Continuação do livro Juízo Final, capítulo as "As Querelas de Bizâncio ou o Retorno do Destino" parte II
Boa Leitura
Em todos os tempos se atribuíram mitos os indivíduos, as sociedades, os povos, e não se eximiram a esta lei os Portugueses, nem tinham por que o fazer. É complexa a estrutura do mito, na sua origem e na sua expressão, e nenhum conceito seguro parece possível. É um sonho, ou desejo, ou anseio, ou esperança, ou expectativa de milagre; é um quadro que se concebe, por vezes de contornos vagos, e que é todo idealizado e construído pela imaginação, em torno de sentimentos, ou emoções, ou ambições, ou mesmo de fé religiosa; pode o mito ser erguido em redor ou a partir de um acontecimento real que depois é acrescentado, distorcido, embelezado, vendo-se nele virtualidades que não possui; os seus alicerces podem entroncar em lendas remotas, em mistérios, em fenómenos não verificados mas transmitidos como factos de geração em geração; e em qualquer caso há na aceitação do mito uma dádiva, uma entrega a forças transcendentes, não observáveis nem controláveis. De todos os mitos, talvez o mais arreigado e constante, para os Portugueses, haja sido o do sebastianismo, ainda que no decurso da história tomasse nomes diversos consoante épocas e sucessos. Diferente do mito é a mística. Esta pode também ser influenciada por aqueles pressupostos; mas vai além, e muito além. E em que consiste e como se manifesta? Pela valorização dos grandes símbolos nacionais (todos os países os possuem e valorizam), e que resultam da história; pela fé no destino próprio; pela vontade de cumprir esse destino, e de o defender; pelo sentido de dever e de missão; pela solidariedade; pela coragem serena em resistir; e rejeitar o que se oponha à afirmação nacional; e pelo cumprimento incondicional das obrigações cívicas e nacionais, por si mesmas e independentemente do que outros fizerem ou deixem de fazer. Este sentimento de mística, assim encarado, identifica-se com a nação, se a sociedade civil tem as características de um organismo saudável e activo; e atenua-se ou perde-se, em sociedades civis decadentes, que deixaram de acreditar em si mesmas. Neste ponto, como se comportam os Portugueses nesta transição de um milénio para outro? É facto consensual que a nação portuguesa atravessa crise profunda. Na origem desta encontramos a ruptura provocada, e que foi acaso pensada como um projecto. Ultrapassada essa fase, outros factores estão presentes neste final de século.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
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