sábado, 6 de junho de 2009

Juízo Final IV

Continuação do livro Juízo Final, capítulo as "As Querelas de Bizâncio ou o Retorno do Destino" parte IV e última parte.

Boa Leitura!


Para além de tudo, paira o problema mais grave. Assume maior seriedade, como se procurou sublinhar nas páginas que ficam para trás, a crise moral que os Portugueses atravessam, Como se manifesta? Por mil modos: pela recusa de ver os múltiplos perigos que os ameaçam; pela aceitação e procura constante da opção mais fácil; pela indiferença perante valores nacionais, sejam língua ou as fronteiras, sejam a cultura ou a história, sejam a própria soberania e a independência; pela convicção generalizada de que é irreversível e inevitável (como se em história houvesse o que quer que fosse de irreversível ou de inevitável, salvo o que depender de uma vontade firme) fazer o que os outros pretendem, ou legislam, ou recomendam; pela aplicação de conceitos que os grandes países imaginam ou propõem (mas que não aceitam para si mesmos); pela submissão passiva e inconsciente, e até alegre e eufórica aos interesses de terceiros (como se já fossem também os interesses dos Portugueses); pela insensibilidade perante quanto destrói ou pode destruir a raiz portuguesa e põe em causa o próprio cerne da nacionalidade; e enfim pela euforia, tão pueril quanto oportunista, tão crédula quanto materialista, com que se deixa arrastar na onda do internacionalismo, do integracionismo, na suposição de que os outros também o fazem, e sobretudo na crença de uma vida fácil e rica, que o será sempre e sem esforço, e seja qual for a origem da riqueza, seja qual for a subordinação criada. E neste transe os Portugueses parecem esquecer três aspectos fundamentais: Portugal não tem tipicidade suficiente para enfrentar sem defesa forças que atingem o seu cerne, e resistir-lhes, e sobreviver, continuando a ser Portugal; tem uma vulnerabilidade de interesses vitais que lhe consente apenas muito reduzido espaço de manobra, pelo que o seu comportamento perante terceiros tem que ser cauteloso e não pode sofrer desvios de monta; e não pode por isso cometer erros históricos, sob pena de ser esmagado e absorvido pelo turbilhão de forças exteriores. Tudo quanto Portugal perder, ou alienar, ou lhe for tomado, é irrecuperável: em termos territoriais, políticos ou económicos. Por outro lado, tanto que se prolonga esta viragem, de que se ocupam os Portugueses – na sua vida colectiva e na sua intervenção política? Afigura-se exacta esta síntese: empenhando-se em tudo que é imediato ou pessoal, ou de grupo, ou de partido; e transformando em problemas nacionais o que não passa de subtileza adjectiva. E deste modo parece de dizer que ou retornamos às raízes e retomamos a linha segura do nosso destino – ou seguimos pelo caminho de Bizâncio – substituindo os factos nossos pelos mitos dos outros.

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