sexta-feira, 26 de junho de 2009

Sereis como Deuses? II

Como já tinha escrito, a Gnose e o Panteísmo, são antagónicos, e dialécticos, na medida que cada um leva ao outro, assim torna-se como uma prisão para o Homem! Mas qual a razão do homem, cair então nestes dois ramos de pensamento, que o aprisionam! Antes de qualquer coisa, podemos tentar perceber a predisposição do homem ao aderir a estes dois sistemas, antes de entrámos nas questões filosóficas! Como já disse, quando falei da Gnose, o homem 'odeia' o Mundo, e por meio deste 'odeia' o Criador, esta é a consequência final da Gnose no Homem, mas também de certeza foi o motivo inicial que os Homens tiveram, ao construíram o sistema Gnóstico, e por isso a conclusão é aquela (A Gnose é Dualista, para ela existem dois absolutos, o Bem e o Mal). Mas além disso, aos afirmarem o mal do universo, indicam o caminho para se unirem à divindade boa, libertando-se das prisões que a Divindade má fez para o homem, ou seja, para ele tudo o que é bom é mau, e tudo o que é mau, é bom, assim não libertariam a substancia divina contida no ser humano pela razão, mas sim por experiências irracionais.
No Panteísmo ao contrário da Gnose, está mais em foco a divindade da natureza, a nossa divindade, aqui o homem atiçado pelo o orgulho e soberba e por amor injusto a si mesmo, começou a conceber a natureza como Deus e por consequência nós próprios seríamos Deus.
Sabemos que a cobiça, escureceu a razão de Adão e Eva, assim os defeitos que apontei em cima, predispõem o Homem a aniquilar a sua razão, para ser como Deus, apesar na prática afastar-se mais, como aconteceu com Adão e Eva, e hoje a nossa sociedade comprova. Vimos o que poderá levar o homem a predispor a trancar-se nesta prisão, agora iremos ver o porquê de trancar-se, pois este tenta sempre justificar-se antes e depois de fazer o mal. Assim o principal problema que a razão Humana encontra e talvez o mais importante, e que origina todos estes problemas na harmonização, entre matéria e a consciênçia ou alma, entre o empirismo e idealismo, entre razão e fé, entre moral e felicidade, entre outros muitos problemas deste tipo, dialécticos... é a questão primeira da harmonia entre o universal e o particular, há muito discutida pelos filósofos.
Não que a razão humana seja incapaz de a resolver, no entanto o homem como já vimos obscurece a razão, primeiramente antes, para buscar uma mentira atiçada pela cobiça "Sereis como Deuses", e depois para se justificar do mal que ele fez, no entanto esta questão há muito que foi resolvida!

Artigo retirado do site da Montfort, sobre a Pseudo-Solução do problema dos Universais e as suas consequências, e a sua solução!

O nominalismo
O nominalismo é uma pseudo-solução para o problema dos universais. Segundo Aristóteles: “Há coisas universais e coisas particulares, e denomino universal isso cuja natureza é a de ser afirmada de vários sujeitos, e de particular o que não pode tal, por exemplo, homem é um termo universal, e Cálias um termo singular.”.[27] Ou seja, existem indivíduos e universais, sendo que esses últimos podem ser afirmados de vários indivíduos. Por exemplo: existe o indivíduo Lulu, o cachorrinho de minha vizinha, mas existe também ‘cachorro’, que no meu intelecto é um conceito universal, embora exista em Lulu, em Rex e em qualquer outro cão. É evidente que todos nós utilizamos o tempo todo termos universais e particulares. Todavia, passando um pouco além dessa evidência, surge uma dificuldade. Como afirmam Aristóteles e os tomistas: tudo que é real é individual. Portanto, o universal pelo seu carácter de generalidade não parece corresponder a nada de real. Neste sentido é que surge a famosa pergunta feita por Porfírio no Isagogo: os universais são realidades em si mesmas, ou apenas simples concepções do intelecto? Simplificando: quando dizemos ‘homem’ (universal), isso que dissemos existe realmente ou apenas no meu pensamento?
A – Solução
Para compreendermos melhor o nominalismo e suas consequências, é importante expormos rapidamente a solução da dificuldade apresentada acima.
A resposta a essa questão de Porfírio não poderia ser mais evidente. O que dissemos (‘homem’) existe realmente, porém, individualizado. Como explica Joseph Kleutgen S.J: “L’universel est défini par Aristote, et avec raison, tantôt comme l’un qui peut être énoncé de beaucoup, tantôt comme l’un qui peut exister en beaucoup d’individus. (...) Dans la première definition, Aristote parle, par conséquent, de l’universel logique, tandis que, dans la seconde, il a en vue l’universel métaphysique. Or il est évident que, d’après cette définition, l’universel n’existe pas seulemnt dans nos représentations, mais encore dans les choses.”.[28][O universal é definido por Aristóteles, e com razão, tanto como algo que pode ser enunciado de muitos, como algo que pode existir em muitos indivíduos. (...) Na primeira definição, Aristóteles fala, por consequência, do universal lógico, ao passo que na segunda, ele tem em vista o universal metafísico. Ora, é evidente que, segundo esta definição, o universal não existe somente nas nossas representações, mas também nas coisas]. Portanto, o universal ‘homem’ que existe em nosso intelecto, é o mesmo que existe em Pedro, José ou Francisco. Contudo, em Pedro ele existe com as determinações particulares de Pedro, as quais o individualizam.
Esse fato torna-se mais evidente quando consideramos a verdade de nossas afirmações. Uma proposição é verdadeira quando diz o que a coisa é. Por exemplo, pego algo e digo: isto é um lápis. A minha afirmação é verdadeira, obviamente, se o objecto que estou segurando for realmente um lápis. Se digo ‘isto é um lápis.’, enquanto considero uma galinha que seguro entre as mãos, certamente estou louco ou mentindo. E não adianta tentar escrever com a galinha ou almoçar o lápis, pois isso só confirmaria minha loucura. Para que eu não passe por lunático ou por mentiroso, devo saber que, quando afirmo ‘é’, expresso uma identidade; aquilo que existe em meu intelecto de modo imaterial (universal) é o que está individualizado pela matéria no objecto. Por exemplo, consideremos o termo universal ‘homem’. Se afirmo ‘Pedro é homem.’, indico que fora de mim existe ‘homem’. Isso é evidente. Se negássemos essa evidência, e disséssemos que esse universal (‘homem’) não existe realmente em Pedro, nossa primeira afirmação seria mentirosa ou louca, visto que atribuímos existência a algo que só existiria em nosso intelecto. Desse modo, nós jamais poderíamos dizer ‘é’, chegando assim à negação do conhecimento humano. Ora, como podemos perceber, isso é um absurdo. É preciso deixar claro que quando digo ‘é’, indico algo real, existente em acto. Logo, os universais existem no intelecto e nas coisas; no intelecto existem sem as determinações particulares da matéria, nas coisas são individualizados por elas.
B – Pseudo-solução nominalista
Para os nominalistas, entretanto, o universal não passa de um nome. Os universais seriam apenas termos inventados pelo nosso intelecto para abarcar um grupo de indivíduos. Para Guilherme de Ockham, o pai do nominalismo moderno: “... o único real é o particular, ou, as únicas substâncias são as coisas individuais e suas propriedades. O universal existe na alma do sujeito cognoscitivo, e somente nela. Teremos de nos perguntar em que medida podemos atribuir-lhe uma existência no pensamento, mas deve-se colocar, de fato, que não há nenhuma espécie de existência fora do pensamento: omnis res positiva extra animam eo ipso est singularis.”[29] Poderíamos afirmar que as “ideias gerais são palavras arbitrariamente escolhidas para designar as coisas”[30], mas não passam disso.
Certamente, a muitos parecerá que tais questões filosóficas, muito abstractas e difíceis, têm pouca importância para nossa vida prática. Ledo engano. Os princípios que surgem desses problemas são os fundamentos de uma visão de mundo. Ora, mudando-se a visão de mundo dos homens, muda-se também a vida dos homens.
C – As Consequências
O nominalismo pode nos levar a consequências bem graves. Tomemos, para facilitar a explicação, um princípio qualquer das ciências naturais. Por exemplo: todo corpo tende a permanecer parado ou em movimento a não ser que receba alguma força. Este é – simplificando – o famoso princípio da inércia de Isaac Newton. Consideremos essa afirmação. Notemos, por exemplo, os termos ‘corpo’ e ‘força’. Evidentemente, estes são termos universais. Sendo assim, uma questão se impõe: se eles só existem no intelecto e não na realidade, como esse princípio poderia ser uma explicação do mundo? Ele versaria apenas sobre ideias criadas pelo sujeito e não sobre as coisas do mundo.
Com efeito, para Ockham e os nominalistas, “os géneros e espécies não são nada fora do pensamento.”.[31] Ora, se não há na realidade algo que é comum a diversos indivíduos, ou seja, o universal, os temos universais não corresponderiam a nada real. O homem permaneceria preso em sua subjectividade e não conheceria o mundo.
Podemos notar, deste modo, que o nominalismo nos abre um caminho lógico tanto para o subjectivismo quanto para o idealismo. É verdade que Ockham afirmava a existência dos indivíduos externos ao ‘eu’, declarando, entretanto, que a “única realidade que corresponde aos universais é, pois, a dos indivíduos.”.[32] Sendo assim, Ockham defende a existência de indivíduos, mas identificando-os com os universais. Eis aí um dos grandes equívocos do nominalismo. Para Ockham, então, nosso intelecto teria a função de relacionar as imagens dos indivíduos percebidos pelos sentidos, ou melhor, os objectos de nossa inteligência não seriam os universais, mas os particulares. Ora, isso é confundir percepção sensível e imaginação – coisas puramente materiais –com conhecimento intelectual![33] Deste modo, vemos como o nominalismo também pode levar ao materialismo, negado a espiritualidade da alma e fazendo do homem um ser puramente material. Exactamente por isso, ao estudar o nominalismo chega-se à conclusão de que essa “théorie sur l’origine des idées ressemble beaucoup au matérialisme des philosophes grecs.” [essa teoria a respeito da origem das idéias se assemelha muito ao materialismo dos filósofos gregos].[34]
Poderíamos, assim, identificar algumas consequências mais imediatas do nominalismo:
A) As ideias, isto é, os universais, seriam invenções do intelecto (subjectivismo).
B) O idealismo.
C) O materialismo. [35]
D) O cepticismo.
É certo que o idealismo, negando o conhecimento do mundo, já poderia ser tomado por pai do ceticismo. Contudo, embora o nominalismo conduza logicamente ao idealismo, não é uma afirmação explicita do mesmo, sendo também susceptível de um desenvolvimento materialista. Todavia, como o que nos interessa nesse artigo são os fundamentos do iluminismo, que é tido como racionalista, cientificista e materialista, importa-nos saber como o materialismo leva ao cepticismo.
Para compreendermos bem como o materialismo leva ao cepticismo, é importante que saibamos o que é o conhecimento científico. Podemos definir ciência como: “o conhecimento certo das coisas pelas suas causas.”[36] Vejamos um caso concreto. Vendo um corpo que em um determinado momento estava em repouso e depois se encontra em movimento, posso concluir que ele recebeu uma força para executar esse movimento, pois do contrário ele permaneceria imóvel. Portanto, posso afirmar que o movimento ocorre por causa de uma força e isso não poderia ser de outra maneira, sendo necessário que esse corpo para se mover tenha recebido uma força. Quando eu raciocino dessa forma, conhecendo e explicando o movimento pela sua causa e verificando a necessidade desse fato, eu conheço cientificamente o movimento. Eu conheço, como Newton, a lei da inércia. Essa lei serve para todo corpo, independente de eu ter contacto experimental ou não com ele; basta ser corpo para estar submetido a essa lei.
Agora vejamos. Todo meu raciocínio, toda minha explicação e mesmo a própria definição da lei física em questão, são formados por universais (‘corpo’, ‘força’, ‘movimento’ etc.). Ora, como para os nominalistas os universais são apenas sinais que fazem, no discurso, às vezes dos indivíduos que percebemos pelos sentidos, essa relação universal de causa e efeito, que estabeleço na lei física, não existe realmente. Essa relação foi perceptível sensivelmente nas experiências que tive, mas só nelas, pois eu só percebo indivíduos, e por isso não posso nunca afirmar que o que aconteceu nessa experiência acontecerá com outros indivíduos. Como estes indivíduos não possuem natureza comum, ou seja, como não há universal existente no indivíduo, a relação de causa e efeito é uma verificação experimental, mas, cessada a experiência, essa relação não pode ser atribuída a outros indivíduos.[37]
Como nos lembra Gilson, analisando a doutrina de Nicolau de Autrecourt, discípulo de Ockham: “Uma vez terminada a constatação experimental, resta a simples probabilidade de que os mesmos efeitos se reproduzirão se as mesmas condições forem de novo dadas.”.[38] Para Nicolau: “A proposição ‘aproximo o fogo da palha e não há nenhum obstáculo, logo a palha pegará fogo’, não é evidente: é apenas uma probabilidade baseada na experiência.”.[39] A ciência, portanto, apresenta-se como uma mera descrição e enumeração de eventos individuais particulares, mas não como conhecimento das coisas pelas causas.
É certo, portanto, que essa confusão nominalista entre sensibilidade e conhecimento intelectual, negando o conhecimento intelectual e reduzindo o homem a um simples animal provido apenas de experiência sensível, conduz ao materialismo e ao cepticismo.
Alguém, diante de nossa exposição tão sucinta e esquemática, poderia ter dificuldade para compreender como um mesmo princípio poderia levar a doutrinas opostas como idealismo e materialismo. Erwin Panofsky, analisando essa questão, faz um comentário que poderia ajudar-nos na compreensão do problema. Segundo ele:

manifesta-se aí novamente o eterno problema do empirismo: já que a qualidade do ‘real’ só se aplica ao âmbito do que pode ser apreendido pelas notitia intuitiva, isto é, às coisas individuais directamente percebidas pelos sentidos e aos estados e processos psíquicos específicos (alegria, tristeza, querer, etc.), que se conhece pela experiência interior, então tudo o que é real, a saber, o mundo dos objectos físicos e o mundo dos objectos psíquicos, jamais poderá ser racional, ao passo que tudo o que é racional, a saber, os conceitos que se extraem desses dois âmbitos, através da notitia abstractiva, jamais poderá ser real. É por isso que todas as questões metafísicas e teológicas – inclusive a existência de Deus, a imortalidade da alma e, pelo menos em um caso (Nicolau de Autrecourt), mesmo o problema de causalidade – só podem ser discutidas com base no conceito de probabilidade.”.[40]
O nominalismo estabelece uma separação absurda entre o ‘eu’ com suas ideias e o mundo externo dos indivíduos. Diante de tal problema, diferentes pessoas, de caracteres diferentes e graus de compreensões distintos, poderiam optar pelo mundo do ‘eu’ ou pelo mundo dos indivíduos. Num caso seria idealista, no outro materialista. Mas em ambos casos seria céptica.


http://montfort.org.br/index.php?secao=cadernos&subsecao=religiao&artigo=iluminismo&lang=bra

Assim como vimos, neste artigo a pseudo solução dos universais, o Nominalismo tanto leva ao Idealismo como ao Empirismo, tanto o idealismo pode representar a Gnose, pois ambos negam a realidade e por isso acabam por ser irracionais. E por outro lado o Empirismo representa o Panteísmo ao virar-se para natureza negando o universal submete o ser à razão e por isso racionalista, mas as duas incapazes de satisfazer o homem, e por isso também são dialécticas, pois um empirista ao negar a capacidade do homem de conhecer o universal, apenas o particular, impossibilitando o conhecimento do mundo como está explicado no artigo em cima, o homem vira-se para o seu 'Eu', para o seu mundo que acaba por transformar-se numa realidade subjectiva pois separada do particular, e por este próprio motivo um idealista afasta-se da realidade podendo voltar outra vez para o empirismo, e assim dialecticamente o homem fica prisioneiro. O idealismo não corresponde à realidade, o Empirismo aniquila a verdade submetendo a realidade da existência do mundo à razão, e assim destroem toda a harmonia do mundo, a harmonia do homem, ao separar a razão da realidade, por isso, como diz o artigo são ambas cépticas!

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