quinta-feira, 4 de junho de 2009

Juízo Final III parte 2

Continuação do livro Juízo Final, capítulo as "As Querelas de Bizâncio ou o Retorno do Destino" parte III, parte 2 (devido ao tamanho)

Boa Leitura!

De passagem, os Bispos portugueses aludem à solidariedade europeia e à contribuição que Portugal pode dar. Depois sublinham: “Vamos ter necessidade de fazer um renovado esforço para avivar a consciência do valor insubstituível da nossa personalidade colectiva e do nosso património cultural: a história, a língua, a morigeração e o humanismo dos costumes, o folclore, o carácter hospitaleiro, a existência de uma larga rede de voluntariado patente na vida pastoral e em instituições como as Misericórdias e outras associações humanitárias: numa palavra, a nossa cultura e designadamente a nossa religião católica”. E depois, em resposta à carta pastoral dos Bispos comunitários, o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa sublinha aspectos que considera positivos – solidariedade entre países europeus, cooperação no plano tecnológico, outros ainda – e acentua seguidamente: “Não será sem riscos que se irá realizar a integração de Portugal (e de Espanha) na Comunidade Europeia”. Mais além. “Vós chamais com razão a atenção para o perigo que constitui para a nossa identidade nacional a entrada no Mercado Comum”. E todo o problema europeu é referido com mais pormenor em nota pastoral de Sua Eminência o Cardeal de Lisboa, Senhor Dom António Ribeiro, de 24 de Junho de 1985. Em súmula, que traços fundamentais foram destacados? Em primeiro lugar, qual o verdadeiro significado da unidade da Europa? Responde-se: “A Europa sonhada pela Igreja, a Europa sonhada pelos cristãos, não se limita a uma parte da Europa; é, sim, a Europa toda, na sua totalidade geográfica e na sua integridade humana e espiritual; nem se limita a algumas das experiências e organizações hoje existentes para prosseguir o ideal europeu, sem prejuízo do apreço que muitas delas merecem. Nesta perspectiva, as iniciativas de unidade europeia, que podem ser positivas, não observam nem esgotam a ideia e o ideal da Europa, que histórica e culturalmente abrange – e exige – a Europa Ocidental de S. Bento e a Europa Oriental evangelizada por S. Cirilo e S. Metódio, como vem acentuando o Papa João Paulo II. Nunca haverá verdadeira unidade europeia enquanto à Europa e aos seus valores faltar algum povo europeu, enquanto barreiras internacionais se erguerem entre os europeus”. Mais adiante, sublinha-se: “A unidade da Europa exige e determina, deste modo, a criação de um espaço comum de respeito pela vida, pela verdade, pela liberdade, pela solidariedade e pela justiça, no serviço das pessoas e da sua dignidade e na comunhão fraterna”. Depois: “O que não será possível enquanto, numa parte do continente, prevalecerem o materialismo prático e o egoísmo radical da civilização do prazer individualista, do bem-estar material ou da civilização do consumo e da libertinagem moral, numa sociedade alheia a valores éticos e, noutra parte, se afirmar a negação da liberdade religiosa, o totalitarismo do Estado, o materialismo militante ideologicamente imposto”. Mais além, a Nota Pastoral toca um ponto essencial: “A unidade da Europa não tem base geográfica, histórica, económica ou política, sem prejuízo da importância de tais dimensões”. E qual a grande divisão da Europa? Aquela que se produziu “entre os que se reclamam do Evangelho, consumada a partir da Reforma, foi o grande escândalo que dividiu entre si os Europeus”; e “refazer a unidade, no diálogo e na verdadeira fé, é assim caminho necessário da recristianização futura, reconstruindo acasa divida””. E torna-se assim mais clara a atitude que o Papa João Paulo II assumiu no final da década de oitenta e inícios da de noventa, e do papel decisivo que a Santa Sé Apostólica desempenhou no colapso ideológico da Europa de Leste.
Neste contexto, e quanto aos Portugueses, que nos ensina a Nota Pastoral? Logo em abertura, diz-nos isto: “Portugal é essencial à Europa e só no respeito dos valores nacionais contribuirá para a construção de uma Europa unida”. E não se pense que “alguns valores ou ideais da Comunidade virão substituir ou suprir os seus valores próprios. Sem dúvida, o diálogo de civilização e o intercâmbio cultural são importantes; mas devemos antes aprofundar as características peculiares da maneira de ser portuguesa e cultivar as nossas diferenças regionais, que só enriquecem o património comum”. E então sublinha a Nota Pastoral: “Para que assim suceda, e para que o choque dos próximos anos estimule em vez de estorvar ou destruir, é necessário cultivar as virtudes do patriotismo são, adequando os nossos valores tradicionais às necessidades do futuro”. Só “seremos bem a Europa e bem a construiremos se nela nos afirmamos como os portugueses que somos. A maior abertura ao exterior não pode traduzir-se na perda da capacidade de tomarmos decisões por nós mesmos e segundo os nossos critérios, com independência e originalidade. Erro grave seria pensar que uma maior integração europeia pode substituir as respostas nacionais; antes as reclama mais vincadas e pronunciadas. Erro seria também pensar que a Europa se constrói na uniformização, quando ela exige a afirmação concordante e harmoniosa das diversidades”. E os Portugueses são ainda prevenidos contra outros perigos. Designadamente a burocracia e o economicismo tecnocrático da Comunidade. E não devem os Portugueses estar na Europa sem “a definição clara dos projectos nacionais sem saber o que querermos só nos empobreceremos, a nós e à construção europeia; pois tais respostas, se não as encontrarmos, ninguém as dará”. E enfim “não deve esquecer-se que a actuação em Portugal das instâncias comunitárias dá voz suprema, em muitos domínios, a órgãos supranacionais. Acresce o risco de que a crise do sistema produtivo e o livre acesso à propriedade de bens de produção transfira largamente a propriedade e a decisão, em muitas unidades do sistema produtivo, para entidades estrangeiras ou multinacionais, frequentemente agindo fora do território português. A difícil compatibilidade dos interesses e do poder de decisão do povo português com situações de dependência coloca uma questão que tem de ser responsavelmente enfrentada. A cooperação internacional é um bem, mas só se for exercida – repetimos – no respeito pela identidade nacional”.


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