do pecado e consequentemente a verdadeira concepção do sagrado. Considera o pecado não como perversão da vontade e uma ofensa contra Deus, mas como uma loucura do entendimento e um crime contra os Homens. Muitas vezes até vindo dos próprios deuses; Para a “Infatuation”, ou Cegueira Moral, é a “filha de Júpiter”, e uma deusa, e embora pertencendo ao Olímpo, é a fonte de todos os males da Terra. Homer não conhece o diabo, mas colocou um elemento satánico nas divindades. Os Deuses Gregos e os Deuses Romanos, que foram copiados do anterior, são meros homens e mulheres, no qual Homer e a fé popular adoraram as fraquezas e víçios do carácter Grego, assim como as suas virtudes em magníficas formas. Os Deuses nascem mas nunca morrem. Eles têm corpos e sentidos, como mortais, apenas em proporções maiores. Eles comem e bebem, apesar de ser apenas néctar e ambrósia. Eles estão acordados mas adormecem. Eles viajam, mas com a rapidez do pensamento. Eles se misturam no campo da batalha. Eles coabitam com os seres humanos, produzindo heróis ou semi-deuses. Eles estão limitados no espaço-tempo. Apesar de alguma vezes serem venerados com os atributos de omnipotentes e omniscientes, e chamados de santos e justos, ainda assim são sujeitos à certeza do destino (Moira), caem em desilusão, e repreendem-se com crimes e insensatez. A sua felicidade parisidíaca é pertubada pelos os mesmos problemas da vida. Mesmo Zeus ou Jupíter, os pratiarcas da família olímpica, são enganados pelas suas irmãs e mulherers Era(Juno), com quem tinha vivido trezentos anos de uma união secreta, antes de ter proclamado sua Mulher e rainha dos deuses, e é mantido na ignorançia dos eventos de Tróia. Ele ameaça os seus subordinados com golpes de morte, e faz tremer o Olímpo quando se ira. Marte é abatido com uma pedra de Dionísio. Neptuno e Apolo têm que trabalhar mas são enganados. Hefesto faz trabalho de limpeza e provoca uma gargalhada. Os deuses estão envolvidos pelos os seus casamentos em perpétuos ressentimentos e brigas. Eles estão cheios de inveja e ira, ódio e cobiçam homens para o crime, e provocam-se mutuamente ao encontro da crueldade, perjúrio e adultério. A ìliada e Odisseia, os poemas mais famosos do génio helénico, são escandalosas crónicas dos deuses. Daí Platão bani-los da sua cidade ideal. Píndar, Ésquilo, Sófocles, igualmente as suas ideias acerca dos deuses eram mais elevadas nobres e puras pois respiravam uma pura atmosfera moral, mas eles representavam a crença excepcional de poucos, enquanto Homer expressou a crença popular. Verdadeiramente nós não temos nada contra Scilher por “Deuses Gregos” mas juntar-mos-íamos ao poeta nas suas acções de graças: (continua)

"Einen zu bereichern unter allen,
Musste diese Götterwelt vergehen."

O que é a Religião?

Já vimos que o Homem, naturalmente identifica o criador na criação, (os agnósticos gostam de jogar ao quarto escuro), por isso naturalmente, as Religiões estiveram sempre presentes nas sociedades, já agora o nome da Religião vem (do latim: "religio" usado na Vulgata, que significa "prestar culto a uma divindade", “ligar novamente", ou simplesmente "religar"), ou seja, a Religião tem como principal objectivo, ligar o homem a Deus ou melhor dizendo, religar, pois Deus tudo cria Bom como já vimos e como diz a Bíblia, "e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do SENHOR Deus". No entanto, qual a Religião que faz melhor esse papel, de ligar o Homem a Deus, pois são tantas! Podemos por começar a dizer, que todas as religiões são iguais, mas não me parece! As Religiões são mais verdadeiras, quanto mais próximas estiverem do Ser por Excelênçia que a razão humana prevê, assim já dizia Sócrates ao morrer "Causa das causas, tem pena de mim", no entanto, como já dizia Platão no mito da caverna , o homem tem que se libertar dos grilhões que o prendem à caverna que só o deixam ver as sombras! como neste caso, onde chegam a afirmar "Que o orgasmo é Deus"... Só podemos dizer "Tende Misericórdia de nós Senhor"... Mas ainda há aqueles, que com sacríficio se libertam dos grilhões que o prendem na caverna, e saíndo desta, o Homem devido à Luz, desviará os olhos para não se magoarem, e aos poucos terá "necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos."1 Assim a sua Religiosidade será mais verdadeira pois o homem estará mais próximo daVerdade, de Deus!
Outra questão que podemos discutir, é sobretudo a questão da utilidade da existênçia das Igrejas que representam as várias Religiões, que hoje tanto os homens discutem! e porque será? Tal como o Estado, a Igreja nasce naturalmente do meio da comunidade.. O primeiro porque os homens têm em vista um Bem comum, o segundo, porque tem uma verdade comum, e como já dizia Aristóteles, o Homem é um animal político, pois a Política têm como finalidade de procurar o bem, assim também se pode dizer que o Homem é um animal Religioso, pois a Religião tem como finalidade procurar a verdade, e já Sócrates morreu por não acreditar nos deuses pátrios, pois já o sabia, que Deus só havia um, como a recta razão o diz, e mais um passo foi dado na busca da verdade, na religiosidade do mundo... Concluíndo, a Igreja tal como o Estado, existem pois o Homem é um ser social, pois têm em comum o Bem, Verdade e o Belo, que a razão vê. Visto isto, então porque será que hoje muitas pessoas arrogam-se de não ter nenhuma Igreja, mas têm a sua religiosidade, a sua espiritualidade. A resposta mais provável, é de que fazem do seu próprio ventre o seu próprio Deus, mas pior cego é aquele que não quer ver, e a Verdade está aí para quem quiser procurar! comum a todos..
Mas olhando hoje para o mundo, quanto está afastado da recta razão, até os próprios políticos precisam de levar a ética à política, quando a própria natureza da política é a ética... assim a degradação do mundo, prova mais uma vez, faz brilhar mais uma vez, a Religião Católica, e mais uma vez vêmos a incapacidade do Homem de se elevar até Deus, (existem poucos homens como Sócrates), mas foi o próprio que "Que, sendo Deus, .. aniquilou-se a si mesmo tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens, E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz." (Fp 2.6-8) para nos redimir... "porque Deus é amor."(1 João 4:8)

1-Républica, Platão

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Sereis como Deuses? II

Como já tinha escrito, a Gnose e o Panteísmo, são antagónicos, e dialécticos, na medida que cada um leva ao outro, assim torna-se como uma prisão para o Homem! Mas qual a razão do homem, cair então nestes dois ramos de pensamento, que o aprisionam! Antes de qualquer coisa, podemos tentar perceber a predisposição do homem ao aderir a estes dois sistemas, antes de entrámos nas questões filosóficas! Como já disse, quando falei da Gnose, o homem 'odeia' o Mundo, e por meio deste 'odeia' o Criador, esta é a consequência final da Gnose no Homem, mas também de certeza foi o motivo inicial que os Homens tiveram, ao construíram o sistema Gnóstico, e por isso a conclusão é aquela (A Gnose é Dualista, para ela existem dois absolutos, o Bem e o Mal). Mas além disso, aos afirmarem o mal do universo, indicam o caminho para se unirem à divindade boa, libertando-se das prisões que a Divindade má fez para o homem, ou seja, para ele tudo o que é bom é mau, e tudo o que é mau, é bom, assim não libertariam a substancia divina contida no ser humano pela razão, mas sim por experiências irracionais.
No Panteísmo ao contrário da Gnose, está mais em foco a divindade da natureza, a nossa divindade, aqui o homem atiçado pelo o orgulho e soberba e por amor injusto a si mesmo, começou a conceber a natureza como Deus e por consequência nós próprios seríamos Deus.
Sabemos que a cobiça, escureceu a razão de Adão e Eva, assim os defeitos que apontei em cima, predispõem o Homem a aniquilar a sua razão, para ser como Deus, apesar na prática afastar-se mais, como aconteceu com Adão e Eva, e hoje a nossa sociedade comprova. Vimos o que poderá levar o homem a predispor a trancar-se nesta prisão, agora iremos ver o porquê de trancar-se, pois este tenta sempre justificar-se antes e depois de fazer o mal. Assim o principal problema que a razão Humana encontra e talvez o mais importante, e que origina todos estes problemas na harmonização, entre matéria e a consciênçia ou alma, entre o empirismo e idealismo, entre razão e fé, entre moral e felicidade, entre outros muitos problemas deste tipo, dialécticos... é a questão primeira da harmonia entre o universal e o particular, há muito discutida pelos filósofos.
Não que a razão humana seja incapaz de a resolver, no entanto o homem como já vimos obscurece a razão, primeiramente antes, para buscar uma mentira atiçada pela cobiça "Sereis como Deuses", e depois para se justificar do mal que ele fez, no entanto esta questão há muito que foi resolvida!

Artigo retirado do site da Montfort, sobre a Pseudo-Solução do problema dos Universais e as suas consequências, e a sua solução!

O nominalismo
O nominalismo é uma pseudo-solução para o problema dos universais. Segundo Aristóteles: “Há coisas universais e coisas particulares, e denomino universal isso cuja natureza é a de ser afirmada de vários sujeitos, e de particular o que não pode tal, por exemplo, homem é um termo universal, e Cálias um termo singular.”.[27] Ou seja, existem indivíduos e universais, sendo que esses últimos podem ser afirmados de vários indivíduos. Por exemplo: existe o indivíduo Lulu, o cachorrinho de minha vizinha, mas existe também ‘cachorro’, que no meu intelecto é um conceito universal, embora exista em Lulu, em Rex e em qualquer outro cão. É evidente que todos nós utilizamos o tempo todo termos universais e particulares. Todavia, passando um pouco além dessa evidência, surge uma dificuldade. Como afirmam Aristóteles e os tomistas: tudo que é real é individual. Portanto, o universal pelo seu carácter de generalidade não parece corresponder a nada de real. Neste sentido é que surge a famosa pergunta feita por Porfírio no Isagogo: os universais são realidades em si mesmas, ou apenas simples concepções do intelecto? Simplificando: quando dizemos ‘homem’ (universal), isso que dissemos existe realmente ou apenas no meu pensamento?
A – Solução
Para compreendermos melhor o nominalismo e suas consequências, é importante expormos rapidamente a solução da dificuldade apresentada acima.
A resposta a essa questão de Porfírio não poderia ser mais evidente. O que dissemos (‘homem’) existe realmente, porém, individualizado. Como explica Joseph Kleutgen S.J: “L’universel est défini par Aristote, et avec raison, tantôt comme l’un qui peut être énoncé de beaucoup, tantôt comme l’un qui peut exister en beaucoup d’individus. (...) Dans la première definition, Aristote parle, par conséquent, de l’universel logique, tandis que, dans la seconde, il a en vue l’universel métaphysique. Or il est évident que, d’après cette définition, l’universel n’existe pas seulemnt dans nos représentations, mais encore dans les choses.”.[28][O universal é definido por Aristóteles, e com razão, tanto como algo que pode ser enunciado de muitos, como algo que pode existir em muitos indivíduos. (...) Na primeira definição, Aristóteles fala, por consequência, do universal lógico, ao passo que na segunda, ele tem em vista o universal metafísico. Ora, é evidente que, segundo esta definição, o universal não existe somente nas nossas representações, mas também nas coisas]. Portanto, o universal ‘homem’ que existe em nosso intelecto, é o mesmo que existe em Pedro, José ou Francisco. Contudo, em Pedro ele existe com as determinações particulares de Pedro, as quais o individualizam.
Esse fato torna-se mais evidente quando consideramos a verdade de nossas afirmações. Uma proposição é verdadeira quando diz o que a coisa é. Por exemplo, pego algo e digo: isto é um lápis. A minha afirmação é verdadeira, obviamente, se o objecto que estou segurando for realmente um lápis. Se digo ‘isto é um lápis.’, enquanto considero uma galinha que seguro entre as mãos, certamente estou louco ou mentindo. E não adianta tentar escrever com a galinha ou almoçar o lápis, pois isso só confirmaria minha loucura. Para que eu não passe por lunático ou por mentiroso, devo saber que, quando afirmo ‘é’, expresso uma identidade; aquilo que existe em meu intelecto de modo imaterial (universal) é o que está individualizado pela matéria no objecto. Por exemplo, consideremos o termo universal ‘homem’. Se afirmo ‘Pedro é homem.’, indico que fora de mim existe ‘homem’. Isso é evidente. Se negássemos essa evidência, e disséssemos que esse universal (‘homem’) não existe realmente em Pedro, nossa primeira afirmação seria mentirosa ou louca, visto que atribuímos existência a algo que só existiria em nosso intelecto. Desse modo, nós jamais poderíamos dizer ‘é’, chegando assim à negação do conhecimento humano. Ora, como podemos perceber, isso é um absurdo. É preciso deixar claro que quando digo ‘é’, indico algo real, existente em acto. Logo, os universais existem no intelecto e nas coisas; no intelecto existem sem as determinações particulares da matéria, nas coisas são individualizados por elas.
B – Pseudo-solução nominalista
Para os nominalistas, entretanto, o universal não passa de um nome. Os universais seriam apenas termos inventados pelo nosso intelecto para abarcar um grupo de indivíduos. Para Guilherme de Ockham, o pai do nominalismo moderno: “... o único real é o particular, ou, as únicas substâncias são as coisas individuais e suas propriedades. O universal existe na alma do sujeito cognoscitivo, e somente nela. Teremos de nos perguntar em que medida podemos atribuir-lhe uma existência no pensamento, mas deve-se colocar, de fato, que não há nenhuma espécie de existência fora do pensamento: omnis res positiva extra animam eo ipso est singularis.”[29] Poderíamos afirmar que as “ideias gerais são palavras arbitrariamente escolhidas para designar as coisas”[30], mas não passam disso.
Certamente, a muitos parecerá que tais questões filosóficas, muito abstractas e difíceis, têm pouca importância para nossa vida prática. Ledo engano. Os princípios que surgem desses problemas são os fundamentos de uma visão de mundo. Ora, mudando-se a visão de mundo dos homens, muda-se também a vida dos homens.
C – As Consequências
O nominalismo pode nos levar a consequências bem graves. Tomemos, para facilitar a explicação, um princípio qualquer das ciências naturais. Por exemplo: todo corpo tende a permanecer parado ou em movimento a não ser que receba alguma força. Este é – simplificando – o famoso princípio da inércia de Isaac Newton. Consideremos essa afirmação. Notemos, por exemplo, os termos ‘corpo’ e ‘força’. Evidentemente, estes são termos universais. Sendo assim, uma questão se impõe: se eles só existem no intelecto e não na realidade, como esse princípio poderia ser uma explicação do mundo? Ele versaria apenas sobre ideias criadas pelo sujeito e não sobre as coisas do mundo.
Com efeito, para Ockham e os nominalistas, “os géneros e espécies não são nada fora do pensamento.”.[31] Ora, se não há na realidade algo que é comum a diversos indivíduos, ou seja, o universal, os temos universais não corresponderiam a nada real. O homem permaneceria preso em sua subjectividade e não conheceria o mundo.
Podemos notar, deste modo, que o nominalismo nos abre um caminho lógico tanto para o subjectivismo quanto para o idealismo. É verdade que Ockham afirmava a existência dos indivíduos externos ao ‘eu’, declarando, entretanto, que a “única realidade que corresponde aos universais é, pois, a dos indivíduos.”.[32] Sendo assim, Ockham defende a existência de indivíduos, mas identificando-os com os universais. Eis aí um dos grandes equívocos do nominalismo. Para Ockham, então, nosso intelecto teria a função de relacionar as imagens dos indivíduos percebidos pelos sentidos, ou melhor, os objectos de nossa inteligência não seriam os universais, mas os particulares. Ora, isso é confundir percepção sensível e imaginação – coisas puramente materiais –com conhecimento intelectual![33] Deste modo, vemos como o nominalismo também pode levar ao materialismo, negado a espiritualidade da alma e fazendo do homem um ser puramente material. Exactamente por isso, ao estudar o nominalismo chega-se à conclusão de que essa “théorie sur l’origine des idées ressemble beaucoup au matérialisme des philosophes grecs.” [essa teoria a respeito da origem das idéias se assemelha muito ao materialismo dos filósofos gregos].[34]
Poderíamos, assim, identificar algumas consequências mais imediatas do nominalismo:
A) As ideias, isto é, os universais, seriam invenções do intelecto (subjectivismo).
B) O idealismo.
C) O materialismo. [35]
D) O cepticismo.
É certo que o idealismo, negando o conhecimento do mundo, já poderia ser tomado por pai do ceticismo. Contudo, embora o nominalismo conduza logicamente ao idealismo, não é uma afirmação explicita do mesmo, sendo também susceptível de um desenvolvimento materialista. Todavia, como o que nos interessa nesse artigo são os fundamentos do iluminismo, que é tido como racionalista, cientificista e materialista, importa-nos saber como o materialismo leva ao cepticismo.
Para compreendermos bem como o materialismo leva ao cepticismo, é importante que saibamos o que é o conhecimento científico. Podemos definir ciência como: “o conhecimento certo das coisas pelas suas causas.”[36] Vejamos um caso concreto. Vendo um corpo que em um determinado momento estava em repouso e depois se encontra em movimento, posso concluir que ele recebeu uma força para executar esse movimento, pois do contrário ele permaneceria imóvel. Portanto, posso afirmar que o movimento ocorre por causa de uma força e isso não poderia ser de outra maneira, sendo necessário que esse corpo para se mover tenha recebido uma força. Quando eu raciocino dessa forma, conhecendo e explicando o movimento pela sua causa e verificando a necessidade desse fato, eu conheço cientificamente o movimento. Eu conheço, como Newton, a lei da inércia. Essa lei serve para todo corpo, independente de eu ter contacto experimental ou não com ele; basta ser corpo para estar submetido a essa lei.
Agora vejamos. Todo meu raciocínio, toda minha explicação e mesmo a própria definição da lei física em questão, são formados por universais (‘corpo’, ‘força’, ‘movimento’ etc.). Ora, como para os nominalistas os universais são apenas sinais que fazem, no discurso, às vezes dos indivíduos que percebemos pelos sentidos, essa relação universal de causa e efeito, que estabeleço na lei física, não existe realmente. Essa relação foi perceptível sensivelmente nas experiências que tive, mas só nelas, pois eu só percebo indivíduos, e por isso não posso nunca afirmar que o que aconteceu nessa experiência acontecerá com outros indivíduos. Como estes indivíduos não possuem natureza comum, ou seja, como não há universal existente no indivíduo, a relação de causa e efeito é uma verificação experimental, mas, cessada a experiência, essa relação não pode ser atribuída a outros indivíduos.[37]
Como nos lembra Gilson, analisando a doutrina de Nicolau de Autrecourt, discípulo de Ockham: “Uma vez terminada a constatação experimental, resta a simples probabilidade de que os mesmos efeitos se reproduzirão se as mesmas condições forem de novo dadas.”.[38] Para Nicolau: “A proposição ‘aproximo o fogo da palha e não há nenhum obstáculo, logo a palha pegará fogo’, não é evidente: é apenas uma probabilidade baseada na experiência.”.[39] A ciência, portanto, apresenta-se como uma mera descrição e enumeração de eventos individuais particulares, mas não como conhecimento das coisas pelas causas.
É certo, portanto, que essa confusão nominalista entre sensibilidade e conhecimento intelectual, negando o conhecimento intelectual e reduzindo o homem a um simples animal provido apenas de experiência sensível, conduz ao materialismo e ao cepticismo.
Alguém, diante de nossa exposição tão sucinta e esquemática, poderia ter dificuldade para compreender como um mesmo princípio poderia levar a doutrinas opostas como idealismo e materialismo. Erwin Panofsky, analisando essa questão, faz um comentário que poderia ajudar-nos na compreensão do problema. Segundo ele:

manifesta-se aí novamente o eterno problema do empirismo: já que a qualidade do ‘real’ só se aplica ao âmbito do que pode ser apreendido pelas notitia intuitiva, isto é, às coisas individuais directamente percebidas pelos sentidos e aos estados e processos psíquicos específicos (alegria, tristeza, querer, etc.), que se conhece pela experiência interior, então tudo o que é real, a saber, o mundo dos objectos físicos e o mundo dos objectos psíquicos, jamais poderá ser racional, ao passo que tudo o que é racional, a saber, os conceitos que se extraem desses dois âmbitos, através da notitia abstractiva, jamais poderá ser real. É por isso que todas as questões metafísicas e teológicas – inclusive a existência de Deus, a imortalidade da alma e, pelo menos em um caso (Nicolau de Autrecourt), mesmo o problema de causalidade – só podem ser discutidas com base no conceito de probabilidade.”.[40]
O nominalismo estabelece uma separação absurda entre o ‘eu’ com suas ideias e o mundo externo dos indivíduos. Diante de tal problema, diferentes pessoas, de caracteres diferentes e graus de compreensões distintos, poderiam optar pelo mundo do ‘eu’ ou pelo mundo dos indivíduos. Num caso seria idealista, no outro materialista. Mas em ambos casos seria céptica.


http://montfort.org.br/index.php?secao=cadernos&subsecao=religiao&artigo=iluminismo&lang=bra

Assim como vimos, neste artigo a pseudo solução dos universais, o Nominalismo tanto leva ao Idealismo como ao Empirismo, tanto o idealismo pode representar a Gnose, pois ambos negam a realidade e por isso acabam por ser irracionais. E por outro lado o Empirismo representa o Panteísmo ao virar-se para natureza negando o universal submete o ser à razão e por isso racionalista, mas as duas incapazes de satisfazer o homem, e por isso também são dialécticas, pois um empirista ao negar a capacidade do homem de conhecer o universal, apenas o particular, impossibilitando o conhecimento do mundo como está explicado no artigo em cima, o homem vira-se para o seu 'Eu', para o seu mundo que acaba por transformar-se numa realidade subjectiva pois separada do particular, e por este próprio motivo um idealista afasta-se da realidade podendo voltar outra vez para o empirismo, e assim dialecticamente o homem fica prisioneiro. O idealismo não corresponde à realidade, o Empirismo aniquila a verdade submetendo a realidade da existência do mundo à razão, e assim destroem toda a harmonia do mundo, a harmonia do homem, ao separar a razão da realidade, por isso, como diz o artigo são ambas cépticas!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sereis como Deuses?

O Panteísmo identifica a criação com Deus, ou seja que Deus é imanente ao universo, melhor dizendo faz parte da substância do universo! Assim o Panteísmo tem em comum com a Gnose, a mentira na qual Adão e Eva caíram "Sereis como Deuses..". Adão e Eva deviam saber que os caminhos da serpente não são rectos, mas esta também é astuta, assim tocou-lhes no mais profundo da alma, ao dizer "Sereis como Deuses", seduzindo Eva, que quis ser enganada, por tamanha cobiça! É pois de não estranhar, que o Panteísmo e a Gnose apesar de serem em principio antagónicos, diferentes à primeira vista, como por exemplo o Panteísmo proclamar o bem do universo, ao contrário da Gnose, estes acabam por se levar um ao outro, são quase que dialécticos, sem saída, ficámos presos, até à morte consumada na boca da serpente provocada por sua língua bifurcada, qual símbolo que a Gnose e o Panteísmo representam! Bom mas já falámos na Gnose, noutras postagens, agora vamos falar no Panteísmo!
Como já dissemos para o Panteísmo Deus seria o Universo, e o actual estado deste, seria apenas um estágio até à evolução final, até à manifestação Divina deste! Assim o Universo seria determinista, optimista, que apontava para o futuro brilhante até à redenção final do homem pelo próprio homem! Pois a matéria, mineral, evoluí até surgir o vegetal, depois veio o animal até aparecer o homem, animal racional, e este dará à luz a inteligência pura, ou matéria espiritualizada, no qual compreenderá e dominará todo o universo! De facto hoje vivemos numa sociedade de conhecimento, dominada pela técnica, progresso, e o olhar no futuro, mas nem sempre foi assim, porque ao contrário destes ideais, o homem sempre observou na natureza ciclos que regiam-na, desde as estações, até à própria vida, e talvez seja daí que surgiu a ideia da reencarnação. Tudo o que existe e existirá, voltará a existir, e nada haverá de novo na história pois o que é novo viverá e o velho perecerá, velhos impérios cairão e novos ressurgirão. O mundo antigo partilhava destes pensamentos, até o mundo Grego que nos legou parte do pensamento. Mas foi com o Cristianismo que esta visão mudou pois ao crer-se que tudo o que passa na terra, acontecerá outra vez, então Cristo não morreria uma, mas várias vezes e ressuscitaria várias vezes, e o Reino de Deus futuro nunca aconteceria na história, pois era inalcançável na História cíclica, no entanto a crença no "Eterno Retorno" era irreconciliável com a Fé Cristã pois nas próprias palavras de Santo Agostinho "Deus proibiu que acreditássemos no [Eterno Retorno]. Uma vez que Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados, e ressuscitando depois, não torna a morrer" A concepção linear no tempo pelo Cristianismo e Judaísmo, introduziu no mundo a ideia do progresso, pois já no judaísmo a glória do Povo Judeu não era o passado glorioso do Rei David e Salomão, mas sim o futuro Reino instituído pelo Messias no qual não terá comparação em glória e Poder, tal é o seu brilho. Com o Cristianismo o futuro também será risonho, pois a segunda vinda de Cristo, agora em glória e Poder, será seguida pela criação de novos Céus e nova Terra onde o último inimigo a ser vencido será a morte, e não haverá mais dor nem tristeza! esta é a cultura que nasceu nas sociedades Judaico-Cristã. No entanto o progresso, foi desvirtuado (devido à aniquilação do Homem, do Mundo e de Deus), num progresso material que a ciência protagonizou, e por isso, passou da esfera da Religião para a Ciência, e esta os carrega, pois agora o homem procura a sua redenção nesta, transformando -a quase que numa religião, pois a matéria é o seu objecto de estudo, e o Panteísmo divinizou-a. Assim também se compreende o crescente número de ateus, que se podem considerar panteístas. Mas o que significa o progresso humano? hoje o homem é visto como mera máquina, já não é contemplando com a plenitude do seu ser, o próprio conhecimento foi eliminado pois a verdade tornou-se subjectiva, focalizando a razão apenas na técnica e não na verdade, assim a sua vontade, sem estes dois, cai nos instintos e paixões! Consequentemente, hoje a identidade do homem como de qualquer objecto é apenas a sua utilidade num materialismo repugnante, e talvez por isso houve um tremendo progresso na técnica, mas no homem aparentemente não houve nenhum, hoje somos quase que animais que vivem de instintos e desejos, mas em vez de pedras para atirar aos outros, temos bombas que podem provocar o fim do mundo! Hoje a ciência pode construir máquinas com muita mais capacidade de memória e processamento do que o homem, máquinas que poderão dominar o universo, mas este ‘Deus’ que pode prolongar a espécie humana no tempo do universo está muito longe de ser a plenitude humana, porque o homem não é uma máquina inteligente que pode criar outras máquinas mais inteligentes ou pelo menos não é só isso. O Homem é um ser racional que pode contemplar as perfeições do universo, contemplar o ser por excelência, e buscar as suas perfeições, para chegar à plenitude que Deus quis. O Homem não pode abdicar da sua plenitude, Ser, razão e vontade, porque se não corremos o risco de auto-destruímos com a técnica desenvolvida, porque sem a plenitude do verdadeiro progresso, que qualquer homem pode alcançar! Como Cristo disse “Sede, pois, perfeitos, como também vosso Pai do céu é perfeito"
Mas o Panteísmo ao declarar que o Universo é Deus, este tinha que ter as qualidades de Deus, coisa que não têm pois teve um inicio. No entanto agora existe uma teoria, na qual o Homem depois de construir ‘Deus’, tipo uma máquina universal, esta antes do universo colapsar segundo a teoria do Big Crunch, ordenaria o Universo para que o nascimento do próximo Universo, com um novo Big Bang, estaria concebido para criar a vida, tal com este em que vivemos e isto assim infinatemente. Mas mesmo que os universo colapsassem segundo a teoria do Big Crunch, o Deus que o Homem construiria estava muito longe de ser a plenitude do homem, simplesmente era a plenitude do engenho humano, e também voltaríamos à situação do ‘Eterno Retorno’ contrário à Fé Cristã!

domingo, 21 de junho de 2009

Deus é Bom ou Mau? II

Como já vimos, o uso do bom senso e da recta razão, permite ao homem dizer que a vida é um bem, e que a morte é um mal, que o universo é bom não só porque existe, mas também porque permite que a vida humana exista, assim contemplando as perfeições do universo, chegamos a Deus o bem por excelênçia, pois é o ser que existe por si donde provêm todas as perfeições que conhecemos, todos os outros seres, são entes que participam do Ser por excelênçia, que chamamos Deus. Porque do nada não provêm nada, assim ninguém pode negar Deus. No entanto muitos dos seres Humanos negam a bondade do universo, desprezam a ordem do universo, por último chegam ao ponto de dizer que é mau. Isto acontece principalmente devido à limitação que nós todos temos, não somos infinitos como Deus, mas estes cegos julgam ter o direito de julgar na mesma Deus, e começam com a sua obra! O homem soberbo e orgulhoso, ama-se injustamente, pois ama-se como se um Deus trata-se, cego pois o seu EU está mais inchado, que tapa a Luz que a razão lhe dá. Assim quando a vida inevitavelmente e naturalmente o acaba por limitar a sua 'divindade', eles revoltam-se contra a vida e negam a sua bondade pois desprezam a ordem querida por Deus. Começam então a fabricar vâs filosofias, como transformar os sentidos em construtores da realidade e não receptores das imagens da realidade, isto tudo para alcançarem a ideia que pretendem, declarar que o universo é mau, não tem sentido! Eles não se suícidam, apesar de ser a conclusão final, porque sabem que estas filosofias são apenas fábulas, são apenas marketing de um general perdedor no final da guerra, logo inicialmente perdida! Outra desordem que provocam no mundo do homem, é o desprezo que tem pela a ordem do criador, (mesmo que hoje saibamos que o universo está minuciosamente ordenado para o nascimento da vida, sendo a sua preservação muito delicada), pois esta os limita, assim fabricaram outras vâs filosofias, destruíram a razão, já antes o tinham feito ao ser, e a verdade já só dependeria da vontade do homem, de ser útil ao homem, agora o homem tornou-se escravo, porque vontade sem razão são paixões e instintos, pois aquilo que o homem decaído, sem razão deseja, é aquilo que provoca sua queda, mas é um bem pois provêm dos desejos do homem! Pior cego é aquele que não quer ver. Depois disto tudo, o homem já sem ferramentas para olhar o universo, sente-se preso, pois as consequênçias finais, é a incapacidade do Homem compreender o outro eu, de compreender o mundo, de compreender Deus. O Universo torna-se uma gigantesca prisão no qual o Homem terá que libertar a centelha 'divina' inerente a este, assim o orgulho fez com que o homem tapasse os olhos, os ouvidos, a boca, o nariz, a razão, para nos tornámo-nos como Deuses. O mais incrível é que essas pessoas que odeiam o mundo, são as elites que já dominam grande parte do poder mundial, mas não se contentam, querem MAIS, querem ser Deuses, por isso odeiam o verdadeiro Deus, e por isso, nem as suas sobras dão, mesmo que pudessem acabar com grande parte dos problemas mundiais, como a fome!
A imagem acima é de um filme que se chama matrix, (a maior parte das pessoas já o devem ter visto) no qual representa o mundo como o conheçêmos, apenas uma ilusão, criada por um 'Deus- robôs' mau, uma grande mentira em que as pessoas viviam, tudo o que existia era um mal, pois prendía-nos da verdadeira realidade, do bem! É claro que a única forma de salvar-mo-nos, era ganhármos consciênçia da mentira do universo, e assim suicidar-mos, como acontece a uma personagem na curta-metragem Animatrix sobre o mundo Matrix, e assim ganharíamos consciênçia no verdadeiro mundo! É óbvio que ninguém inventa estas fábulas, se não odiar o homem, o mundo e por fim Deus. A Gnose, é um suposto conhecimento oculto da realidade, para o homem poder tornar-se Deus.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A Criação segundo a Ciênçia II

Será que o universo é fruto do acaso, talvez o leitor ache interessante uma afirmação feita por um cientista da NASA, altamente qualificado nesses assuntos. É muito mais provável — dizia este professor — que uma lagartixa, um camundongo e um pardal façam por acaso (só passeando, arrastando e deixando à toa pedacinhos de metal, areia, etc.) um computador de última geração, do que o pretenso surgimento do universo — desde as galáxias até às borboletas — sem que tenha havido como causa de tudo uma Inteligência suprema, criadora, ordenadora e providente, ou seja, sem Deus.(a)

Este texto que se segue foi retirado do livro "Fórmula de Deus", escrito por José Rodrigues dos Santos, que aconselho a comprar, pois o escritor tem o mérito de explicar a um leigo, as teorias da física mais avançadas.

Boa Leitura!

1-A energia libertada no Big Bang, para que o universo expandir-se de modo ordeiro como o conhecemos, teria que ter uma precisão na ordem dos 10 elevado a 120, ou seja 120 zeros a seguir ao número 10, se a energia fosse uma fracção maior, não se formariam galáxias e dispersaria, se fosse uma fracção menor, consumir-se-ia num gigantesco buraco negro, o que equivaleria há hipótese de atirar uma seta ao acaso para o espaço e ela atravessar todo o cosmo e ir atingir uma alvo com milímetro de diâmetro localizado na galáxia mais próxima.

2-Quando ocorreu a grande expansão criadora não havia matéria. A temperatura era imensamente elevada, tão elevada que nem os átomos se conseguiam formar. O universo era então uma sopa escaldante de partículas e antipartículas, criadas a partir de energia e sempre a aniquilarem-se umas às outras. Essas partículas, os quarks e os antiquarks, são idênticas umas às outras, mas com cargas opostas, e, quando se tocam, explodem e voltam a ser energia. À medida que o universo se ia expandindo, a temperatura ia baixando, e os quarks e antiquarks foram formando partículas maiores, chamadas hadrões, mas sempre a aniquilarem-se umas às outras, Criou-se assim a matéria e antimatéria. Como as quantidades eram iguais e ambas se aniquilavam mutuamente, o universo apresentava-se constituído por energia e partículas de existência efémera e não havia hipótese de se formar matéria duradoura.
O que se passou, no entanto, foi que, por uma razão misteriosa, a matéria começou a ser produzida numa quantidade minusculamente maior do que a antimatéria. Para cada dez mil milhões de antipartículas, produziam-se dez mil milhões e umas partículas.
10000000000 Antipartículas
10000000001 Partículas
Isto é por dez mil milhões de partículas eram destruídas por dez mil milhões de antipartículas, mas sobrava sempre uma que não era destruída, juntando-se a outras sobreviventes nas mesmas circunstâncias, formou a matéria. Mais um acaso extraordinário.

3-Outra questão onde o universo requer uma incrível afinação é a sua homogeneidade. A distribuição da densidade da matéria é muito homogénea, mas não é totalmente homogénea. Quando ocorreu o Big Bang, as diferenças de densidade eram incrivelmente pequenas e foram sendo amplificadas ao longo do tempo pela instabilidade gravitacional da matéria. Outro golpe de sorte. O grau de não uniformidade é extraordinariamente pequeno, na ordem de um para cem mil, exactamente o valor necessário para permitir a estruturação do universo. Nem mais, nem menos. Se fosse marginalmente maior, as galáxias depressa se transformariam em densos aglomerados e formavam-se buracos negros antes de estarem reunidas às condições para a vida. Por outro lado de não uniformidade fosse marginalmente mais pequeno, a densidade da matéria seria demasiada fraca e as estrelas não se formariam.

4-A própria existência das estrelas com uma estrutura semelhante à do Sol, adequada à vida resulta de um novo golpe de sorte… Repare, a estrutura de uma estrela depende de um equilíbrio delicado no seu interior. Se a irradiação de calor for demasiado fraca, a estrela transforma-se numa gigante azul e se for demasiado fraca a estrela torna-se uma anã vermelha. Uma é excessivamente quente e outra excessivamente fria e ambas provavelmente não têm planetas. Mas a maior parte das estrelas, incluindo o Sol, situa-se entre estes dois extremos, e o que é extraordinário é que os valores para além destes são altamente prováveis, mas não ocorreram. Em vez disso, a relação das forças e a relação das massas das partículas dispõem de um valor tal que parecem ter conspirado para que a generalidade das estrelas se situe no estreito espaço entre os dois extremos, assim a possibilitando a existência e predominância de estrelas como o Sol. Altere-se marginalmente o valor da gravidade, da força electromagnética ou da relação de massas entre o electrão e o protão e nada do que vemos no universo se torna possível.

5-Duas constantes da natureza, justamente a proporção das massas dos electrões e protões, designada constantes Beta, e a força de interacção electromagnética, designada constante da estrutura fina, ou Alfa, alterando os valores, e calculando as consequências de tal alteração. Faça-se um pequeno aumento do Beta que determina as posições bem definidas e estáveis dos núcleos dos átomos e que obriga os electrões a moverem-se em posições bem precisas em torno desses núcleos. Se o valor do Beta for marginalmente diferente, os electrões começam a agitar-se de mais impossibilitam a realização de processos muito precisos, como a reprodução do ADN, Por outro lado, é o actual valor de Beta que, em ligação com Alfa, torna o centro das estrelas suficientemente quentes para gerarem reacções nucleares. Se Beta exceder em 0,005 o valor do quadrado de Alfa, não haverá estrelas. Sem estrelas, não há Sol, sem Sol, não há Terra nem vida. E se o Alfa aumentar em apenas quatro por cento, o carbono não poderá ser produzido nas estrelas. E se aumentar apenas 0,1 não haverá fusão nas estrelas. Sem carbono nem fusão estelar, não haverá vida. Ou seja, para que o universo possa gerar vida, é necessário que o valor da constante da estrutura fina seja exactamente o que é. Nem mais, nem menos.
Também a força Nuclear forte, aquela que provoca as fusões nucleares nas estrelas e nas bombas de hidrogénio, descobriu-se que ao aumentar a força forte em apenas quatro por cento, isso faria com que, nas fases iniciais após o Big Bang, todo o hidrogénio do universo se queimasse rápido de mais, convertendo-se em hélio 2. Isso seria um desastre, porque significaria que as estrelas esgotariam depressa o seu combustível e algumas se transformariam em buracos negros antes de existirem condições para a criação da vida. Por outro lado, se reduzisse a força forte em dez por cento, isso afectaria o núcleo dos átomos de um modo tal que impediria a formação de elementos mais pesados, um dos quais é o carbono, não há vida, … ou seja o valor da força forte dispõe de apenas um pequenos intervalo para criar as condições para a vida e, como que por providencial milagre é justamente nesse estritíssimo intervalo que a força forte se situa.
Aliás, a conversão de hidrogénio em hélio, crucial para a vida, é um processo que requer absoluta afinação. A transformação tem de obedecer a uma taxa exacta de sete milésimos da sua massa para energia. Se baixar uma fracção, a transformação não ocorre e o universo só tem hidrogénio. Se aumentar uma fracção, o hidrogénio esgota-se rapidamente em todo o universo.
0,006% - Só hidrogénio
0,008% – hidrogénio esgotado
Ou seja, para que exista a vida é necessário que a taxa de conversão do hidrogénio em hélio se situe exactamente neste intervalo. E olhe a coincidência situa-se mesmo!

6-Agora repare no carbono. Por diversas razões, e o carbono é o elemento no qual assenta a vida. Sem carbono, a vida complexa espontânea não é possível, uma vez que só este elemento dispõe de flexibilidade para formar as longas e complexas cadeias necessárias para os processos vitais. Nenhum outro elemento é capaz de o fazer. O problema é que a formação do carbono só é possível devido a um conjunto de circunstâncias extraordinárias…. Para formar o carbono, é preciso que o berílio radioactivo absorva um núcleo de hélio, parece simples. O problema é que o tempo de vida do berílio radioactivo se limita a uma insignificante fracção de segundo. 0,0000000000000001 segundos
E, no entanto, é justamente neste período incrivelmente curto que o núcleo do berílio radioactivo tem de localizar, colidir e absorver um núcleo de hélio, criando assim o carbono. A única forma de isto ser possível num instante tão efémero é o das energias destes núcleos serem exactamente iguais no momento em que colidem. E nova surpresa, são mesmo iguais! …. Se houvesse uma discrepância ligeiríssima, mínima que fosse, não se poderia formar carbono. Graças a um brutal golpe de sorte, a energia dos constituintes nucleares das estrelas situa-se exactamente no ponto adequado, permitindo a fusão.

7-Outro golpe de sorte, é que o tempo de colisão do hélio é ainda mais efémero do que o curtíssimo tempo de vida do berílio radioactivo, e isso permite a reacção nuclear que produz o carbono. Para além do mais, há o problema do carbono sobreviver à subsequente actividade nuclear dentro da estrela, o que só é possível em condições muito especiais. E, veja só! Graças a uma nova e extraordinária coincidência, essas condições reuniram-se e o carbono não se transforma em oxigénio.

8-A incrível afinação requerida nas diversas forças, na temperatura do universo primordial, na sua taxa de expansão, mas também as extraordinárias coincidências necessárias no nosso próprio planeta. Por exemplo, o problema da inclinação do eixo de um planeta. Devido às ressonâncias entre a rotação dos planetas e o conjunto dos corpos do sistema solar, a Terra deveria ter uma evolução caótica na inclinação do seu eixo de rotação, o que, como é óbvio, impediria a existência de vida. Um hemisfério poderia passar seis meses a tostar ao Sol, sem nenhuma noite, e outros seis meses a gelar à luz das estrelas. Mas o nosso planeta teve uma sorte inacreditável! … O aparecimento da Lua. A Lua é um objecto tão grande que os seus efeitos gravitacionais moderaram o ângulo de inclinação do nosso planeta, assim viabilizando a vida….
Sabe, todos os pormenores parecem conspirar para viabilizar a vida na Terra. Olhe, o facto de a Terra possuir níquel e ferro magnético imprescindível para defender a atmosfera das letais partículas emitidas pelo Sol. Isso é uma sorte. Outra extraordinária coincidência é o facto de o carbono ser o elemento sólido mais abundante no espaço térmico em que a água é líquida. A própria órbita da Terra é crucial. Cinco por cento mais próxima do Sol ou quinze por cento mais afastada bastaria para impossibilitar o desenvolvimento de formas complexas de vida.

Isto quer dizer que não foi apenas a vida que se adoptou ao universo. O próprio universo preparou-se para a vida. De certo modo, é como se o universo sempre soubesse que nós vínhamos aí. A nossa mera existência parece depender de uma extraordinária e misteriosa cadeia de coincidências e improbabilidades. As propriedades do universo, tal como estão configuradas, são requisitos imprescindíveis para a existência de vida. Essas propriedades poderiam ser infinitamente sem vida. Para haver vida, um grande número de parâmetros teria de estar afinado para um valor muito específico e rigoroso. E o que descobrimos nós? Essa afinação existe. … Chama-se a isto Princípio Antrópico. Princípio Antrópico significa que o universo está concebido de propósito para criar vida.

Einstein disse, e passo a citar: o que realmente me interessa é saber se Deus poderia ter feito o mundo de uma maneira diferente, ou seja, se a necessidade de simplicidade lógica deixa alguma liberdade? Não, Deus não poderia ter feito o mundo de maneira diferente.

(a)http://www.rainhamaria.com.br/Pagina/6898/Artigo-do-Padre-Francisco-Faus-A-fabulosa-fe-dos-ateus

terça-feira, 16 de junho de 2009

Incapazes de conhecer Deus? II

Em um dos seus livros, López Quintás conta que um dia, ao entardecer, depois de visitar a catedral de Notre-Dame, enquanto vagueava pela velha Paris, deparou, sem querer, com um pequeno edifício abandonado, com as suas sórdidas janelas cruzadas por sarrafos de madeira. Aquela construção quase em ruínas era o famoso “Templo da Nova Religião da Ciência” que o filósofo francês Augusto Comte tinha erigido fazia século e meio. O contraste foi tão brusco como expressivo. O templo com o qual se pretendera dar culto ao progresso científico estava em ruínas. A velha catedral, pelo contrário, irradiava as suas melhores galas, como na sua brilhante época medieval. A música combinava nela com a harmonia das linhas arquitectónicas, com as belas palavras dos oradores, com o magnífico esplendor litúrgico que num dia de Natal, anos atrás, emocionara o grande poeta Claudel, até levá-lo à conversão.(a)

Kant tinha morrido 6 anos depois de Augusto Comte nascer, Kant já sabia pelos sinais dos tempos que homens como Comte imbuídos do espírito do iluminismo, já estavam prontos para formar fileiras para “despojar o homem dos grilhões irracionais das crenças e conhecimentos supersticiosos baseados na autoridade e nos costumes”., e por isso, como homem religioso, pensou salvar Deus dos intentos da sua criatura, o homem. Além de crer, que o homem conseguisse eliminar Deus da história e do mundo, foi com essa ameaça em mente que desenvolveu a sua filosofia, ou seja, creu que o Homem pudesse salvar Deus.
E foi com estas ideias em mente que desenvolveu a sua obra, e no entanto a que custo, quanto o Homem teve que baixar-se, para que Deus fosse inacessível à razão humana!


O Texto que se segue foi retirado de um artigo foi escrito por Pe. Leonel Franca S.J. que está no site: http://www.permanencia.org.br/revista/filosofia/leonel3.htm onde explica-nos as contradições e problemas insoluvés da filosofia de Kant e um pouco das consequênçias do Agnoticismo Kantista no Homem, em baixo, segue já a parte final do texto devido ao seu tamanho não meti todo, onde fala-nos das consequênçias do Agnoticismo de kant.

Boa Leitura!

A estrutura do conhecimento humano tal qual foi arquitetada pelo solitário de Königsberg não suporta a cúpula de uma demonstração racional da existência de Deus, mas não chega a esta conclusão agnóstica sem arruinar pela base toda a nossa vida intelectual. Ruiu a teodicéia racional, mas com ela, todo o edifício científico. Não conhecemos a Deus, mas também não conhecemos a nenhuma outra realidade. O mundo e o homem serão para sempre incógnitas indecifráveis; nega-se a inteligibilidade radical do ser, nega-se a inteligibilidade dos mesmos fenômenos. A própria existência de uma realidade extramental KANT não a pode afirmar senão a preço de uma contradição imanente. JACOBI, contemporâneo de KANT e um dos primeiros e mais atilados críticos de sua obra, escreveu com acerto: “Sem a suposição das coisas em si, não posso entrar no sistema; com esta suposição, nele não posso ficar”. FICHTE, entre os contemporâneos do filósofo, COHEN em nossos dias, viram esta impossibilidade e, por isto, enveredaram para o idealismo absoluto como conseqüência lógica do kantismo. O solipsismo mais desesperador, que isolaria cada inteligência em si mesma sem possibilidade de entrar em contato com o mundo das coisas e no convívio com as outras inteligências, seria o paradeiro fatal desta filosofia destruidora. Um imenso polvo a bracejar no vazio os longos tentáculos em esforço eternamente estéril de aferrar uma consistência; eis a imagem da inteligência humana na filosofia nevoenta deste filho das nórdicas brumas.
Desta concepção da inteligência nascem todas as lutas e antinomias, todas as incompatibilidades e divórcios que desvirtuam a síntese kantista. A unidade harmoniosa, filha da sabedoria que sabe ordenar, sucedem os contrastes de dualismo inconciliáveis. Dualismo entre os sentidos e a inteligência; entre a razão teórica e a razão prática; entre o mundo interior do espírito e o mundo externo da matéria; entre a liberdade noumênica e o determinismo dos fenômenos; entre a virtude e a tendência à felicidade; entre a moralidade e a religião; entre a filosofia e a vida.
As antíteses vão por vezes a dilaceração da ruptura ao que há em nós de mais profundo e inextirpável. Aspiramos irresistivelmente à felicidade que reside na perfeição da natureza, mas não podemos agir em vista da perfeição que felicita porque ofendemos a moral que é a lei do homem. As questões metafísicas impõem-se à razão com uma necessidade natural inevitável, mas resolve-las é emaranhar-se em contradições insolúveis. Deus é indispensável para a coroa da ordem moral mas agir por amor de Deus é uma heteronomia que torna imoral a ação e desvirtua a autonomia da vontade. Sem Deus, sem liberdade, sem imortalidade não podem viver as consciências, mas a razão pura declara que a afirmação objetiva destas realidades implica antinomias inextricáveis.
Nunca se fez à unidade, à harmonia, ao equilíbrio sadio da personalidade humana violência mais dolorosa nem mais funesta.
Pela sua teoria gnoseológica, pela separação entre a esfera do pensamento especulativo e as exigências da vida moral, KANT é talvez o filósofo que mais contribuiu para a difusão moderna do agnosticismo. Não é difícil estabelecer as transições dialéticas e o itinerário histórico entre o kantismo de um lado e de outro o protestantismo liberal, o pragmatismo e o modernismo. SCHLEIERMACHER e RITSCHL sentiram poderosamente a influência de KANT, SPENCER, LITTRÉ e os agnósticos ingleses mais recentes reportam-se às suas críticas da teodicéia racional como a resultados definitivamente adquiridos pela filosofia. A desconfiança nas forças nativas da inteligência, a supervalorização dos motivos alógicos, sentimentais e pragmatistas – que encontramos como características de uma parte do moderno pensamento religioso – prendem as suas raízes mais profundas nas duas Críticas de E.KANT. “É absolutamente necessário que nos compenetremos da existência de Deus, mas não é tão necessário que a demonstremos”.

(a) Fonte: É Razoável Crer? Questões Actuais sobre a Fé – AGUILÓ Alfonso – Tradução: Roberto da Silva Martins - Editora Quadrante - São Paulo 2006 - Colecção Vértice; 60.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A Criação segundo a Ciênçia

Este texto foi retirado do livro "Fórmula de Deus" Nota Final, escrito por José Rodrigues dos Santos, que aconselho a comprar, pois o escritor tem o mérito de explicar a um leigo, as teorias da física mais avançadas.

Boa Leitura!

Quando o astrofísico Brandon CArter proprôs, em 1973, o Príncipio Antrópico, parte da comunidade científica mergulhou num intenso debate sobre a posição da humanidade no universo e o significado último da sua existênçia Pois se o universo está afinado para nos criar, será que temos um papel a desempenhar no universo? Quem concebeu esse papel? E já agora, que papel será esse?
Foi com Copérnico que os cientistas passaram a acreditar que a existênçia dos seres Humanos é irrevelante para o cosmos em geral, uma ideia que tem dominado o pensamento científico desde então. Mas na década de 1930, Arthur Eddington e Paul Dirac notaram inesperadas coincidênçias envolvendo um número de enorme magnitude que começou a aparecer nos mais variados contextos da cosmologia e da física quântica, o estranho 10 elevado a 40.
A revelação de novas coincidênçias foi-se acumulando com o tempo. Descobriu-sse que as constantes da natureza requeriam valores incrivelmente rigorosos para que o universo fosse como é, e percebeu-se que a expansão do universo tinha de ser controlada atá à mais ínfima ordem de grandeza para produzir o misterios equílibrio que possibilita a nossa existênçia. As descobertas foram-se multiplicando. Compreendeu-se que as estruturas essencias à vida, como o aparecimento de estrelas parecidas com o Sol ou o processo de produção de carbono, dependiam de uma espantosamente improvável sequênçia de acidentes consecutivos.
Que significado têm estas descobertas? A primeira constatação é que o universo foi concebido com a afinação adequada para, no mínimo gerar vida. Mas esta conclusão suscita inevitavelmente um problema filosófico de suprema magnitude - a questão da intencionaldidade da criação do universo.
Para contrairar a conclusão óbvia que se pode extrair destas descobertas, muitos cientistas defendem que o nosso universo é apenas um entre milhares de milhões de universos, cada um com valores diferentes nas suas constantes, o que significa que estarão quase desprovidos de vida. Assim sendo, é apenas uma coincidênçia que o nosso universo esteja afinado para produzir vida - a esmagadora maioria de universos nao tem vida. O problema desta argumentação é que ela é baseada em nenhuma observação ou descoberta. Nunca ninguém vislumbrou os menores traços da existênçia de outros universos nem remotos vestígios de diferentes valores das constantes da natureza. Ou seja, a hipótese dos multiuniversos assenta justamente naquilo que a ciênçia mais critica no pensamento não científico - a fé.

“Fizeste a lua para marcar os tempos e o sol para saber a hora de se pôr”. “Como são numerosas, Senhor, tuas obras! Tudo fizeste com sabedoria, a terra está cheia, das tuas criaturas” (Sl 104,19.24).

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Incapazes de conhecer Deus?

Immanuel Kant (1724-1804) parecia ser uma pessoa cordial e pacata. Poucos daqueles que o conheceram talvez imaginassem que as suas teorias teriam um impacto destruidor sobre a filosofia e a mentalidade contemporâneas.
Na história da filosofia, houve poucos pensadores tão ilegíveis e áridos como Immanuel Kant. Contudo, poucos tiveram um impacto tão devastador sobre o pensamento humano como ele.

Conta-se que Lumppe, o seu dedicado assistente, teria lido fielmente cada uma das publicações do mestre. Mas nem mesmo ele conseguiu ler a obra mais importante publicada pelo filósofo, A crítica da razão pura; na verdade, chegou a começar a leitura, mas interrompeu-a dizendo que, se tivesse de terminá-la, haveria de ser num hospital psiquiátrico. Desde então, muitos estudantes têm-se feito eco dessa opinião.

No entanto, penso que esse professor abstracto, que escrevia em estilo abstracto sobre questões abstractas, é a fonte primária da ideia mais perigosa de todas para a fé (e, portanto, para as almas): a ideia de que a verdade é subjectiva.

Os simples cidadãos da sua Königsberg natal (actual Kaliningrado, Rússia), onde o filósofo viveu e escreveu durante a segunda metade do século XVIII, parecem ter entendido isso melhor do que muitos académicos profissionais, porque lhe deram o apelido de "o destruidor" e davam o seu nome aos cachorros.

Pessoalmente, Kant era um homem amável, gentil e piedoso, tão pontual que os vizinhos ajustavam os relógios pelos seus passeios. Também o intuito básico da sua filosofia era nobre: restaurar a dignidade humana num mundo céptico que idolatrava a ciência.

Essa intenção pode ser ilustrada com o seguinte episódio. Em certa ocasião, Kant assistiu à palestra de um astrónomo materialista sobre o lugar do homem no universo. Quando o cientista concluiu a palestra com as palavras: "Assim, vemos que o homem é evidentemente insignificante em termos astronómicos", o filósofo levantou-se e disse: "Professor, o senhor esqueceu o mais importante: o homem é o astrónomo".

No entanto, mais do que qualquer outro pensador, foi ele quem impulsionou a deriva tipicamente moderna da objectividade para a subjectividade. Isso pode parecer bom até nos darmos conta de que implicava a redefinição da própria verdade como algo subjectivo. E as consequências dessa ideia têm sido catastróficas.

Quando conversamos com alguém que não crê, percebemos que o obstáculo mais comum à fé hoje em dia não é nenhuma dificuldade intelectual honesta (como o problema do mal ou o dogma da Trindade), mas a convicção de que a religião não pertence ao campo dos fatos nem das verdades objectivas. Assim, qualquer tentativa de tentar convencer outra pessoa de que a fé é verdadeira - objectivamente verdadeira, verdadeira para todos - passa a ser considerada de uma arrogância intolerável.

De acordo com essa mentalidade, a religião é teórica, não prática; tem a ver com valores, não com fatos; é subjectiva e privada, não objectiva e pública. O dogma seria um "extra", e um "extra" daninho, porque fomentaria o dogmatismo. Ou seja, a religião, no fundo, não passaria de uma ética. Além do mais, uma vez que a ética cristã é muito parecida com a ética das outras grandes religiões, pouco importaria se você é cristão ou não; o importante é ser "boa gente". (Geralmente, as pessoas que acreditam nisso também acham quase todo o mundo "boa gente", com excepção de Adolf Hitler e Charles Manson).

Kant é em larga medida responsável por essa maneira de pensar. Ele ajudou a enterrar a síntese medieval entre fé e razão, e descreveu a sua filosofia como "tirar do caminho as pretensões da razão para abrir espaço à fé", como se fé e razão fossem inimigas, não aliadas. Assim, consumou o divórcio entre fé e razão iniciado por Lutero.

O filósofo pensava que a religião jamais poderia ser objecto da razão - uma evidência, um argumento ou sequer um objecto de conhecimento -; deveria ser unicamente uma questão de sentimentos, de emoções e de atitudes. Esse postulado influenciou profundamente a maior parte dos educadores religiosos actuais (entre os quais redactores de catecismos e teólogos), que deixaram de lado a rocha-mãe da fé, os fatos objectivos narrados na Sagrada Escritura e resumidos no Credo dos Apóstolos. Fregueses da filosofia kantiana, divorciaram a fé da razão e casaram-na com a psicologia pop.

"Duas coisas me deixam maravilhado", confessou Kant certa vez: "o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim". Aquilo que maravilha um homem preenche o seu coração e dirige o seu pensamento. Reparemos que, entre as coisas que maravilham o filósofo, não estão Deus, Cristo, a Criação, a Encarnação, a Ressurreição e o Juízo, mas apenas "o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim".

"O céu estrelado" é o universo físico, tal como a ciência moderna o entende; e tudo o mais é relegado para o campo da subjectividade. Assim, a lei moral não estaria "fora", mas "dentro de mim"; não seria objectiva, mas subjectiva; enfim, não seria uma Lei Natural com certos e errados objectivos, mas uma lei feita por nós mesmos à qual escolhemos vincular-nos. (Mas será que estamos realmente vinculados quando só nos vinculamos a nós mesmos?) A Moral seria, portanto, apenas uma questão de intenção subjectiva; não teria qualquer conteúdo com excepção da Regra de Ouro* (o "imperativo categórico" de Kant).

--------------------------------------------

(*) A regra de ouro é considerada classicamente o princípio central de toda a ética. Na sua formulação negativa - "não farás aos outros aquilo que não queres que te façam" -, encontra-se em diversos pensadores de quase todos os povos. Cristo deu-lhe uma formulação positiva: Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles (Mt 7, 12) (N. do T.).

Se a lei moral veio de Deus e não do homem, o homem não seria livre no sentido de ser autónomo, o que é verdade. Mas, para Kant, o homem tem de ser autónomo, e portanto a lei moral não vem de Deus, e sim do próprio homem. Partindo da mesma premissa, a Igreja afirma que a lei moral realmente vem de Deus, e portanto que o homem não é autónomo; ele é livre para optar por obedecer-lhe ou não, mas não é livre para criar a lei.

Embora se considerasse cristão, o filósofo negou explicitamente que pudéssemos conhecer ao certo a existência (1) de Deus, (2) do livre arbítrio, e (3) da vida eterna. Disse que deveríamos viver como se essas ideias fossem verdadeiras, porque caso contrário não levaríamos a moral a sério. É essa justificação da fé por razões puramente práticas que constitui um erro terrível. Kant acredita em Deus não porque Ele exista, mas porque é útil. Se for assim, por que não acreditar no Pai Natal? Se eu fosse Deus, preferiria um ateu honesto a um deísta desonesto; e penso que Kant é um deísta desonesto, porque há apenas um único motivo honesto para acreditar seja no que for: o fato de essa coisa ser verdadeira.

Aqueles que tentam vender a fé cristã no sentido kantiano, como um "sistema de valores" em vez da verdade, têm fracassado geração após geração. Com tantos "sistemas de valores" no mercado, por que deveria alguém preferir a variante cristã a outras mais simples, com menos teologia e com uma moral mais fácil e menos inconveniente?

Com efeito, Kant fugiu da batalha ao bater em retirada do campo dos fatos. Acreditava no grande mito do século XVIII, o Iluminismo (nome irónico!). Acreditava que a ciência de Newton tinha vindo para ficar e que, para sobreviver, o cristianismo teria de encontrar um lugar na nova paisagem mental esboçada pela nova ciência. E o único lugar que lhe sobrava era a subjectividade.

Isso implica ou ignorar os acontecimentos sobrenaturais e miraculosos da história do cristianismo ou interpretá-los como mitos. A estratégia de Kant foi essencialmente a mesma que seguiria Rudolf Bultmann (1884-1976), o pai da "demitologização" e talvez o principal responsável pela perda da fé entre inúmeros universitários católicos. Muitos professores de teologia perfilham as suas teorias exegéticas, que reduzem os milagres contidos na Bíblia, relatados por testemunhas oculares, a simples "mitos", "valores" e "interpretações piedosas".

Com relação ao suposto conflito entre fé e razão, Bultmann disse: "A visão científica do mundo veio para ficar e fará valer os seus direitos contra qualquer teologia, por mais impositiva que seja, que venha a entrar em conflito com ela". Ironicamente, a "visão científica do mundo" oferecida pela física de Newton e aceita como absoluta e imutável por Kant e Bultmann é hoje quase universalmente rejeitada pelos próprios cientistas!

A questão básica de Kant era: Como podemos conhecer a verdade? Na sua juventude, aceitava a resposta racionalista de que conhecemos a verdade pelo intelecto, não pelos sentidos, e de que o intelecto possuía as suas próprias "ideias inatas". Mais tarde, leu o empirista David Hume, que, em palavras do próprio Kant, o "despertou do sono dogmático". Como outros empiristas, Hume acreditava que o homem só pode conhecer a verdade mediante os sentidos e que não existem "ideias inatas". Mas as premissas de Hume conduziram-no ao cepticismo, à negação de que seja possível conhecer a verdade com certeza. Kant considerou inaceitáveis tanto o "dogmatismo" racionalista como o cepticismo empirista e procurou uma terceira via.

Ora, havia uma terceira teoria disponível desde os tempos de Aristóteles: a filosofia do senso comum, que é o realismo. De acordo com o realismo, podemos conhecer a verdade por meio do intelecto e dos sentidos, desde que ambos trabalhem correctamente em conjunto, como as lâminas de uma tesoura. Em vez de voltar-se para o realismo tradicional, Kant inventou toda uma nova teoria do conhecimento, geralmente chamada idealismo. Considerava-a a sua "revolução copernicana na filosofia". Mas o nome mais simples para ela é subjectivismo, pois o que pretende é redefinir a própria verdade como subjectiva, não objectiva.

Todos os filósofos anteriores tinham dado por assente que a verdade é objectiva. Aliás, de acordo com o senso comum, é simplesmente isso o que queremos dizer ao falar de "verdade": conhecer o que realmente é, conformando a mente segundo a realidade objectiva. Alguns filósofos (os racionalistas) julgavam ser capazes de atingir essa meta apenas com a razão. Os primeiros empiristas (como Locke) julgavam que podiam atingi-la através dos sentidos. O empirista céptico Hume, posterior, julgava que não havia maneira alguma de atingir com certeza a verdade.

Kant negou a premissa comum a essas três filosofias concorrentes, ou seja, negou que a verdade devesse ser atingida, que a verdade significasse conformidade com a realidade objectiva. A "revolução copernicana" de Kant redefine o próprio conceito de verdade como realidade que se conforma segundo as nossas ideias. "Até hoje, sustentava-se que o nosso conhecimento devia adequar-se aos objectos [...]. Haverá mais progresso se assumirmos a hipótese contrária, de que são os objectos de pensamento que devem adequar-se ao nosso conhecimento".

Kant afirmou que todo o nosso conhecimento é subjectivo. Bem, essa afirmação é um conhecimento subjectivo? Se é, então o conhecimento desse fato também é subjectivo, et cetera, e todos estamos aprisionados num infinito salão de espelhos. A filosofia kantiana é perfeita para o inferno. É possível que os condenados creiam não estar realmente no inferno; seria apenas coisa da cabeça deles. E talvez seja isso mesmo: é possível que o inferno seja exactamente assim.

Peter Kreeft
Professor de Filosofia no Boston College. É autor de mais de uma dezena de livros de filosofia e apologética cristã.

Fonte: Site do autor
Link: http://www.peterkreeft.com
Retirado do Blog: http://www.casalfilosofos.blogspot.com/

"Tenham cuidado para que ninguém vos escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo" (Colossenses 2:8)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Deus é Bom ou Mau?

Como vimos na anterior postagem, o Universo revela uma inteligênçia acima de qualquer inteligênçia Humana, no entanto, o Ser Humano vê-se impelido a responder à pergunta da existênçia do mal, que é um contra-senso à existênçia de um ser inteligentíssimo bom! Por isso desde os primórdios da civilização até aos dias de hoje, existe uma doutrina chamada Gnose, que continua a influênçiar o pensamento do homem, que afirma que Deus, ou o criador do Universo é mau, assim sendo a criação também é má, contrariando a Bíblia que diz "E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom;" Génesis 1:31 Para resolver esta questão, primeiro precisamos saber o que é o Bem, e o que é o Mal, coisa que fazemos todos os dias com o nosso senso comum, como por exemplo ao avaliar a vista de um cego, dizemos que é má, ao contrário, a vista de uma pessoa que vê, é boa. Aqui mesmo, sem precebêmos, já dissémos o que é o bem e o que é o mal, de uma forma muita sintetizada, o Bem neste caso é a vista, e o mal é não ter vista, ou seja a existênçia da vista é um bem, comparado com a não existênçia da vista num determinado ser, nesta caso no homem, podia ser num animal qualquer, que era a mesma coisa.. assim concluíremos que é um bem a existênçia de uma determinada perfeição, como ouvir, sentir, cheirar, força, energia, podemos descer nas perfeições, mas concluíremos que é bom igualmente ter dinheiro, casa, carros, ou então subir nas perfeições e vêmos que também é bom sermos justos, inteligentes, corajosos, etc.. Assim vemos que existe uma hierarquia de Bens, o Homem como tendo mais perfeições do que um animal, pois este não é racional, o Homem em si é um bem maior, pois é um ente com mais perfeições, do que qualquer animal, é melhor ser Homem do que apenas animal, e assim São Tomás de Aquino chegou a Deus, o Ser por excelênçia no qual existem todas as perfeições, assim Deus é o Bem, pois é o que existe. Não podia ser o mal, pois o mal é o que não existe, e o que não existe jamais pode originar existênçia, assim não existe mal absoluto, porque o mal absoluto é nada, tudo o que chamámos de mal, como a cegueira, é apenas a falta de vista, falta deste bem, como são as trevas falta de luz, ou o frio falta de calor, etc.. Agora a existênçia do mal no nosso mundo que só pode ser mal relativo, existe devido ao livre Arbítrio que o Homem possui, e o mal(relativo) entra no mundo quando o Homem escolhe um bem menor do que um bem maior, assim quanto mais o Homem afasta-se do Bem por excelênçia, Deus, maior mal existirá no mundo, pois menores são os bens, longe de Deus. Por exemplo, sabemos que existe uma Lei Natural, e por existir é boa, mas quando o homem não obedece, como no caso dos homosexuais, a ordem do bem é de tal ordem violada, pois tamanha é a diferença do bem, entre as duas escolhas, que o mal feito é muito grande, e é assim entre muitos exemplos que o mal entra no mundo. Assim vemos que a criação é boa, porque existe, seria má se não existisse, mas não teria lógica porque não existiria no primeiro lugar. Agora a Gnose, crê num mundo dualista, com dois absolutos, o Bem e o Mal, sendo que o criador deste mundo era mau, criando-o para nos preendermos na matéria, no entanto nós evoluíriamos até alcançarmos a verdadeira divindade, se negássemos a verdade, a bondade, e a beleza deste mundo, porque este nos engana e nos prende. Mas como a recta razão diz e visto acima, isto são apenas fábulas, mas eles dizem que a razão também nos engana, pois é por meio dela que o Criador nos engana, e só nos libertaríamos pela a intuição e experiênçias 'místicas'. Agora só falta ver um ponto, porque Deus permitiu que o Mal entrasse no Mundo? Como diz Santo Agostinho "Do mal dos pecadores Deus extrai um bem maior" ou como um pintor utiliza o contraste das cores para destacar a sua obra, Deus utiliza-se do mal dos pecadores, para fazer sobressair os Bons! Assim nem os maus fogem à ordem querida por Deus.. pois são como fogo que purifica os Bons, como este purifica o Ouro!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O Homem pode conhecer Deus

"Porquanto, o que de Deus se pode conhecer está à vista deles, já que Deus lho manifestou. Com efeito, o que é invisível nele, o seu eterno poder e divindade - tornou-se visível à inteligênçia, desde a criação do mundo, nas suas obras. Por isso, não se podem desculpar." Romanos 1,19:20

Segundo a Bíblia, o Homem criado à imagem e semelhança de Deus, consegue por meio da sua inteligênçia chegar ao conhecimento de Deus, até ao ponto de não haver desculpa para quem o ignorasse. Pois o Homem, ser Racional, consegue entender a harmonia e ordem, como a beleza e o bem das coisas criadas, porque
"Deus tudo fez com medida, número e peso."(Sab. XI, 21) até ao ponto de Jesus dizer "Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados." (Mt 10.30.) , de tal modo é a Inteligênçia de Deus, que Albert Einstein disse "As leis do Universo revelam uma inteligênçia de uma tal superioridade, que comparado com ela todo o pensar humano é insignificante" e Prof. Plinio Correia de Oliveira ao louvar a sua sabedoria disse "Deus fez os astros suficentemente grandes para mostrar o seu poder, mas os colocou suficientemente distantes para que fossem proporcionais aos Homens, e assim mostrou a sua sabedoria." além de ser tudo belo, pois tudo tem medida e proporção como diz Santo Agostinho "Quando a razão percorre o céu e a terra, descobre que nada lhe agrada fora da beleza; e na beleza, as figuras; nas figuras as dimensões; nas dimensões os números" (cf. Santo Agostinho, "De Ordine", II, XV, 42). e Platão mostra no seu livro da República que os objectos tangíveis, são uma imagem do intangível, ele percebeu que o Sol falava de Deus, ao associá-lo à ideia de Bem, ele leu o universo pois este é como um livro que fala sobre o transcendente. Santo Tomás de Aquino seguindo os passos de Aristóteles, demostra através da razão que é possível provar a existênçia de Deus, com as suas famosas 5 vias que são o Primeiro Motor Imóvel, a Causa Primeira, Ser Necessário, Ser Perfeito e Inteligênçia Ordenadora. Como diz William Paley "Se alguém andando por um campo encontrar um relógio no chão, não lhe passará pela cabeça, que tenham sido as forças da natureza que o produziram. Atribuirá sua existênçia, sem sombra de dúvida ao trabalho de um relojoeiro e considerará de débil mental quem opte pela primeira hipótesse. Nesse relógio, cada peça tem sua função, e se uma só delas faltar ou estiver deslocada o relógio não funcionará correctamente. Ora a ordem do universo inaminado e dos seres vivos é incomensuravelmente mais complexa do que um relógio, logo um inteligênçia superior a desenhou".

"pela grandeza e formosura da criatura se pode visivelmente chegar ao conhecimento do seu criador" (Sab., XIII, 3 e 5)


sábado, 6 de junho de 2009

Vocação de Portugal

"E o homem Português?" De facto o homem português foi se moldando ao longo da sua história por interesses comuns, aspirações comuns sonhos comuns, foi sempre um povo, e só por isso que justifica a existência do Estado Português, e principalmente quis a providencia! Assim bradaram os nossos antepassados "Real ! Real ! Por Afonso, alto rei de Portugal!" em Ourique , depois da vitória impossível (D. Afonso Henriques, com 10.000 infantes e 1.000 cavalos, a 400.000 maometanos, isto pelo cômputo de quem mais abate este número, que outros o sobem a 600.000(1)) contra os inimigos da Cruz, representada na nossa bandeira pelas quinas!

Quis a providencia fundar Portugal "Sobre ti e tua descendência, estabelecerei um império meu, por cujo meio seja publicado o meu nome entre as Nações mais estranhas" (Cristo,Ourique) para levar fé a novos mundos, pois para Portugal "Ser Luz do mundo nos outros homens, é só privilégio da graça, nos portugueses é também obrigação da natureza(2)" mas uma vocação não nasce sem tremor, mas Deus a confirmou por meio de S. Nuno de Santa Maria, o Condestável, expulsando os Castelhanos, que não compreendem Portugal, pois "Deus quer, os homens sonham, a obra nasce!"(F. Pessoa) assim Portugal lançou-se na epopeia "Ó mar salgado, quanto de teu sal são lágrimas de Portugal ! Por ti Cruzarmos, quantas mães choraram, quantos filhos em vão rezaram,quantas noivas ficaram por casar para que tu fosses nosso, ó mar ! Valeu a pena ? Tudo vale a pena, se a alma não é pequena ! Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor ! Deus, ao mar, o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu!" (Fernando Pessoa, Mar Português) "E por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento, e tantas para a sepultura. Para nascer, pouca terra; para morrer toda a terra; para nascer Portugal, para morrer o mundo. Perguntai a vossos avós quantos saíram e quão poucos tornaram? Mas estes são os ossos de que mais se deve prezar o vosso sangue.(2)"
E Hoje, onde estão os ventos de Ourique, que levaram as caravelas a "dar novos mundos ao mundo(2)"com a Cruz nas suas frontes que Portugal tão heroicamente carregou, para a levar aos povos, pois nossa vocação é "Ser luz do mundo" pois já o nosso nome o diz "LUZitânios" assim seremos Portugueses, mas é este Portugal que hoje agoniza e com ele nós todos. Mas o Autor da Graça, convida-nos a combater, foi por isso que Nos deu as suas cinco chagas as suas cinco armas, as quinas que desde o nascimento de Portugal, as carrega para lutar contra os inimigos da Fé, assim se faz Portugal "Nascer pequeno e morrer grande, é chegar a ser homem(2)"

(1) http://ascruzadas.blogspot.com/2009/05/as-armas-portuguesas-contra-os.html
(2) P. António Vieira - Sermões de Santo António

(2) P. António Vieira - Sermões de Santo António

Juízo Final IV

Continuação do livro Juízo Final, capítulo as "As Querelas de Bizâncio ou o Retorno do Destino" parte IV e última parte.

Boa Leitura!


Para além de tudo, paira o problema mais grave. Assume maior seriedade, como se procurou sublinhar nas páginas que ficam para trás, a crise moral que os Portugueses atravessam, Como se manifesta? Por mil modos: pela recusa de ver os múltiplos perigos que os ameaçam; pela aceitação e procura constante da opção mais fácil; pela indiferença perante valores nacionais, sejam língua ou as fronteiras, sejam a cultura ou a história, sejam a própria soberania e a independência; pela convicção generalizada de que é irreversível e inevitável (como se em história houvesse o que quer que fosse de irreversível ou de inevitável, salvo o que depender de uma vontade firme) fazer o que os outros pretendem, ou legislam, ou recomendam; pela aplicação de conceitos que os grandes países imaginam ou propõem (mas que não aceitam para si mesmos); pela submissão passiva e inconsciente, e até alegre e eufórica aos interesses de terceiros (como se já fossem também os interesses dos Portugueses); pela insensibilidade perante quanto destrói ou pode destruir a raiz portuguesa e põe em causa o próprio cerne da nacionalidade; e enfim pela euforia, tão pueril quanto oportunista, tão crédula quanto materialista, com que se deixa arrastar na onda do internacionalismo, do integracionismo, na suposição de que os outros também o fazem, e sobretudo na crença de uma vida fácil e rica, que o será sempre e sem esforço, e seja qual for a origem da riqueza, seja qual for a subordinação criada. E neste transe os Portugueses parecem esquecer três aspectos fundamentais: Portugal não tem tipicidade suficiente para enfrentar sem defesa forças que atingem o seu cerne, e resistir-lhes, e sobreviver, continuando a ser Portugal; tem uma vulnerabilidade de interesses vitais que lhe consente apenas muito reduzido espaço de manobra, pelo que o seu comportamento perante terceiros tem que ser cauteloso e não pode sofrer desvios de monta; e não pode por isso cometer erros históricos, sob pena de ser esmagado e absorvido pelo turbilhão de forças exteriores. Tudo quanto Portugal perder, ou alienar, ou lhe for tomado, é irrecuperável: em termos territoriais, políticos ou económicos. Por outro lado, tanto que se prolonga esta viragem, de que se ocupam os Portugueses – na sua vida colectiva e na sua intervenção política? Afigura-se exacta esta síntese: empenhando-se em tudo que é imediato ou pessoal, ou de grupo, ou de partido; e transformando em problemas nacionais o que não passa de subtileza adjectiva. E deste modo parece de dizer que ou retornamos às raízes e retomamos a linha segura do nosso destino – ou seguimos pelo caminho de Bizâncio – substituindo os factos nossos pelos mitos dos outros.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Juízo Final III parte 2

Continuação do livro Juízo Final, capítulo as "As Querelas de Bizâncio ou o Retorno do Destino" parte III, parte 2 (devido ao tamanho)

Boa Leitura!

De passagem, os Bispos portugueses aludem à solidariedade europeia e à contribuição que Portugal pode dar. Depois sublinham: “Vamos ter necessidade de fazer um renovado esforço para avivar a consciência do valor insubstituível da nossa personalidade colectiva e do nosso património cultural: a história, a língua, a morigeração e o humanismo dos costumes, o folclore, o carácter hospitaleiro, a existência de uma larga rede de voluntariado patente na vida pastoral e em instituições como as Misericórdias e outras associações humanitárias: numa palavra, a nossa cultura e designadamente a nossa religião católica”. E depois, em resposta à carta pastoral dos Bispos comunitários, o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa sublinha aspectos que considera positivos – solidariedade entre países europeus, cooperação no plano tecnológico, outros ainda – e acentua seguidamente: “Não será sem riscos que se irá realizar a integração de Portugal (e de Espanha) na Comunidade Europeia”. Mais além. “Vós chamais com razão a atenção para o perigo que constitui para a nossa identidade nacional a entrada no Mercado Comum”. E todo o problema europeu é referido com mais pormenor em nota pastoral de Sua Eminência o Cardeal de Lisboa, Senhor Dom António Ribeiro, de 24 de Junho de 1985. Em súmula, que traços fundamentais foram destacados? Em primeiro lugar, qual o verdadeiro significado da unidade da Europa? Responde-se: “A Europa sonhada pela Igreja, a Europa sonhada pelos cristãos, não se limita a uma parte da Europa; é, sim, a Europa toda, na sua totalidade geográfica e na sua integridade humana e espiritual; nem se limita a algumas das experiências e organizações hoje existentes para prosseguir o ideal europeu, sem prejuízo do apreço que muitas delas merecem. Nesta perspectiva, as iniciativas de unidade europeia, que podem ser positivas, não observam nem esgotam a ideia e o ideal da Europa, que histórica e culturalmente abrange – e exige – a Europa Ocidental de S. Bento e a Europa Oriental evangelizada por S. Cirilo e S. Metódio, como vem acentuando o Papa João Paulo II. Nunca haverá verdadeira unidade europeia enquanto à Europa e aos seus valores faltar algum povo europeu, enquanto barreiras internacionais se erguerem entre os europeus”. Mais adiante, sublinha-se: “A unidade da Europa exige e determina, deste modo, a criação de um espaço comum de respeito pela vida, pela verdade, pela liberdade, pela solidariedade e pela justiça, no serviço das pessoas e da sua dignidade e na comunhão fraterna”. Depois: “O que não será possível enquanto, numa parte do continente, prevalecerem o materialismo prático e o egoísmo radical da civilização do prazer individualista, do bem-estar material ou da civilização do consumo e da libertinagem moral, numa sociedade alheia a valores éticos e, noutra parte, se afirmar a negação da liberdade religiosa, o totalitarismo do Estado, o materialismo militante ideologicamente imposto”. Mais além, a Nota Pastoral toca um ponto essencial: “A unidade da Europa não tem base geográfica, histórica, económica ou política, sem prejuízo da importância de tais dimensões”. E qual a grande divisão da Europa? Aquela que se produziu “entre os que se reclamam do Evangelho, consumada a partir da Reforma, foi o grande escândalo que dividiu entre si os Europeus”; e “refazer a unidade, no diálogo e na verdadeira fé, é assim caminho necessário da recristianização futura, reconstruindo acasa divida””. E torna-se assim mais clara a atitude que o Papa João Paulo II assumiu no final da década de oitenta e inícios da de noventa, e do papel decisivo que a Santa Sé Apostólica desempenhou no colapso ideológico da Europa de Leste.
Neste contexto, e quanto aos Portugueses, que nos ensina a Nota Pastoral? Logo em abertura, diz-nos isto: “Portugal é essencial à Europa e só no respeito dos valores nacionais contribuirá para a construção de uma Europa unida”. E não se pense que “alguns valores ou ideais da Comunidade virão substituir ou suprir os seus valores próprios. Sem dúvida, o diálogo de civilização e o intercâmbio cultural são importantes; mas devemos antes aprofundar as características peculiares da maneira de ser portuguesa e cultivar as nossas diferenças regionais, que só enriquecem o património comum”. E então sublinha a Nota Pastoral: “Para que assim suceda, e para que o choque dos próximos anos estimule em vez de estorvar ou destruir, é necessário cultivar as virtudes do patriotismo são, adequando os nossos valores tradicionais às necessidades do futuro”. Só “seremos bem a Europa e bem a construiremos se nela nos afirmamos como os portugueses que somos. A maior abertura ao exterior não pode traduzir-se na perda da capacidade de tomarmos decisões por nós mesmos e segundo os nossos critérios, com independência e originalidade. Erro grave seria pensar que uma maior integração europeia pode substituir as respostas nacionais; antes as reclama mais vincadas e pronunciadas. Erro seria também pensar que a Europa se constrói na uniformização, quando ela exige a afirmação concordante e harmoniosa das diversidades”. E os Portugueses são ainda prevenidos contra outros perigos. Designadamente a burocracia e o economicismo tecnocrático da Comunidade. E não devem os Portugueses estar na Europa sem “a definição clara dos projectos nacionais sem saber o que querermos só nos empobreceremos, a nós e à construção europeia; pois tais respostas, se não as encontrarmos, ninguém as dará”. E enfim “não deve esquecer-se que a actuação em Portugal das instâncias comunitárias dá voz suprema, em muitos domínios, a órgãos supranacionais. Acresce o risco de que a crise do sistema produtivo e o livre acesso à propriedade de bens de produção transfira largamente a propriedade e a decisão, em muitas unidades do sistema produtivo, para entidades estrangeiras ou multinacionais, frequentemente agindo fora do território português. A difícil compatibilidade dos interesses e do poder de decisão do povo português com situações de dependência coloca uma questão que tem de ser responsavelmente enfrentada. A cooperação internacional é um bem, mas só se for exercida – repetimos – no respeito pela identidade nacional”.